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Silva Lusitana

versão impressa ISSN 0870-6352

Silva Lus. vol.22 no.1 Lisboa jun. 2014

 

RECENSÕES

 

C. Sérgio, C. A. Garcia, M. Sim-Sim, Cristiana Vieira, Helena Hespanhol e Sara Stow 2013 - Atlas e Livro Vermelho dos Briófitos Ameaçados de Portugal (Atlas and Red Data Book of Threatened Bryophytes of Portugal). MUHNAC. Documenta. Lisboa. 464 pp.

 

Jorge Capelo

Investigador Auxiliar. Herbário do INIAV, IP.

 

O presente livro é o maior contributo, de sempre, para o conhecimento das espécies de briófitos de Portugal Continental. Trata-se de uma síntese resultante de um esforço monumental de compilação e atualização do trabalho das gerações de botânicos que estudaram este grupo de plantas, incluindo também, com especial relevo, a própria equipa que assina a obra. Este trabalho está primariamente orientado, com rigor e assertividade científica, para constituir uma ferramenta de base para definir políticas de conservação consistentes com a Convenção da Conservação da Diversidade Biológica, nos níveis regional, nacional e global. A brioflora do continente português inclui cerca de 40% das espécies europeias e aproximadamente 65% de todos os briófitos ibéricos, dos quais vários são endemismos portugueses e ibéricos com estatuto de ameaça crítico. A informação taxonómica e de distribuição geográfica, ora obtida, permitiu determinar pela primeira vez, os estatutos de ameaça da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) relativos a 704 táxones avaliados. Neste livro, acham-se, para além de informação sobre a biologia dos briófitos (e nesta medida constitui também um livro de texto), informação histórica sobre os estudos de briologia portuguesa desde o século XIX e com destaque, uma Checklist dos briófitos de Portugal Continental. Cada um dos 141 táxones selecionados para o Atlas e Livro Vermelho tem, no livro, uma ficha ilustrada com fotografia e mapas da distribuição conhecida, para além da descrição morfológica, informação autoecológica, a posição que a espécie ocupa nos ecossistemas e habitats naturais, assim como o enquadramento e estatuto nos diplomas legais nacionais e comunitários de conservação. Para cada espécie, os autores indicam ainda quais as ameaças e medidas de conservação a adotar. O livro apresenta ainda uma metanálise detalhada da Checklist e do Atlas, que inclui, por exemplo, estatísticas por categoria de ameaça UICN, distribuição por tipos de Habitat Natura 2000, por unidades territoriais administrativas e por fim, medidas de conservação e propostas de atuação. Os autores destacam, nomeadamente, a conclusão pouco conhecida do público e de decisores: que as situações mais sérias de diminuição de efetivos populacionais de briófitos correspondem aquelas dos habitats de alta montanha em face de alterações climáticas. As alterações rápidas de uso do solo são cotadas em segundo lugar, nomeadamente as que derivam da expansão de floresta de produção em antigas áreas florestais e agrícolas extensivas. A avaliação do estatuto taxonómico e corológico (i.e., relativo à área de distribuição) nacional e em relação com a distribuição europeia e mundial foi um trabalho aturado de revisão de toda a bibliografia portuguesa e internacional, mas sobretudo de observação e revisão de todo o material de herbário português, assim como de estudo de campo e modelação ecológica espacial para colmatar as lacunas de conhecimento. O estatuto de ameaça UICN foi determinado com base no preenchimento, pela equipa, durante vários anos, de uma base de dados especialmente desenhada para o efeito (base de dados BROTERO) e da análise de muitos milhares de pranchas dos herbários portugueses analisadas criticamente. Tratando-se de verdadeiro serviço público em prol da Conservação da Natureza, a realização de uma obra com níveis de leitura que vão desde o científico ao compreensível pelo público interessado, implicou por certo, dificuldades de financiamento e manutenção do esforço científico por um período prolongado por vários anos. Estamos certos que este esforço foi efetuado em detrimento de outras atividades mais favoráveis à carreira profissional e científica dos autores numa época em que os curricula, o destino profissional e a obtenção de financiamento para projetos futuros dos investigadores, sobretudo dos mais jovens, é avaliada estritamente pela publicação intensa de artigos com fator impacto elevado. O 'Atlas e Livro Vermelho dos Briófitos Ameaçados de Portugal' terá eventualmente uma injusta pontuação mediana quando chegar algum momento de avaliação contabilística dos curricula vitae dos seus autores. No entanto, certo é, que à Ciência, à Cultura e à Conservação da Natureza, prestaram, pelo seu enorme trabalho, um serviço de cidadania digno do maior louvor.