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Análise Psicológica

versão impressa ISSN 0870-8231

Aná. Psicológica v.22 n.3 Lisboa set. 2004

 

PÂNICO. DA COMPREENSÃO AO TRATAMENTO (2004) - José Pinto Gouveia, Serafim Carvalho, & Lígia Fonseca. Lisboa: Climepsi Editores, Colecção Manuais Universitários 32, 282 pp.

 

A ansiedade patológica é uma manifestação frequente em muitas perturbações psiquiátricas e, ao mesmo tempo, é uma manifestação principal nas perturbações de ansiedade propriamente ditas. Entre estas, a perturbação de pânico é uma das mais frequentes e geradora de sofrimento e graus diversos de incapacidade, particularmente em indivíduos jovens. A sua característica principal é a presença de crises recorrentes de ansiedade grave e intensa (ataques de pânico) não relacionadas com situações ou circunstâncias concretas. A sua prevalência oscila entre os 2 e os 3% da população geral, com idade de início entre os 25 e 30 anos e distribuição mais frequente no sexo feminino do que no masculino numa proporção de 2:1.

É sobre a perturbação de pânico que trata este livro da autoria de José Pinto Gouveia (psiquiatra, Hospitais da Universidade de Coimbra e FPCE da Univ. Coimbra), Serafim Carvalho (psiquiatra, Hospital Magalhães Lemos, Porto) e Lígia Margarida Fonseca (psicóloga, psicoterapeuta cognitivo-comportamental), cuja finalidade é divulgar o estado actual dos conhecimentos sobre o pânico, quer junto dos indivíduos que sofrem com este tipo de perturbação, quer entre os técnicos de saúde. Pelas suas características fundamentalmente técnicas, é um livro claramente dirigido aos técnicos e, muito menos, ao público em geral. Ou seja, cumpre excepcionalmente bem enquanto manual sobre a perturbação de pânico dirigido e médicos, psicólogos e outros técnicos de saúde mas está longe de ser uma obra de divulgação junto do grande público e, muito menos, um manual de auto-ajuda para indivíduos que sofram com essa perturbação.

Sendo uma obra que faltava em língua portuguesa, está organizada em 9 capítulos que proporcionam uma revisão bastante completa e actualizada de vários aspectos, a saber:

No primeiro capítulo os autores apresentam aspectos históricos da perturbação de pânico, mostrando como as designações das categorias psicopatológicas têm estado na dependência dos contextos sociais e culturais onde emergem.

No segundo capítulo são abordados critérios de diagnóstico e classificação, com destaque para uma análise cuidadosa da comorbilidade com a perturbação de pânico.

No terceiro capítulo os autores abordam a importância clínica da perturbação de pânico, enquanto no quarto capítulo descrevem detalhadamente o quadro clínico e o curso da perturbação, bem como as modalidades evolutivas para depressão, agorafobia, hipocondria e abuso de substâncias.

No quinto capítulo são estudados os aspectos relacionados com a avaliação clínica, incluindo as tarefas de diagnóstico diferencial e o recurso a escalas de avaliação muito úteis no estudo de casos.

No sexto e sétimo capítulos os autores desenvolvem os modelos teóricos sobre o pânico, respectivamente os modelos biológicos e psicológicos. Entre estes últimos é dado um desenvolvimento muito aprofundado dos modelos cognitivos.

Nos oitavo e nono capítulos são abordados, respectivamente, os tratamentos biológicos e psicológicos da perturbação de pânico, de uma forma clara e bastante útil para a prática clínica.

Finalmente, o livro termina com um décimo capítulo sobre a perturbação de pânico nos cuidados de saúde primários que, embora curto, inclui instrumentos interessantes para o diagnóstico precoce e para a intervenção terapêutica.

Pela descrição dos conteúdos da obra pode verificar-se que se trata de uma publicação exaustiva sobre a perturbação de pânico, que assume a forma de revisão da literatura especializada e actualizada, em relação à qual se percebe que foi feita por autores com experiência clínica sólida. Suplanta largamente algumas publicações do género sobre a mesma temática (Klergman e col., 1993; Massana, 1997; Nutt, 1999; Ros & Lupresti, 1999; Ruiz e col., 2001; Zal, 1990, entre outros). Mostra uma preocupação central com a clínica, quer no plano do rigor do diagnóstico quer da intervenção terapêutica. Os diferentes tipos de tratamentos (biológicos e psicológicos) estão solidamente contextualizados nos modelos teóricos respectivos, elucidando bastante bem os objectivos e aplicabilidade dos protocolos de tratamento cognitivo-comportamental que, como se sabe, são praticamente indispensáveis na intervenção com indivíduos com perturbação de pânico. Pena não discutir a psicoterapia de apoio, não referir a perspectiva existencial nem a utilidade dos grupos de ajuda mútua como métodos complementares utilizados nalguns países para indivíduos com perturbação de pânico.

Trata-se de uma obra muito útil para a prática clínica, especialmente para psiquiatras e psicólogos.

 

José A. Carvalho Teixeira

 

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