SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.23 número2Os técnicos de saúde e a sexualidade dos doentes oncológicos: Atitudes, crenças e intenções comportamentaisAtitudes e comportamentos sexuais de mulheres universitárias: A hipótese do duplo padrão sexual índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Análise Psicológica

versão impressa ISSN 0870-8231

Aná. Psicológica v.23 n.2 Lisboa abr. 2005

 

Comportamentos de consumo de haxixe e saúde mental em adolescentes: Estudo comparativo (*)

 

 

ANA SOFIA SILVA (**)

ALBERTO AFONSO DE DEUS (***)

 

 

RESUMO

O presente estudo teve como objectivos avaliar a situação acerca dos comportamentos de consumo de haxixe, em adolescentes inseridos em meio escolar, estudar a influência de variáveis como, a situação famíliar, o grau de influência do grupo de pares nas decisões e as expectativas, no início e na manutenção do consumo daquela substância. Pretendeu-se ainda avaliar a existência ou não de relações entre este consumo e a saúde mental dos adolescentes.

Os participantes foram 221 adolescentes de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 13 e os 17 anos e que frequentavam entre o 8.º ano e o 10.º ano de escolaridade, do ensino regular diurno, em escolas dos arredores de Lisboa.

Como instrumentos de medida, construiu-se um questionário (Questionário sobre Comportamentos de Consumo de Haxixe), baseado num já existente para avaliar o consumo de álcool, que depois de ser sujeito a pré-teste, foi administrado juntamente com a adaptação para a população portuguesa do Mental Health Inventory, o Inventário de Saúde Mental.

Os resultados mostraram que a maioria dos jovens não consome haxixe (n=181; 81,9%). Daqueles que o fazem (n=40; 18,1%), 42,5% são consumidores experimentais, 27,5% são ocasionais, 20% são habituais e 10% são abusivos. A maioria (27,5%) afirma ter tido a sua primeira experiência com o haxixe aos 13 anos, sendo os motivos principais do consumo a procura de relaxamento (31,3%) e de diversão (36,8%). Os amigos da mesma idade são os principais companheiros de consumo (62,0%), sendo a rua o local eleito pela maioria para o mesmo (51,0%).

Quando comparados os dois grupos de participantes (consumidores versus não consumidores), verificou-se que, no grupo de consumidores existe uma tendência para a escolaridade se apresentar afectada (40% reprovaram), com as reprovações a surgirem em maior número a partir do 9.º ano de escolaridade (12,5%; 16,7% no 10.º ano). Quanto à situação familiar verificou-se a existência de uma maior percentagem de pais de consumidores que se encontram separados (15,0%) ou divorciados (25,0%). Expectativas de maior descontração com consequente aumento da diversão (p=.000), de menor nervosismo (p=.000) e de o haxixe ser menos prejudicial do que o tabaco (p=.005), foram altas nos consumidores. Este grupo classifica o haxixe como uma droga leve (72,5%) ou como não sendo uma droga (27,5%), sendo o principal motivo que apresentam para se consumir, a diversão (55.0%). As diferenças entre os dois grupos quanto à influência da idade e do grupo de pares nas decisões e/ou actos, foram estatisticamente significativas (p=.007 e p=.042, respectivamente).

Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos quanto à saúde mental.

De tudo isto se conclui que a frequência de utilização desta substância e o significado que ela tem, difere de jovem para jovem. Torna-se importante levar em consideração este facto e, nesta base, delinear programas de prevenção que promovam o diálogo entre os pais e o adolescente, a resiliência deste e as suas competências sociais, com direcção ao bem-estar e a um crescimento saudável.

Palavras-chave: Adolescência, saúde mental, haxixe, expectativas, drogas leves/pesadas.

 

 

ABSTRACT

The present study had the intent to evaluate the situation concerning the behaviors of consumption of hashish, in adolescents who attended school, to study the influence of variables such as, family situation, degree of influence of the group of pairs in decisions, and expectancies, in the beginning and in maintenance of the consumption of that substance. It was still intended to evaluate the existence or not of relationships between this consumption and the adolescents’mental health.

The participants were 221 adolescents of both sexes, with ages between 13 and 17 years old, and that frequented between 8th and 10th, in schools of the surroundings of Lisbon.

As measure instruments, it was built a questionnaire (Questionário sobre Comportamentos de Consumo de Haxixe), based on one already existent to evaluate the consumption of alcohol, that after being subject to a pre-test, it was administered together with the adaptation for the portuguese population of the Mental Health Inventory, the Inventário de Saúde Mental.

The results showed that most of the youths doesn’t consume hashish (n=181; 81,9%). Of those that do (n=40; 18,1%), 42,5% do an experimental consume, 27,5% an occasional, 20% a habitual and 10% an abusive. Most (27,5%) of them affirms to have had his/her first experience with hashish at 13 years old, being the main reasons for consumption the search of relaxation (31,3%) and of amusement (36,8%). Friends of the same age are the main consumption companions (62,0%), being the street the elected place for most to consume (51,0%).

When compared the two groups of participants (consumers versus no consumers), it was verified that, in the consumers’ group a tendency exists to school become afected (40% reproved), with the dissaprovals appearing in larger number at 9th (12,5%; 16,7% in 10th). As for the family situation, it was verified the existence of a larger percentage of consumers’ parents that are separate (15,0%) or divorced (25,0%). Expectations of larger relaxation with consequent increase of amusement (p=.000), of smaller nervousness (p=.000) and of the hashish to be less harmful than tobacco (p=.005), were high in the consumers. This group classifies the hashish as a light drug (72,5%) or as not being a drug at all (27,5%), being the main reason for consume, amusement (55.0%). The differences among the two groups for the influence of age and group of pairs in decisions and/or acts, were statistically significant (p=.007 and p=.042, respectively).

There weren’t found differences statistically significant among the two groups as for mental health.

To conclude, frequency of use of this substance and the meaning that she has, differs. It becomes important to take in consideration this fact and, on this base, delineate prevention programs that promote dialogue among parents and adolescents, their resilience and their social competences, in direction to well-being and to a healthy growth.

Key words: Adolescence, mental health, hashish, expectancies, light/hard drugs.

 

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Baldwin, A. (1993). To drink or not to drink: The differential role of alcohol expectancies and drinking refusal self-efficacy in quantity and frequency of alcohol consumption. Cognitive Therapy and Research, 17 (6), 511-530.         [ Links ]

Braconnier, A., & Marcelli, D. (2000). As mil faces da adolescência. Lisboa: Climepsi Editores.         [ Links ]

Chabrol, H., Massot, E., Montovany, A., Chouicha, K., & Armitage, J. (2002). Patterns of use, cannabis beliefs and dependence: study of 159 adolescent users. Archives Pediatrics, 9 (8), 780-800.         [ Links ]

Cordeiro, D. (1975). O adolescente e a família. Lisboa: Moraes Editores.         [ Links ]

Cordeiro, D. (1988). Os adolescentes por dentro. Lisboa: Ed. Salamandra.         [ Links ]

Crumley, F. (1982). The adolescent suicide attempt: A cardinal symptom of a serious psychiatric disorder. American Journal of Psychotherapy, 28 (3), 36-158.         [ Links ]

Defer, B. (1992). Les troubles mentaux provoqués par l’usage prolongé du cannabis. Paris: Editions Techniques.

Dias, C. A., & Vicente, N. (1979). A depressão no adolescente. Relatório apresentado no I Congresso Português de Psiquiatria da Adolescência, Figueira da Foz.         [ Links ]

Dias, C. A. (1982). Os modelos de angústia e depressão na problemática da adolescência. Psicologia, 3 (1/2), 183-192.         [ Links ]

Dias, C. A., & Nunes Vicente, T. (1984). A Depressão no adolescente. Porto: Afrontamento.         [ Links ]

Dias, C. A. (1995). (A) re-pensar. Porto: Afrontamento.         [ Links ]

Diatkine, R. (1974). L’adolescent et l’usage des drogues. Point de vue psychologique. L’information Psychiatrique, 86, 694-696.

Figueiredo, R. M. (2002). Prevenção ao abuso de drogas em acções de saúde e educação. Uma abordagem sócio-cultural e de redução de danos. São Paulo: NEPAIDS.         [ Links ]

Fleming, M., Figueiredo, E., Vicente, S., & Sousa, A. (1988). Consumo de drogas ilícitas e factores de risco em adolescentes em meio escolar. Psicologia, 6 (3), 431-437.         [ Links ]

Fonseca, A. (1989). Adolescentes escolarizados no concelho de Portimão. Uso de drogas: relação com a escola, a família, o meio. Anais Portugueses de Saúde Mental, 5 (5), 15-32.         [ Links ]

Frasquilho, M. A. (1996). Comportamentos-problema em adolescentes: Factores protectores e educação para a saúde. O caso da toxicodependência. Lisboa: Laboterapia.         [ Links ]

Fréjaville, J., Davidson, F., & Choquet, M. (1977). Os jovens e a droga. Porto: Rés Editora.         [ Links ]

Freud, A. (1965). Normality and pathology in childhood. New York: FUP.         [ Links ]

Fuller, P., & Cavanaugh, R. (1995). Basic assessment and screening for substance abuse in the pediatrician’s office. Pediatric Clinique, 42 (2), 295-307.

Geada, M. (1996). Mecanismos de defesa e de coping e níveis de saúde em adultos. Análise Psicológica, 14, 191-201.         [ Links ]

Godot, T. (1992). Cannabis et pharmacopsychoses. Paris: Payot.         [ Links ]

Graciani, M. A., Lasheras, M. L., Cruz, J. J., & Calero, J. R. (1998). Estudio de encuestas en adolescentes y jóvenes sobre conductas en salud. Tarbiya, 20, 21-28.         [ Links ]

Green, L., & Kreuter, M. W. (1991). Health promotion planning: an educational and environmental approach (2nd ed.). London: Mayfield.         [ Links ]

Grinspoon, L., & Bakalar, J. (1993). Marihuana: La medecina prohibida. Madrid: Transiciones.         [ Links ]

Hollister, L. E. (1986). Health aspects of cannabis. Pharmacological Revue, 38, 1-20.         [ Links ]

Jeammet, P. (1991). Les enjeux des identifications à l’adolescence. Journal de la Psychanalyse de l’Enfant, 10, 141-163.

Marques, M. E. (1999). A Psicologia clinica e o Rorschach. Lisboa: Climepsi Editores.         [ Links ]

Matos, A. C. (2002). Adolescência. Lisboa: Climepsi Editores.         [ Links ]

Matos, M. G., Simões, C., Carvalhosa, S. F., Reis, C., & Canha, L. (2000). A saúde dos adolescentes portugueses: Estudo nacional da rede europeia HBSC/OMS (1998). Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana.         [ Links ]

Miller, L., & Branconnier, R. (1983). Cannabis: effects on memory and cholinergic limbic system. Psychological Bulletim, 93, 441-456.         [ Links ]

National Institute on Drug Abuse (NIDA). Marijuana: Facts for teens. Documento electrónico pesquisado a 23/01/2003 em: http://www.nida.gov         [ Links ]

Pinto, M. (2003, 24 de Fevereiro). Circuito de haxixe aumenta junto de escolas do grande Porto. Jornal O Comércio do Porto, p. 6.         [ Links ]

Ribeiro, J. L. P. (1998). Psicologia e saúde. Lisboa: ISPA.        [ Links ]

Ribeiro, J. L. P. (1999). Investigação e avaliação em psicologia da saúde. Lisboa: Climepsi Editores.         [ Links ]

Ribeiro, J. L. P. (2001). Mental Health Inventory: Um estudo de adaptação. Hospitalidade, 2 (1), 77-99.         [ Links ]

Richard, D., & Senon, J. L. (1995). Cannabis: Revisão bibliográfica geral. Toxicodependências, 3, 61-91.         [ Links ]

Schwartz, R. (1990). Heavy marijuana use and recent memory impairment. Advances in the Biosciences, 80, 13-21.         [ Links ]

Soulé, M. (1974). Les toxicomanies chez les jeunes. L’Information Psychiatrique, 86, 690-692.

Valle, J. (1966). Estudos sobre cânhamo ou maconha. S. Paulo: Ed. Ágora.         [ Links ]

Weintraub, M. (1995). Sonhos e sombras: A realidade da maconha. S. Paulo: Ed. Harper & Row.         [ Links ]

Young, E. (2002). Cannabis smoking’ more harmful’ than tobacco. Documento electrónico pesquisado a 29/01/2003 em: http://www.newscientist.com

 

 

(*) Artigo baseado na Monografia de Licenciatura em Psicologia do primeiro autor, sob orientação do segundo autor. Qualquer questão relativa ao artigo deve ser dirigida para sofia-silva@netcabo.pt

(**) Psicóloga.

(***) Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa.

 

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons