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Silva Lusitana

versão impressa ISSN 0870-6352

Silva Lus. vol.19 no.2 Lisboa  2011

 

A Assembleia da Republica aprovou a 22 de dezembro de 2011, por unanimidade, uma Resolução que institui o sobreiro como Árvore Nacional de Portugal.

É com muito gosto que apresentamos a Declaração de apoio àquela Resolução, subscrita pelas Universidade Técnica de Lisboa, Universidade do Algarve, Universidade de Évora e pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária.

 

 

Sobreiro, Árvore Nacional de Portugal

A decisão da Assembleia da República de adotar o Sobreiro como Árvore Nacional de Portugal constitui uma resolução maior que as instituições signatárias desta Declaração gostariam de sublinhar e de apoiar sem qualquer reserva.

O sobreiro é uma árvore típica do ambiente mediterrânico ocidental, com expressão predominante em Portugal e Espanha, e também no Norte de África onde desempenha um importante papel em termos ecológicos, sociais e económicos. Mas é no nosso país que o sobreiro apresenta uma maior ocupação territorial, que atinge quase 800 mil hectares, integrando ecossistemas florestais de uso múltiplo, que conjugam floresta, agricultura e pecuária específicas – os montados. O sobreiro apresenta uma grande importância económica como produtor de cortiça, na base da qual se desenvolve uma fileira industrial dedicada. Portugal é o maior produtor e transformador industrial de cortiça, detendo a maior quota comercial de produtos de cortiça.

Mas também em Portugal se desenvolveu extensa e abundante investigação científica na área do Sobreiro.

Poderá considerar-se como o primeiro compêndio de subericultura a "Memória sobre as Azinheiras, Sovereiras e Carvalhos da Província do Alentejo onde se trata de sua cultura e usos, e dos melhoramentos que no estado atual podem ter" que Fragoso Sequeira apresentou, em 1790, à Academia Real das Ciências de Lisboa. Nesta Memória, Fragoso Sequeira descreve o ambiente geográfico da Província do Alentejo e aborda os cuidados que devem presidir às diversas técnicas culturais destinadas a preservar o arvoredo de sobro, incluindo a proteção perante o fogo, as desigualdades de rendimento com a produção de grãos, as disputas entre proprietários e a cuidadosa criação de gados.

Na primeira metade do século passado, o sobreiro contou com a intervenção firme, estudada e experimentada de Joaquim Vieira Natividade que, criando a Estação de Experimentação Florestal do Sobreiro, em Alcobaça, desenvolveu trabalhos que ainda hoje são entendidos como referência. A publicação da sua "Subericultura", em 1950, traduzida para francês, italiano e espanhol, permitiu dispor de um manual clássico para uso dos investigadores e estudiosos do sobreiro de todo o mundo.

Mais recentemente, a investigação sobre o sobreiro e a cortiça desenvolveu-se a partir dos anos 80 e intensificou-se nos últimos vinte anos, principalmente sob a responsabilidade de Universidades e do Instituto Nacional de Investigação Agrária. Desenvolveram-se muitos projetos de investigação, formaram-se investigadores e técnicos, divulgaram-se os resultados científicos na comunidade internacional, estabeleceram-se redes de cooperação na Europa e Norte de África. Portugal é hoje, também, reconhecido internacionalmente pela excelência da sua investigação nestas áreas.

As linhas de investigação têm sido múltiplas: gestão e economia da floresta enquanto sistema multifuncional, melhoramento e genética, multiplicação e propagação da planta, pragas e doenças, gestão da paisagem, assim como biologia, propriedades e processamento da cortiça e as suas aplicações. Um interesse adicional revelado por parte da indústria, ela própria empenhada em importante modernização e inovação tecnológica, reforçou não só os recursos disponíveis para I&D, como alargou os horizontes de aplicação dos produtos resultantes do sobreiral e do seu ecossistema.

Mas a floresta mediterrânica que o sobreiro integra necessita de uma maior compreensão e conhecimento. A sua capacidade de usos múltiplos e a sua enorme diversidade é de difícil aceitação para a agricultura e a floresta do norte da Europa. Por essa via, Portugal sofreu uma intervenção no mundo rural que perturbou o seu sistema produtivo e marginalizou os seus sistemas autóctones. O regresso a uma gestão cuidada dos nossos sistemas agrários é um desígnio que deve ser assumido por todos nós.

Também a gestão do território não pode esquecer o valor ecológico dos montados, o seu papel na luta contra a desertificação e como suporte de biodiversidade, que acompanha a sua importância social e económica tanto nacional como regional. O desenvolvimento urbano e turístico, que tem vindo a assumir uma ameaça para estes sistemas, não deverá sobrepor-se a estes valores.

A adoção do Sobreiro como Árvore Nacional de Portugal traduz o reconhecimento deste recurso natural como um património nacional que caracteriza o nosso ambiente e paisagem, que integra a nossa história e cultura, e que faz parte da nossa investigação científica.

 

Lisboa, 19 de dezembro de 2011

 

Universidade Técnica de Lisboa

Universidade de Évora

Universidade do Algarve

Unidade de Investigação de Silvicultura e Produtos Florestais (INIA)