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Revista Diacrítica

versão impressa ISSN 0807-8967

Diacrítica vol.29 no.1 Braga  2015

 

RECENSÕES

BASÍLIO, Margarida (2013), Formação e classes de palavras no português do Brasil. São Paulo: Contexto. ISBN: 978-85-7244-271-8

 

Henrique Barroso*

*Universidade do Minho, Portugal.

hbarroso@ilch.uminho.pt

 

Antes de mais, impõe-se este esclarecimento: estamos na presença da 1.ª reimpressão da 3.ª edição (a 1.ª é de 2004) do livro em epígrafe, e a razão de só agora o estar a recensear (sabia contudo da sua existência há já alguns anos) tem simplesmente a ver com o facto de não há muito me ter chegado às mãos e, sobretudo, de só muito recentemente ter tido a oportunidade de o ler como deve ser, isto é, reflexivamente.

Trata-se de um pequeno grande texto de uma especialista na matéria (Margarida Basílio, professora titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), que conheço há longos anos de outros, de que destacaria Teoria lexical (São Paulo: Ática, 1987) e Estruturas lexicais do português: uma abordagem gerativa (Petrópolis: Vozes, 1980). Pequeno, é claro, só no número de páginas: nem sequer chega às cem (noventa e cinco, contabilizadas já as duas com as referências bibliográficas). Grande, deveras, no que diz respeito à temática e de modo particular ao seu tratamento: uma descrição de pendor didático dos padrões gerais e dos principais processos de formação de palavras na variedade brasileira do português.

Para além da Introdução (pág. 7), onde afirma ser sua intenção “oferecer ao público leitor, estudiosos da língua e, sobretudo, aos professores de português uma visão articulada dos principais processos de formação de palavras, tendo como ponto central a questão da mudança de classe e suas funções na constituição do léxico”, desenvolve a matéria em questão ao longo de dez pequenos capítulos, que infelizmente não numerou (uma falha geradora de um certo ruído porque, no decurso da obra, remete para o capítulo n.º …, e o leitor leva o seu tempo até o encontrar), terminando todos com um conjunto de exercícios (entre 10 e 18), para que os aprendentes possam praticar e/ou testar os conteúdos expostos/ adquiridos. Aqui, parece-me, não quadraria mal o que costuma aparecer em obras do mesmo tipo: sugestões de resolução para as atividades propostas. Não é obrigatório, evidentemente. É uma mera sugestão.

Vejamos agora do que trata cada um dos dez capítulos. Em “Para que serve o léxico?” (págs. 9-12), reflete-se sobre léxico e língua, constituição e expansão do léxico, léxico externo e léxico mental, processos de formação de palavras, o léxico é “ecologicamente correto”, léxico virtual e léxico real. Em “Dissecando a palavra” (págs. 13-19), sobre a palavra gráfica, palavra e dicionário, palavra estrutural, a palavra e suas flexões; palavra, vocábulo e lexema; palavra, homonímia e polissemia; palavra fonológica, clíticos, locuções, a palavra como forma livre mínima, formas dependentes, problemas remanescentes. Em “Classes de palavras e categorias lexicais” (págs. 21-25): noções gerais, critérios de classificação, um critério ou um conjunto de critérios?, principais categorias lexicais: breve definição, formação e classes de palavras. Em “Derivação e mudança de classe: padrões gerais e motivações” (págs. 27-32): padrões lexicais regulares, derivação e mudança de classe, por que mudança de classe?, motivações não são exclusivas, quadros mais complexos, motivação expressiva na mudança de classe, motivação textual e motivação sintática, motivações múltiplas. Em “Principais processos de mudança de classe: formação de verbos” (págs. 33-38): formação de verbos a partir de substantivos, processos de formação de verbos a partir de adjetivos, mudança de estado em verbos formados a partir de substantivos, principais processos de formação, formações parassintéticas. Em “Principais processos de mudança de classe: formação de substantivos” (págs. 39-51): formação de substantivos a partir de verbos, função denotativa, motivação gramatical, motivação textual, desverbalização, principais processos de formação; derivação regressiva, formação de nomes de agente e instrumento, aspetos gramaticais, principais processos de formação; formação de substantivos a partir de adjetivos, função denotativa, outras motivações, principais processos de formação. Em “Principais processos de mudança de classe: formação de adjetivos” (págs. 53-60): formação de adjetivos a partir de substantivos, principais processos de formação; formação de adjetivos a partir de verbos, motivação gramatical, principais processos de formação; vestígios categoriais em adjetivos formados de verbos. Em “Principais processos de mudança de classe: formação de advérbios” (págs. 61-65): formação de advérbios por derivação, problemas de análise morfológica na derivação de advérbios, as diferentes funções das formações em -mente, a formação de advérbios por conversão.

Por fim, nos dois últimos capítulos, reflete sobre processos de formação de palavras que não estão ligados à mudança de classe. Em “Sufixação sem mudança de classe” (págs. 67-77), trata da expressão do grau (aumentativo e principais processos de formação; o diminutivo e seus valores e principais processos de formação; aspetos morfológicos; prefixos diminutivos; superlativo) e nomes de agente denominais (formações em -ista, formações em -eiro, outras formações). Em “Adjetivo ou substantivo?” (págs. 79-93), sobre conversão e derivação imprópria, adjetivo e substantivo: as dificuldades de classificação; nomes pátrios e nomes de cores; os três critérios de classificação e sua relação com a flutuação substantivo/adjetivo; adjetivos substantivados; substantivos com função adjetiva: nomes de agente, casos típicos e casos marginais, substantivos podem qualificar substantivos?, substantivos como qualificadores, substantivos como complementos de substantivos, substantivos como especificadores.

Com este trabalho, a autora quer mostrar que a morfologia derivacional não existe por acaso. Pelo contrário: “as estruturas morfológicas constituem um instrumento fundamental na aquisição e expansão do léxico individual ou coletivo, assim como de seu uso na produção e compreensão de diferentes tipos de texto em nossa língua”, escreve na Introdução (pág. 7).

Correções e/ou sugestões de correção: (i) pág. 28, linha 7, onde está “… a uma base ou radical…”, deveria estar “… a uma base, que pode ser um radical, um tema ou uma palavra flexionada…”; (ii) pág. 35, depois do exemplo (8), vem “Nas frases acima, …”, mas deveria fazer parte do texto, não do exemplo; (iii) pág. 42, linha 3, depois de “Principais processos de formação”, onde está “formação de verbos”, deveria estar “formação de substantivos (ou nomes)”; (iv) pág. 43, linhas 2-3 do parágrafo a seguir ao exemplo (12), onde está “… expressão dar uma [V-da] …”, deveria estar “… expressão ‘dar uma [V-da]' …”; (v) pág. 49, exemplo (32): por que razão passa de a. a f.?; (vi) pág. 75, nos itens lexicais de a. aparece duas vezes facada; (vii) pág. 79, linha 6, 2.º parágrafo, onde está “a rigor”, deveria estar “em rigor”; o mesmo se passa na pág. 86, no início da linha 1 do 3.º parágrafo; (viii) pág. 83, penúltimo parágrafo, deveria ser em versalete (trata-se de um título de uma secção).

Para terminar, e considerando o texto no seu todo, há dois aspetos que merecem ainda a nossa atenção. Um negativo, a saber: a ausência transversal de itálicos ou de qualquer outro tipo de destaques. Na minha opinião, todos os itens lexicais tratados deveriam estar destacados do corpo do texto: bastaria o itálico (ocorre uma única vez, pág. 61: lentamente). Outro positivo, que é: uma síntese descritiva (dos conteúdos em causa) espetacular. Bem organizado e bem escrito. De grande utilidade, quer para interessados em geral e também investigadores quer, sobretudo, para estudantes (graduação e pós-graduação).

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