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Silva Lusitana

versão impressa ISSN 0870-6352

Silva Lus. v.9 n.2 Lisboa dez. 2001

 

XXX: Notícia acerca dos carrascais arbóreos da Serra da Arrábida

Jorge Capelo; Estação Florestal Nacional. Lisboa. Jorge.capelo@esoterica.pt José Carlos Costa; Instituto Superior de Agronomia. Lisboa. jccosta@isa.utl.pt

Discussão: as populações arbóreas de "carrascos", i.e. Quercus coccifera L. sensu lato, ocorrentes na Serra da Arrábida e conhecidos pontualmente noutros pontos da metade sub-litoral do SW de Portugal continental, sempre representaram uma dificuldade relativamente à posição taxonómica e ecológica. A interpretação dos autores portugueses mais recentes, foi assumir uma circunscrição lata no seio da variação de Q. coccifera L., sem a aplicação de qualquer restritivo infra-específico (VASCONCELLOS e FRANCO, 1954; FRANCO in CASTROVIEJO et al.,1990). Sendo verosímil tratar-se de formas arbóreas ocorrentes em habitats particularmente favoráveis, do ponto de vista do solo e regime hídrico – solos derivados de dolomias - deverá no entanto, tomar-se em consideração a persistência de uma correlação de caracteres morfológicos relativamente estável, nomeadamente: ritidoma fendilhado em placas, ocorrência de muitas folhas de margem sub-inteira; número de pares de nervuras lobais secundárias estatisticamente maior [moda = 9 em Q. coccifera árboreo da Serra da Arrábida vs. moda = 6 em carrascos exteriores a este território], glandes fusiformes-oblongas a estreitamente ovadas mais longas que nas plantas típicas e cúpula com escamas patentes da metade superior muito compridas. Esta correlação está ainda claramente associada a uma área biogeográfica circunscrita.

Foram aplicados a este táxone, os nomes específicos Quercus pseudo-coccifera Desf. non Webb [Quercus pseudococcifera Webb = Q. mesto Webb fide auct. pl.] e diversas combinações usando o primeiro como basiónimo [ e.g. Quercus coccifera L. var. pseudococcifera (Desf.) A. DC in DC.; Q. coccifera subsp. pseudococcifera (Desf.) Arcangeli]. Outros autores (e.g.COUTINHO, 1888), conotaram ainda esta árvore com a var. imbricata A. DC. inDC. Alternativamente, Q. calliprinos Webb. foi também sugerido como nome a aplicar (BRULLO, com. pess.). Quanto a Q. pseudococcifera, parece corresponder consensualmente apenas aos carrascos arbóreos do Mediterrâneo oriental (CAMUS, 1938). Em BM, LISE e LISU, os exemplares atribuíveis a estes dois nomes são distintos dos arrabidenses, pelo menor número de nervuras, tamanho, tipo de recorte e consistência da folha (c.f. CAMUS, 1938). Por outro lado, a Q. calliprinos s. l. têm sido referidos a totalidade dos carrascos arbóreos mediterrânicos, que tratando-se aparentemente de um nome colectivo aplicável a um complexo de táxones afins, não se adequa como modelo taxonómico e poderá por seu turno corresponder apenas a um dos táxones centro-oriental-mediterrânicos.

Deste modo, propomos, filiado em Q. coccifera L., a aplicação dum novo restritrivo subespecífico: Quercus coccifera L. subsp. rivasmartinezii nob., para designar os carrascos arbóreos dos substratos dolomíticos arrabidenses.

Quercus coccifera L. subsp. rivasmartinezii J.H. Capelo & J.C. Costa, subsp. nova

Arbor ad 15 m alta, cortice demum rimoso; a Querco coccifera typo differt marginibus foliis plerumque sub-integris vel plus minusve dentatis, dentibus mucronato-spinosis; venis secundaris utrinque 7 – 9(11), divaricatis; glande ex oblongis ad anguste-ovatis vel anguste-obovatis: 19 – 34 x 9 – 12,5 mm; cupula hemisphaerica squamis inferne laxe adpressis triangulari-lanceolatis breviter acuminatis velutinis, sed superne patentibus vel retroflexis longissimis acuminatis: 1,8 – 3,3 mm.

Typus: LISI s.n., "Mata abaixo do Convento da Arrábida", 30-8-1939, leg. G. Pedro & P. Torres s.n.

Haec arbor pulchra habitat maxime in nemora ad Serra da Arrábida dicta.

Cl. Salvador Rivas Martínez egregio hispano botanico et Universitatis complutensis praeclaro magistro, hoc nomem grato animo dicamus.

=Quercus pseudo-coccifera auct. lusit. pl. non Desf.

=Q. pseudococcifera sensu auct. lusit. pl. Webb

=Q.mesto sensu auct. lusit non Boiss.

=Q. cocciferaL. var.imbricataA. DC. sensu Coutinho., p.p.

=Q. calliprinos auct. pl. non Webb

=Q. species vel varietas"arrabidensis", nom. nud. auct. lusit et hisp. pluribus.

Diagnose: Árvore até 15 metros de altura e 60-70 cm de DAP, com ritidoma por fim fendido em placas; diferindo ainda do tipo de Quercus coccifera pelas margens das folhas frequentemente sub-inteiras ou mais ou menos dentado-espinhosas; com 7-9 (11) pares de nervuras secundárias divaricadas; pela glande oblonga a estreitamente ovada ou estreitamente obovada, maior que no tipo, com 19 – 34 x 9 – 12,5 mm; pela cúpula hemisférica com escamas curtas triangular-lanceoladas, ligeiramente acuminadas e mais ou menos imbricadas na metade inferior mas compridas (1,8 – 3,3 mm), retroflexo patentes e longamente acuminadas, na metade superior.

Ecologia: Árvore preferente de cambissolos eutricos profundos derivados geralmente de calcários dolomíticos ou dolomias, podendo esporadicamente ocorrer noutros substratos ricos em bases, como calcários, margas calcárias, basaltos, arcoses, etc. Integra bosques cerrados da Quercetalia ilicis (Querco rotundifoliae-Oleion sylvestris), no andar termomediterrânico sub-húmido quasi-hiper-oceânico a eu-oceânico, sendo dominante nas comunidades arrabidenses do Viburno tini-Quercetum (cocciferae) rivasmartinezii. Ocorre ainda mais raramente como árvore co-dominante no Teucrio baetici-Quercetum suberis Rivas-Martínez in Díez Garretas, Cuenca & Asensi 1986 português [subass. centaureetosum crocatae Capelo inéd. = Myrto communis-Quercetum suberis sensu Rivas-Martínez, Lousã, T.E. Diáz, F. Fernández-González & J.C. Costa 1990 nonBarbero, Benabid, Quézel &; Rivas-Martínez 1981 ex Rivas-Martínez, Costa & Izco 1986]. Pode ocorrer pontualmente como arbusto alto a pequena árvore noutros bosques da mesma aliança ou territorialmente afins (Asparago aphylli-Quercetum suberis, Viburno tini-Oleeteum sylvestris, Arisaro clusii-Quercetum broteroi).

Distribuição geográfica: quase estritamente ocorrente na Serra da Arrábida, sendo conhecidos exemplares isolados na Serra de Grândola (S. Francisco da Serra), Odemira (Ribeira do Torgal) e no superdistrito Olissiponense. É, com a circunscrição taxonómica ora adoptada, endémico de Portugal.

Sintaxonomia: Em face da alteração taxonómica proposta e de acordo com o Código de Nomenclatura Fitossociológica BARKMAN et al., 1986), - c.f. artigo 43 - a introdução do epíteto sub-específico no nome do táxone dominante, justifica a sua correcção nomenclatural: Viburno tini-Quercetum rivasmartinezii Rivas-Martínez, Lousã, T.E. Diáz, F. Fernández-González & J.C. Costa 1990 correxit Capelo & J.C. Costa 2001 hoc loco [≡Viburno tini-Quercetum cocciferae Rivas-Martínez, Lousã, T.E. Diáz, F. Fernández-González & J.C. Costa 1990, Itinera Geobotanica (3): 54.].

 

Bibliografia

BARKMAN, J., MORAVEC, J., RAUSCHERT, S., 1986. Code of phytosociological nomenclature. 2nd. Ed. Vegetatio 67(3) : 145-197.        [ Links ]

COUTINHO, X.P., 1888. Os Quercus de Portugal. Bol. Soc. Brot 6 : 47 –116        [ Links ]

CAMUS, A., 1938. Les chénes. Monographie du genre Quercus. 1. Lechevalier. Paris        [ Links ]

FRANCO, J.A., in CASTROVIEJO et al., 1990. Quercus L. in Flora iberica II. CSIC. Madrid.        [ Links ]

VASCONCELLOS, J.A., FRANCO, J.A., 1954. Carvalhos de Portugal. An. Inst. Sup.Agron. 21 : 1–136.        [ Links ]