SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.15 número4Sexo do julgador, educação formal em Direito, e decisão penal: O caso do processo-crime de violação frustrada envolvendo assimetria de estatutoPor que não uma abordagem praxeológica?! índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Análise Psicológica

versão impressa ISSN 0870-8231

Aná. Psicológica v.15 n.4 Lisboa dez. 1997

 

Identidades sociais e representações sociais dos adolescentes acerca da SIDA

 

Maria Gouveia Pereira (*)

Virgílio Amaral (*)

Susana Soares (**)

 

 

RESUMO

O objectivo desta investigação é estudar as representações sociais dos adolescentes acerca da sida e a maneira como as referidas representações são influenciadas pela identificação social dos adolescentes. Relativamente às representações sociais estuda-se a ancoragem sociológica (na variável sexo), seguindo as ideias de Doise (1992), segundo o qual as posições que os sujeitos ocupam nas relações sociais que partilham influenciam a formação de representações. Estuda-se também a ancoragem psicossociológica: nas representações das relações intergrupais pela activação das categorias: heterossexuais, homossexuais e toxicodependentes, em consignes apropriadas. Induzindo-se assim, à evocação da relação seja com um grupo não considerado de risco – heterossexuais, seja com grupos considerados de risco – homossexuais e toxicodependentes.

É objectivo deste trabalho estudar a influência das identidades nas representações sociais, de acordo com Vala (1990) as identidades sociais condicionam e explicam as representações sociais que os indivíduos formam sobre determinado objecto, investiga-se que variáveis (sexo, distâncias aos grupos – ingroup (amigos) e outgroups (homossexuais e toxicodependentes)) são preditoras das representações dos adolescentes acerca da sida, em adolescentes com alta identificação ao grupo dos amigos e em adolescentes com baixa identificação ao mesmo grupo.

A amostra do estudo é constituída por 300 adolescentes entre os 14 e os 17 anos; 150 adolescentes do sexo feminino e 150 adolescentes do sexo masculino.

Foi aplicado um questionário constituído por uma parte de identificação social (operacionalizada através das distâncias euclidianas: self-ingroup; self-outgroup) e uma segunda de representações acerca da sida. Esta segunda parte do questionário inicia-se com uma pequena história sobre um sujeito infectado com o vírus da sida, o sujeito é em cada história homossexual, heterossexual ou toxicodependente. Cada uma das histórias foi apresentada a 100 adolescentes (50 adolescentes do sexo feminino e 50 do sexo masculino).

As representações que os adolescentes deste estudo têm acerca da sida reenviam para dimensões como: contágio por contacto social, grupos de risco, contágio por via sexual, discriminação e relações intergrupais e grupos marginais.

De certo modo, estas dimensões reenviam para uma organização das representações da sida segundo o modelo corporalista (Deschamps e outros, 1992). Quer no modelo, quer nas representações dos nossos adolescentes, é sobrevalorizado o contágio da doença através do contacto social, de fluidos corporais e ainda a associação a grupos ditos de risco.

Quando se articula as identidades dos adolescentes com as representações acerca da sida, verificou-se que, os adolescentes com alta identificação ao grupo dos amigos, não os consideram um grupo com comportamentos de risco e com possibilidade de contágio. Para os adolescentes que se identificam menos com o grupo dos amigos, o grupo dos homossexuais é aquele que explica, quer as dimensões contágio por contacto social e relações intergrupais, quer as dimensões grupos de risco e discriminação.

Os resultados revelam indicadores diferenciadores na organização da representação sobre a sida entre adolescentes do sexo masculino e feminino e com alta e baixa identificação ao grupo de amigos. Estes resultados deverão ser tidos em consideração na prevenção da sida.

 

Palavras-chave: Adolescência, representações sociais, identidades sociais, Sida.

 

 

ABSTRACT

The porpose of this investigation is to study the adolescent's social representations about aids, and how the adolescent's social identification can influence them.

About social representations we study sociological ancorage (variable sex), following the ideas of Doise (1992), who says that the positions that subjects have in social relations influence the formation of representations. We also study the psychological ancorage (representation of intergroup relations) by activating the categories of: heterosexuals, homosexuals and drugs addicted, in appropriate sentences; bringing to mind the relations with a non risky group (heterosexuals) and with groups thought as risky (homosexuals and drug addicted).

The goal of this investigation is to study the influence of identities in social representations, according to Vala (1990) social identities influence and explain the subject's social representation of some object; we study which variables (sex, distances to groups - ingroup (friends) and outgroups (homosexuals and drug addicted)) predict adolescent's representations about aids, studying adolescents with high identification and adolescents with low identification to their friends.

The subjects of this study are 300 adolescents with ages between 14 and 17 years old; 150 of adolescents are girls and 150 are boys.

The questionnaire is divided in two parts, one about social identification (studying Euclidean distances between self - ingroup and self - outgroup) and a second part about aids representations. This second part of the questionnaire begins with a little story about a subject infected with aids, the subject is homosexual, heterosexual or drug addicted in each story. Each story was given to read to 100 adolescents, 50 girls and 50 boys.

The adolescent's representations of this study link to dimensions as: infection by social contact, risky groups, infection by sexual relations, discrimination and intergroup relations and border groups.

This dimensions link with a model of aids representations organisation according to Deschamps and others (1992). In this model and in our adolescents representations about aids, the infection by social contact, body fluids and the link with risky groups are increased.

When we articulate adolescents identity with aids representation, we verify that adolescents with high identification to their friends don't think them as having risky conducts or being infected. For the adolescents that identify less with their friends, the homosexual group is the one that explains the dimensions about infection by social contact, intergroup relations, risky groups and discrimination. The results reveal differences between girls and boys and also between adolescents with high and low identification to their friend, regarding the organisation of aids representations. This results should be considered in aids prevention.

 

Key words: Adolescence, social representations, social identities, AIDS.

 

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bosma, H., & Jackson, S. (1990). Coping and self-con-cept in adolescence. New York: Springer-Verlag.         [ Links ]

Breakwell, G. (1993). Integrating paradigms, methodological implications. In G. Breakwell, & D. Canter (Eds.), Empirical approaches to social representations (pp. 181-201). Oxford: Claredon Press.

Caetano, M. (1993). SIDA actual e perspectivas futuras. Conferência apresentada na sessão de apresentação da Fundação Portuguesa «A Comunidade Contra a Sida», Lisboa: Fundação Portuguesa da Luta Contra a Sida.

Coleman, J. C. (1980). Friendship and peer group in adolescence. In J. Adelson (Ed.), Handbook of adolescent psychology. New York: Wiley.

Coleman, J. C. (1992). The school years. Current issues in the socialization of young people (2.ª ed.). London e New York: Routledge.

Deschamps, J.-Cl. (1982). Differentiation entre soi et autri et entre groupes. In J. P. Codol, & J. P. Leyens (Eds.), Cognitive analysis of social behavior. The Hague: Martinus Nijhoff Publishers.

Deschamps, J.-Cl., Comby, L., & Devos, T. (1992). Explication quotidienne et SIDA. Lausanne: Université de Lausanne.

Doise, W. (1992). L' ancrage dans les études su les représentations sociales. Bulletin de Psychologie, 45, 189-195.

Gouveia Pereira, M. (1995). A percepção do papel do grupo de pares nas tarefas de desenvolvimento em adolescentes e pais. Tese de Mestrado em Psicologia Educacional, Lisboa, Instituto Superior de Psicologia Aplicada.

Gouveia Pereira, M., & Amaral, V. (1995). Questionário sobre as representações sociais da sida e identidades adolescentes. Lisboa: ISPA.

Kirchler, E., Palmonari, A., & Pombeni, L. (1991). Sweet sixteen. Adolescent's problems and the peer group as source of support. European Journal of Psychology of Education, 6 (4), 382-409.

Moscovici S. (1984). The phenomenon of social representations. In R. Farr, & S. Moscovici (Eds.), Social representations. Cambridge: Cambridge University Press.

Olbrich, E. (1984). Adolescence. A period of crisis or coping?. In E. Olbrich, & E. Todt (Eds.), Problems of adolescence. Berlin: Springer.

Olbrich, E. (1990). Coping and development. In H. Bosma, & S. Jackson (Eds.), Coping and self-concept in adolescence. Springer: New York.

Palmonari, A. (1990). L' adolescenza: Identità e sviluppo. In P. Amerio, P. Boggi Cavallo, A. Palmonari, & M. L. Pombeni (Eds.), Gruppi di adolescenti e processi di socializzazione. Bologna: Il Mulino.

Palmonari, A., Pombeni, L., & Kirchler, E. (1989). Peergroups and evolution of the self-system in adolescence. European Journal of Psychology of Education, 4 (1), 3-15.

Palmonari, A., Pombeni, L., & Kirchler, E. (1990). Adolescents and their peer groups: a study on the significance of peers, social categorization processes and coping with development tasks. Social Behaviour, 5, 33-48.

Palmonari, P., Pombeni, L., & Kirchler, E. (1991). Differential effects of identification family and peers on coping with developmental tasks in adolescence. European Journal of Social Psychology, 21, 381-402.

Poeschl, G. (1995). Processus d' ancrage et reprèsentations sociales de l' intelligence. Texto não publica-do, Porto: Universidade do Porto.

Pombeni, L., & Palmonari, A. (1990). Identification with peers as a strategy to muddle trough the troubles of adolescence years. Journal of Adolescence, 13, 3511-369.

Tajfel, H. (1972). La catégorisation sociale. In S. Moscovici (Ed.), Introduction à la psychologie sociale (Vol. I: 272-302). Paris: Librairie Larousse.

Turner J. (1987). A self-categorization theory. In J. Turner (Ed.), Rediscovering the social group. A self-categorization theory. Oxford: Basil Blackwell.

Vala J. (1990). Identités sociales e représentations du pouvoir. Revue Internationale de Psychologie Sociale, 3, 452-471.

Vala J. (1993). As representações sociais no quadro dos paradigmas e metáforas da Psicologia Social. Análise Social, 28, 123-124.

 

(*) Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa. Unidade de Investigação de Psicologia Cognitiva de Desenvolvimento e da Educação.

(**) Psicóloga Social e das Organizações.

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons