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Silva Lusitana

versão impressa ISSN 0870-6352

Silva Lus. vol.19 no.1 Lisboa  2011

 

James Aronson, João S. Pereira and Juli G. Pausas Cork Oak Woodlands on the Edge: Ecology, adaptive management, and restoration

Society for Ecological Restoration International and Island Press, 2009, 315 págs., ISBN 13: 978-1-59726-479-2. Preço: 38,95€

 

Ana Ferreira de Almeida, Investigadora Auxiliar, INIA/INRB, IP

 

 

Ao apresentar este oportuno livro sobre sobreiros, que analisa a árvore e os seus povoamentos em diversos níveis de organização territorial e apresenta situações objectivas em países de que esta espécie é originária, vale a pena referir que Portugal, com mais de 790 mil hectares ocupados por sobreiros (IFN, 2006), é o maior produtor mundial de cortiça, responsável por mais de 52% do total de cortiça consumida no mundo. Mas vale também a pena recordar palavras de Joaquim Vieira Natividade, proferidas na Academia das Ciências em 1952, numa comunicação intitulada "A Floresta de Sobro Mediterrânea". Nessa palestra, evocando outra, proferida 162 anos antes, na mesma Academia, pelo Dr. Fragoso de Sequeira, Vieira Natividade diz:

"E assim, como há cento e sessenta e dois anos, um apelo se fez ouvir para salvar a árvore, por amor dos homens, assim também novo apelo há hoje que fazer para salvar a terra, por amor da árvore.

Pediu-se então aos homens de boa vontade um modesto sacrifício; sacrifícios bem maiores há que pedir aos homens de hoje: - clarividência, coragem, perseverança, renúncia, para que se salve, ampare, respeite e honre o património que é de todos."*

O livro Cork Oak Woodlands on the Edge, ECOLOGY, ADAPTIVE MANAGEMENT, AND RESTORATION é editado e prefaciado por três personalidades de méritos firmados na área da ecologia e ambiente, James Aronson, João S. Pereira e Juli G. Pausas e está organizado em 5 Partes, cada uma das quais se subdivide em vários capítulos, num total de 20, com autorias diversas. Deste livro fazem ainda parte um Glossário, Referências, um breve Resumo dos principais interesses profissionais dos Editores e Colaboradores desta obra, um Índice de Espécies, com entradas de nomes científicos e nomes vulgares e um Índice dos principais termos, com indicação de página.

A Iª Parte refere-se ao sobreiro e aos sobreirais. São abordados temas tais como a origem e história da espécie ao longo dos séculos, o descortiçamento e as variadas utilizações da cortiça e da bolota, e as estratégias de resistência face ao fogo, fenómeno tão comum na zona de que o sobreiro é autóctone. Também aqui se trata da variabilidade genética, das várias teorias sobre a origem biogeográfica do sobreiro e as rotas migratórias seguidas na dispersão da espécie, a delimitação de regiões de proveniência do sobreiro e a sua importância para a conservação dos recursos genéticos.

A intervenção humana nos sobreirais é analisada numa perspectiva histórica. Apresenta-se a evolução da cobertura vegetal da Ibéria, desde o Neolítico até aos nossos dias, assim como a origem e significado actual do termo "montado". Refere-se, também, o risco que a exploração de uso múltiplo representa para o ecossistema.

A Iª Parte deste livro termina com uma resenha sobre os produtos derivados da cortiça.

Três exemplos de situações, na Argélia, em Marrocos e em Portugal, particularizam e concretizam aspectos focados no texto.

A IIª Parte prende-se com a regeneração e ordenamento dos montados. É cientificamente abordada a questão premente da falta de água, e os mecanismos de defesa e sobrevivência. O papel desempenhado pela micorrização na resistência à seca, o tipo de solos limitantes da expansão do sobreiro, como minimizar os efeitos das várias pragas e doenças que afectam estas árvores, e a questão da regeneração natural, constituem temas abordados nesta secção.

Apresentam-se 3 exemplos, de regiões de Espanha, Itália e Marrocos.

A IIIª Parte familiariza-nos com as técnicas de regeneração do sobreiro, baseadas em sementeira e plantação. São detalhadamente apresentados aspectos relativos à qualidade da semente seleccionada e às práticas comuns em viveiro, referindo-se seguidamente os cuidados fundamentais a ter na plantação, para assegurar o seu sucesso.

Uma zona de povoamentos mistos adultos, com elevada regeneração natural, no sul de França, foi escolhida para ilustrar esta IIIª Parte.

A perspectiva económica, com uma análise custo-benefício, é o tema da IVª Parte. Apresentam-se 3 situações: em Portugal, onde se avalia economicamente um povoamento misto de sobreiro e pinheiro manso; na Tunísia, onde o mesmo tipo de análise se aplica a um povoamento estatal de montado, com uso regulamentado pelos habitantes da região; e em Espanha, numa situação pública e outra privada, em montados de idade avançada, calculam-se os custos de estabelecer novas plantações e favorecer a regeneração natural do sobreiro, dado o longo período de espera até se rentabilizar o investimento efectuado. Por outro lado, do ponto de vista da conservação da biodiversidade e sequestro do carbono, haveria vantagens em efectuar a gestão, incluindo cuidados sanitários, da floresta já existente.

A IVª Parte termina com uma análise económica da indústria e comércio da cortiça.

Os exemplos dizem respeito a situações de sobreiral e montado, protegidos em Portugal e a necessitar de protecção urgente em Marrocos.

O futuro incerto dos sobreirais é tratado na Vª Parte. Sublinha-se a necessidade de manter estas florestas, pela importância de que se revestem na conservação da diversidade animal e vegetal, e pelos bens materiais e culturais únicos que dependem destes ecossistemas. É ainda modelada a resposta da árvore e do ecossistema às alterações climáticas, nomeadamente aumento do período estival de seca, aumento da temperatura e intensidade da luz.

Refere-se, a ilustrar esta Vª Parte, a floresta de sobreiro existente no Parque Natural de Los Alcornocales, no sul de Espanha, considerada a maior e mais bem protegida do Mundo.

No entanto, os autores consideram que, com excepções pontuais, o panorama é de preocupante declínio para o sobreiro, tanto na Europa como no Norte de África. Será preciso pôr em prática todo o conhecimento já adquirido para que esta realidade se possa alterar.

 

* "A Agronomia e a Silvicultura na perspectiva de Joaquim Vieira Natividade". Homenagem. Univ. Évora, Univ. Algarve, 1993