SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.17 número2Learning complex historical knowledge at high school: The role of working memoryContextos sociais de desenvolvimento das atribuições causais: O papel do nível socio-económico e da raça índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Análise Psicológica

versão impressa ISSN 0870-8231

Aná. Psicológica v.17 n.2 Lisboa  1999

 

O perigo das palavras: Uma lição de Wittgenstein para psicólogos e educadores (*)

 

Orlando Lourenço(**)

 

RESUMO

Psicólogos e educadores esquecem com frequência a mensagem profunda contida na ideia de Wittgenstein de que «devemos passar em silêncio sobre aquilo de que não sabemos falar». Nesta apresentação, eu mostro que os psicólogos (e os educadores) tendem a cair (a) na falácia dos alquimistas (i.e., a usar termos obscuros pensando que assim obtêm um insight mais profundo); (b) na falácia do médico de Molière (i.e., a recorrer araciocínio tautológico e circular; (c) na falácia do «hipopótamo que falta» (i.e., a acrescentar aditamentos a uma proposição inicial que não pode ser verificada nem refutada); (d) na falácia de Van Helmont (i.e., a não levar em conta factores desconhecidos cuja influência é marcante); e (d) na falácia dos sentidos Pickwickianos (i.e., a assumir que os seus alunos ou sujeitos de pesquisa atribuem a vários termos o mesmo sentido que eles lhes atribuem). Em consequência destas falácias, o campo da Psicologia (e das Ciências da Educação) está poluído com muitas publicações e distorções indesejáveis, confusões conceptuais inaceitáveis, e uma mistura de jogos de linguagem que deixa sem fundamento muitos dos seus conceitos. Para remediar este estado de coisas, psicólogos (e educadores) precisam de aprender a lição que há um tempo e um lugar para as palavras, mas também um tempo e um lugar para o silêncio. Além de apelar para um exercício de rigor no trabalho científico (e pedagógico), a mensagem de Wittgenstein contém uma dimensão ética que interessa explorar e pôr em prática.

Palavras-chave: Falácias, psicologia e educação.

 

ABSTRACT

Psychologists (and educationists) often forget Wittgenstein's deep message that «what we cannot speak about we must pass over in silence». In this talk, I argue that psychologists (and educationists) tend to fall prey to (a) the «fallacy of the alchemists», viz., to use obscure terms and thereby think that one has obtained a deeper insight; (b) the «fallacy of Molière's physician», viz., to resort to circular or tautological reasoning; (c) the «fallacy of the missing hyppopotamus», viz., to add provisos to an initial proposition that can neither be verified nor refuted; (d) «Van Helmont's fallacy», viz., not to take into account the influence of important variables on the occurrence of certain results; and (d) «the fallacy of Pickwickian senses», viz., to assume that their students or experimental subjects share the meaning they attribute to several words. As a consequence of these fallacies, too many dispensable publications and distortions, conceptual confusions, and ungrounded concepts polute both Psychology and Educational Sciences. To remedy such state of affairs, psychologists and educationists need to learn that there is a time and a place for words, but also a time and a place for silence. Besides appealing to an exercice of radical rigor in our scientific and educational work, Wittgenstein's message contains also an ethical dimension that deserves to be explored and put into practice.

Key words: Fallacies, psychology and education.

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bruner, J. (1977). The process of education (2nd ed). Cambridge, MA: Harvard University Press.

        [ Links ]

Bruner, J. (1990). Acts of meaning. Cambridge, MA: Harvard University Press.

Chapman, M., & Dixon, R. (Eds.) (1987). Meaning and the growth of understanding. Berlin: Spring-Verlag.

Drury, M. (1973). The danger of words. London: Rout-ledge & Paul Kegan.

Gardner, H. (1983). Frames of mind: The theory of multiple intelligences. New York: Basic Books.

Geertz, C. (1997). Learning with Bruner. New York Review of Books, 44 (6), 22-24.

Gelman, R., & Baillargeon, R. (1983). A review of some Piagerian concepts. In P. Mussen (Ed.), Handbook of child psychology (Vol. 4, pp. 167-230). New York: Wiley.

Karmiloff-Smith, A. (1992). Beyond modularity. Cambridge Massachusetts: The MIT Press.

Koch, S. (1981). The nature and limits of psychological knowledge: Lessons of a century qua «science». American Psychologist, 36, 257-269.

Lourenço, O., & Machado, A. (1996). In defense of Pia-get's theory: A reply to 10 common criticisms. Psychological Review, 103, 143-164.

Lourenço, O. (1998). Transgressores felizes e infelizes na compreensão das emoções morais na criança. Revista de Psicologia, Educação e Cultura, 2, 241-261.

Machado, A., Lourenço, O., & Silva, F. (1988). Factual, functional, and conceptual investigations: The shape of psychology's epistemic triangle (artigo submetido para publicação).

Malcolm, N. (1970). Wittgenstein on the nature of mind. In N. Rescher (Ed.), Studies in the theory of knowledge. American Philosophical Quarterly: Monograph series. Monograph No.4 (pp. 9-29). Oxford: Basil Blackwell.

Malcolm, M. (1995). Wittgensteinian themes. Cornell University Press.

Meehl, P. (1978). Theoretical risks and tabular asterisks: Sir Karl, Sir Ronald, and the slow progress of soft psychology. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 46, 806-834.

Pascual-Leone, J. (1995). Learning and development as dialectical factors in cognitive growth. Human Development, 38, 338-348.

Scarr, S. (1997). Toward a free market in research ideas. Observer, 19 (3), 32-33 Siegal, M. (1997). Knowing children (2nd ed.). Sussex: Psychology Press.

Siegal, M., & Beattie, K. (1991). Where to look first for children's knowledge of false beliefs. Cognition, 38, 1-12.

Silva Neto, N. (1998). Facing the unavoidable metaphysics: Notes on the work of Maurice Drury and the psychiatric vocabulary. In Wittgenstein Studies. DLWG (no prelo).

Smith, J., & Baltes, P. (1990). Wisdom-related knowledge: Age/cohort differences in response to life planning problems. Developmental Psychology, 26, 494-505.

Wittgenstein, L. (1958). Philosophical investigations. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall.

Wittgenstein, L. (1961). Tractatus logico-philosophi-cus. London: Routledge.

Zeaman, D. (1959). Skinner's theory of teaching machines. In E. Galanter (Ed.), Automatic teaching: The state of art (pp. 167-176). New York: Wiley.

 

(*) Este artigo é a versão de uma comunicação apresentada nas Terceiras Jornadas Psicopedagógicas de Gaia (Colégio dos Carvalhos, 1-2 de Dezembro de 1998). Contém, por isso, marcas de oralidade resultantes da sua apresentação inicial.

A segunda parte desta apresentação é uma síntese muito abreviada de um artigo de autoria de Armando Machado (Universidade de Indiana, EUA), Orlando Lourenço (Universidade de Lisboa) e Francisco Silva (Universidade de Redlands, EUA) e submetido para publicação ao Psychonomic Bulletin and Review, com o título de Factual, Functional, and Conceptual Investigations: The Shape of Psychology's Epistemic Triangle.

Correspondência referente a este texto deve ser endereçada a Orlando Lourenço, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Alameda da Universidade, 1600 Lisboa (E-mail: Orlando@fc.ul.pt).

(**) Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade de Lisboa.

 

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons