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Análise Psicológica

versão impressa ISSN 0870-8231

Aná. Psicológica v.16 n.4 Lisboa dez. 1998

 

Manual De Psicología De La Salud. Fundamentos, Metodología y Aplicaciones (1999) - Miguel Angel Simón (Ed.) (805 pp.). Madrid: Editorial Biblioteca Nueva, Psicología Universidad.

 

Estudando o comportamento humano no contexto da saúde, a psicologia da saúde tem sido uma das áreas científicas da psicologia que conheceu grande desenvolvimento nos últimos anos. Este desenvolvimento associa-se ao reconhecimento de que a ciência psicológica tem papel importante na compreensão e resolução de problemas de saúde, dando resposta aos novos desafios que são colocados pelo desenvolvimento da ciência médica e pelas novas modalidades de prestação de cuidados de saúde. Resulta daqui a necessidade de formar especialistas que, com formação específica, possam integrar-se nas equipas de saúde e ocupar-se das contribuições específicas da psicologia para a promoção da saúde, prevenção da doença, adaptação à doença, etc. Neste âmbito, não é de estranhar que, em diferentes países, se multipliquem as iniciativas editoriais na área da psicologia da saúde.

Este manual, publicado em 1999, foi editado por Miguel Angel Simón, professor catedrático de psicologia da saúde na Universidad de La Coruña (Espanha), que já em 1993 editara um outro manual (Psicología de la Salud. Aplicaciones clínicas y estrategias de intervención. Madrid: Pirâmide, Psicología) e que tem desenvolvido intensa actividade de investigação no âmbito da utilização de técnicas psicológicas no tratamento de vários problemas de saúde.

Trata-se de um manual de psicologia da saúde com grande interesse para profissionais e estudantes, que nele encontram respostas para um número muito significativo de aplicações da intervenção psicológica em saúde. Para além do próprio editor, Miguel Angel Simón (Universidad de La Coruña, Espanha), participaram na redacção dos diferentes capítulos numerosos especialistas, tanto em aspectos conceptuais e metodológicos como nas áreas de intervenção mais actuais. Destaque para Jesús Rodríguez-Marín (Universidad Miguel Hernández, Espanha), Ramon Bayés (Universidad Autónoma de Barcelona, Espanha), Gualberto Buela-Casal (Universidad de Granada, Espanha), Frank Andrasik (University of West Florida, USA), Frank Donker (St. Joseph Hospital, Eindhoven, Holanda), Stephen Haynes (University of Hawai at Manoa, USA), Alan Peterson (Lakenheath Hospital, Reino Unido), John Otis (University of Florida, USA), Elise Labbé (University of South Alabama, USA), Juan Godoy (Universidad de Granada, Espanha), Bernardo Moreno-Jiménez (Universidad Autónoma de Madrid, Espanha), entre outros.

Este manual é composto de 3 partes, a saber: fundamentos da psicologia da saúde, metodologia e aplicações práticas.

Na primeira parte o leitor pode ter acesso a um conjunto variado de temas essenciais que constituem fundamentos da psicologia da saúde, para além de uma panorâmica geral da psicologia da saúde em Espanha: delimitação do conceito, desenvolvimento cognitivo, saúde e doença, psiconeuro-imunologia, contribuições da psicologia para a qualidade de vida relacionada com a doença e linhas de investigação actuais.

Há nesta primeira parte um enquadramento geral dos fundamentos da psicologia da saúde, nomeadamente sobre aspectos básicos da saúde e das modalidades de intervenção que permitem aos psicólogos contribuir para a promoção e educação para a saúde, melhoria da qualidade de vida relacionada com a doença e, até, relações interprofissionais.

Salientam-se aqui 2 capítulos. Em primeiro lugar, o redigido por Juan Godoy sobre a delimitação do conceito de psicologia da saúde, que é extraordinariamente claro na conceptualização do que é a psicologia da saúde e na sua delimitação em relação à psicologia clínica, medicina comportamental e psicologia comunitária, além de sistematizar as estratégias de intervenção nos programas de promoção da saúde e de apresentar um apêndice no qual, de forma exaustiva, lista as principais áreas de aplicação da psicologia da saúde. Em segundo lugar, salienta-se o capítulo sobre linhas actuais de investigação, redigido por Diego Macià Antón e Franscisco Xavier Mendez (Universidad de Murcia, Espanha), que constitui a agenda da investigação psicológica em saúde mais completa e actualizada até agora publicada, incluindo até as questões relacionadas com a contribuição para a melhoria do sistema de saúde. Em conjunto com um anexo sobre fontes documentais em psicologia da saúde (livros de texto, revistas especializadas, centros de informação e documentação científica, Internet, etc.), da auto-ria do próprio Miguel Angel Simón, constituem 2 textos essenciais para quem deseje implementar e orientar projectos de investigação.

Na segunda parte encontram-se vários capítulos sobre aspectos metodológicos, entre os quais sobre estratégias de investigação, métodos epidemiológicos, análise de dados, avaliação de programas e, ainda, princípios gerais e fundamentos empíricos e conceptuais da avaliação em psicologia da saúde. Difícil ser mais completo. Neste particular, o manual dá resposta a qualquer dúvida metodológica que se coloque aos investigadores.

Na terceira parte deste manual são tratadas as aplicações, entre as quais se destacam: preparação psicológica para ressonância magnética, perturbações do sono relacionados com a respiração, diabetes, cancro, dor crónica, perturbações temporomandibulares, asma brônquica, infecção VIH/SIDA, cefaleias, sindroma do pavimento pélvico espástico, doenças inflamatórias intestinais e stress ocupacional dos técnicos de saúde. Todos os capítulos são orientados por uma perspectiva teórico-prática e prática que faz com que o livro seja um verdadeiro manual para a intervenção, essencial para o psicólogo que trabalha em serviços de saúde.

Não subsistem dúvidas que este manual, que tem prefácio de Michael Mahoney (University of North Texas, USA), dá a devida importância à influência do comportamento na saúde e na doença e enfatiza de forma clara e adequada o papel e o valor da psicologia na compreensão e na resolução dos problemas de saúde.

Do meu ponto de vista, que tive o privilégio de ter sido convidado para redigir o capítulo sobre VIH/ /SIDA e, ao mesmo tempo, ser o único colaborador português deste manual, julgo que poderia ter ido um pouco mais longe, especialmente porque não aprofunda aspectos relacionados com a intervenção em programas de educação para a saúde e de mudança de comportamentos de saúde. Embora compreendendo que numa obra deste tipo há que fazer opções, julgo que teria valido a pena rever modelos que enquadram a mudança de atitudes e comportamentos relacionados com a saúde (crenças de saúde, teoria da acção racional, auto-eficácia, etc.) e que são de grande importância na perspectiva da prevenção primária. Igualmente, ainda na perspectiva dos cuidados primários de saúde poderia incluir aspectos da intervenção em áreas específicas (saúde infantil, saúde do idoso, saúde materna, saúde escolar, etc.). Neste aspecto, a terceira parte do manual, que trata das aplicações práticas, além de não incluir um capítulo sobre a intervenção na saúde cárdiovascular (doença coronária, hipertensão arterial, etc.) nem abordar outros procedimentos médicos indutores de stress para além da ressonância magnética, poderia ter contemplado mais as questões práticas da intervenção em programas de promoção da saúde e prevenção da doença.

Para ser completo, só faltaria a este manual abordar os problemas de adesão em saúde, o trabalho do psicólogo em equipas de saúde, questões éticas e deontológicas específicas da intervenção psicológica em saúde, processos de informação e comunicação em saúde e, final-mente, identidade de género em psicologia da saúde. No plano metodológico não terá sido dada a devida relevância às metodologias de análise do discurso em psicologia da saúde, que tão prometedoras parecem após os trabalhos de Lucy Yardley, Michael Murray e outros.

Dir-se-ia que é fácil fazer críticas depois da obra acabada. Seja como for, este manual editado por Miguel Angel Simón, juntamente com os textos de E. Sarafino (1990), J. Sweet (1991), L. Brannon & J. Feist (1992), R. Dantzer & M. Bruchon-Schweitzer (1994), A. J. Goreczny (1995), S. E. Taylor (1995), A. Baum (1996) e J. Ogden (1996), faz parte dos livros que podem e devem ser recomendados aos estudantes pré e pós-graduados, bem como aos profissionais já integrados em serviços de saúde. O manual fornece-lhes as contribuições específicas da psicologia para a saúde e os cuidados de saúde.

 

José A. Carvalho Teixeira

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