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Revista Diacrítica

versão impressa ISSN 0807-8967

Diacrítica vol.27 no.1 Braga  2013

 

Mecanismos de textualização e construção textual: para uma abordagem sócio­ discursiva do cartoon

Textualization and textual construction mechanisms: towards a sociodiscoursive approach of cartoons

Audria Leal*; Ana Caldes*

*Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal.

audria_leal@yahoo.com.br; anacaldes@gmail.com

 

RESUMO

Os textos, como resultados das atividades humanas, possuem na sua organização parâmetros que dependem do contexto situacional, estrutura e regras do sistema linguístico. Estes parâmetros são dependentes das decisões do produtor dos textos, entre as quais figuram a escolha do género e, consequentemente, da sua arquitetura interna. A partir desta ideia, Bronckart (1999) desenvolve um modelo de análise de textos, procurando explicar as operações psicológicas que estão subjacentes à produção textual. Neste artigo, procuraremos mostrar, através da análise do género cartoon, o papel que os mecanismos de textualização desempenham na construção textual. Para isso, em primeiro lugar, iremos apresentar os pressupostos teóricos que fundamentam a nossa análise para, em seguida, analisarmos um modelo de cartoon, procurando refletir sobre a relação entre o plano de texto e os processos de coesão e conexão nele presentes.

Palavras chave: género textual; plano de texto; processos de coesão e conexão.

 

ABSTRACT

As they result from human activity, texts have in their own organisation some parameters which depend both on the situational context and on the structure and rules of the linguistic system. Those parameters are also dependent on the decisions taken by the author of the texts, among which we have to consider the choice of the text genre and, therefore, of its internal architecture. Bearing this in mind, Bronckart (1999) developed a model of text analysis aiming at explaining the psychological operations which underpin textual production. In this paper, we are trying to show, through the analysis of the text genre cartoon, how the mechanisms of textualization work towards textual construction. To do so, and first, we will present the theoretical assumptions which are the core of our analysis. Second, we will examine a cartoon, trying to think about the relationship between the text plan and the cohesion and connection processes.

Keywords: text genre; text plan; cohesion and connection mechanisms.

 

*

1. Introdução

No contexto deste artigo, assumimos que os textos – objetos empíricos que dão conta das práticas linguísticas efetivas – constituem produções sociais em estreita relação com a conjuntura espaciotemporal em que são produzidos. Assumindo ainda que esta conjuntura tem implicações a nível da organização e estrutura textuais, os textos revelam ser, por natureza, realidades complexas, em que a interação entre as dimensões semiótica e contextual aparece, em maior ou menor grau, de forma evidente.

Assim, a construção textual, não sendo gratuita, resulta antes da mobilização de recursos linguísticos pontuais, os quais estabelecem, com os parâmetros dessa conjuntura (de entre eles destacam-se, além do espaço e do tempo de produção, os objetivos pragmáticos que subjazem ao texto) uma relação inevitavelmente dialógica.

É, pois, nesta linha que nos propomos refletir – partindo da abordagem sociodiscursiva proposta por Bronckart – sobre o papel que os mecanismos de textualização exercem na construção textual, sendo que para tal tomaremos como objeto de análise um exemplar do género cartoon.

Começaremos por tecer algumas considerações relativas aos pressupostos teóricos de base do Interacionismo Sociodiscursivo (doravante ISD), no sentido de explicitar não só como o conceito de texto é aí tratado, mas também dar conta dos critérios que permitem categorizar os mecanismos de textualização como um dos níveis de organização da estrutura textual. De seguida, passaremos à análise dos textos selecionados, onde se pretende tanto proceder à aplicação das considerações desenvolvidas como, igualmente, verificar e atestar a sua rentabilidade em termos de reflexão linguística, tendo em conta o género textual em causa.

2. Pressupostos teóricos

No quadro do ISD, proposto por Jean-Paul Bronckart, os aspetos que norteiam a abordagem defendida pelo autor têm como base princípios teóricos que, como o próprio afirma, vão ao encontro de uma “psicologia da linguagem”, no contexto da qual se impõe considerar que “(…) qualquer que seja o tamanho das unidades linguísticas (do fonema ao texto), elas devem ser tomadas, em última instância, como condutas humanas (ou como propriedades das condutas humanas) …” (Bronckart, 1996-1999: 13). Esta disciplina desenvolve, por sua vez, uma orientação epistemológica coerente com a do “interacionismo social”, corrente das ciências humanas e sociais na qual se inscreve e da qual se destacam autores como Vygotsky e Voloshinov.

Tomando como eixo central a interdependência entre a construção dos processos psicológicos e a dimensão coletiva e social da vida humana, o interacionismo social postula alguns princípios de base, com os quais se articula a abordagem proposta pelo ISD, e de que pretendemos aqui dar conta, de forma muito sintética:

a) um deles assenta na ideia que a compreensão do Homem só pode ser levada a cabo a partir de uma compreensão integral das várias dimensões, de vária ordem (biológica, social, cultural, cognitiva, etc.) que o constituem; nesta linha, o ser humano deve se entendido como um todo, uma realidade fisicopsicológica;

b) outro princípio sublinha o papel decisivo das atividades sociais e coletivas na definição das condutas humanas enquanto “quadros organizacionais e mediadores” através dos quais os indivíduos interagem com o meio que os rodeia[1];

c) por outro lado, interessa referir a importância de que se reveste a linguagem verbal na gestão das atividades coletivas, na qualidade de instrumento necessário ao desenvolvimento de tais atividades[2].

Partindo de uma abordagem que Bronckart designa de descendente, isto é, orientada a partir das atividades sociais para as atividades de linguagem e, daí, para os textos e os seus recursos linguísticos[3], o autor assume (no seguimento de Roulet et a.l)[4] a dimensão social como constitutiva dos factos linguísticos sendo que, nesta ótica, os textos são perspetivados na qualidade de produções sociais, onde se revelam, de forma mais ou menos explícita, as relações de interdependência entre as produções de linguagem e o seu contexto acional e social[5].

No sentido em que se aceita a interação entre as atividades de linguagem e as atividades sociais, que aquelas comentam, a linguagem humana adquire, no âmbito do ISD, o estatuto de “produção interativa”[6], à qual se pode reconhecer uma dupla valência: se, por um lado, a linguagem aparece como um instrumento semiótico possibilitador das relações entre os sujeitos e destes com o seu ambiente de ação, por outro, assume-se, ao nível mais complexo da questão, que ela possui um papel fundador das condutas humanas[7]. Refere o autor, a propósito: “(…) a linguagem não é (apenas) um meio de expressão de processos que seriam, eles, estritamente psicológicos (perceção, cognição, sentimentos, emoções), mas (…) é, na realidade, um instrumento fundador e organizador desses mesmos processos, em todo o caso nas suas dimensões especificamente humanas” (Bronckart, 2005: 39, sublinhado nosso).

A conceção de linguagem apresentada insere-se numa perspetiva que o autor designa de logocêntrica ainda que, como o próprio refere, se trate de um logocentrismo relativo. Do lugar central que se atribui à linguagem no desenvolvimento e funcionamento humanos, importa considerar que, nesse processo, são colocados em interface quatro “sistemas” distintos – os sistemas da língua, da atividade social, das operações psicológicas e o sistema textual/discursivo – os quais operacionalizam interações de ordem diversa, a seguir referidas:

a) Um primeiro tipo de interação, entre a atividade social e o sistema da língua:

Assumindo que a atividade linguística tem como função primária assegurar o funcionamento e a gestão das atividades sociais, interessa considerar que essa tarefa só é possível através da construção de instrumentos semióticos – os textos – os quais, atendendo aos recursos disponibilizados por uma dada língua natural, configuram essas atividades[8].

A multiplicidade de esferas de atividade existentes, a que se associam interesses e objetivos próprios de cada uma, justifica a utilização de modalidades específicas de semiotização, definíveis em termos de géneros ou espécies de texto. Aceitando que todo o texto participa de um género específico, ele mesmo regulado pelas propriedades da situação sociocomunicativa em que a atividade de linguagem tem lugar, citamos Bronckart que sublinha, a propósito, o seguinte: “Ce sont globalement les propriétés de l´ activité langagière dans son rapport à l´ activité ordinaire, qui déterminent les formes de réalisation effective de la langue que constituent les différents genres de textes” (Bronckart, 2005b: 154).

b) Um segundo tipo de interação, a operar entre o sistema textual/discursivo e o sistema da língua:

Tratando-se da estruturação, os textos obedecem a formas de composição e de planificação - ao nível da articulação das unidades textuais - responsáveis pela sua coesão e coerência. No entanto, no quadro da língua natural em que cada texto é produzido, essas regras são aplicadas em conformidade com os recursos disponíveis na língua em que o processo de semiotização ocorre. Por outro lado, o processo de produção textual implica a realização de escolhas relativamente à seleção e à organização das unidades composicionais que, integrando o texto, lhe permitem cumprir a sua função no âmbito da situação sociocomunicativa específica em que este se enquadra[9]. De entre as operações psicolinguísticas levadas a cabo neste processo (de que podemos destacar as operações de conexão e coesão de unidades linguísticas), interessa referir também a existência de uma outra modalidade de organização do texto, os “tipos de discurso”[10], traduzidos como configurações particulares de unidades e de estruturas linguísticas[11] - mobilizadas em função dos recursos utilizáveis em uma dada língua - e entendidas como adequadas para o contexto enunciativo em que se inscrevem.

c) Um terceiro tipo de interação, entre o sistema social e o sistema psicológico:

O cruzamento, por natureza inevitável, entre as representações individuais formuladas pelos sujeitos, a partir da sua experiência sobre o mundo, e as representações coletivas, criadas a partir dos preconstruídos sociais, dá lugar à construção de uma “plataforma” gnoseológica que coloca em interface os dois tipos de conhecimento que acabámos de mencionar. É, pois, sobre o diálogo entre as dimensões social e psicológica/individual das atividades humanas que tem lugar o desenvolvimento e a expressão do indivíduo enquanto ser comunicante, no contexto da conjuntura sociohistórica em que a sua atuação se inscreve; é também a partir desse diálogo que assenta, num movimento de (re)avaliação / (re)definição contínuas, o funcionamento das práticas linguísticas no seu estatuto de expressões da dimensão humana.

3. A arquitetura interna dos textos

Segundo Bronckart, a organização do texto assemelha-se a um folhado constituído por três níveis sobrepostos, a saber, a infraestrutura geral do texto, os mecanismos de textualização e os mecanismos enunciativos[12].

Ao nível mais profundo, na infraestrutura, incluem-se as operações de planificação que permitem dar conta não só do plano geral do texto – responsável pela organização de conjunto do conteúdo temático – como também da constituição de sequências textuais, como os tipos de discurso, e as modalidades de articulação possíveis entre eles. Dotados de grande flexibilidade, os planos de texto podem possuir configurações variadas, justificáveis, por sua vez, em função do género em que o texto se inscreve, a natureza do conteúdo temático e os parâmetros da produção. No entanto, na perspetiva bronckartiana, é a combinação entre os diversos tipos de discurso, a par de outras formas de planificação, que desempenha um papel essencial na definição do plano de texto[13].

Um segundo nível, intermédio, do folhado textual, integra o que se designou chamar mecanismos de textualização, sendo que é sobre estes que incidirá, de forma mais desenvolvida, o nosso trabalho. Os mecanismos de textualização têm como função assegurar a organização temática do texto, marcando – através dos processos de conexão e de coesão (nominal e verbal)[14] – o seu plano de conjunto.

O terceiro nível, o mais superficial de todos, devido ao facto de se encontrar pouco dependente da linearidade e da progressão temática do texto, é o dos mecanismos enunciativos. Estes mecanismos, encarregues de manter a coerência pragmática do texto, permitem o estabelecimento/distribuição das vozes e dos posicionamentos enunciativos, dando a ver não só as instâncias responsáveis pelo que aí se expressa, mas também a atitude dessas instâncias (traduzida em termos de julgamentos ou avaliações) relativamente ao(s) objeto(s) do conteúdo temático comentado no texto[15]. Nesta linha, é pela realização dos mecanismos enunciativos que se manifesta o tipo de compromisso enunciativo assumido pelo locutor do texto que, em todo o caso, e porque é sempre um compromisso construído na interação entre os interlocutores da enunciação (instância enunciativa e seu destinatário)[16], dota o texto de coerência pragmática.

4. Os mecanismos de textualização

Como já aqui se referiu, cabe aos mecanismos de textualização assegurar, juntamente com a organização do plano geral, constituído ao nível da infraestrutura, a coerência temática do texto[17]. A progressão do conteúdo temático é, pois, conseguida - no que diz respeito a tais mecanismos - através da mobilização de processos isotópicos (assentes na constituição de cadeias de unidades linguísticas) visando a organização semiótica desse conteúdo[18]. Tendo em conta o papel que se atribui aos mecanismos de textualização no âmbito do modelo da arquitetura interna dos textos proposto por Bronckart, os mesmos são classificáveis em três tipos, já anteriormente apontados:

- Mecanismos de conexão, sendo estes realizados por organizadores textuais que marcam as articulações da progressão temática do texto, seja ao nível do plano geral do texto, da transição entre tipos de discurso ou sequências ou de articulações da sintaxe local do texto – têm como função, portanto, dar conta das relações que se estabelecem entre os diferentes níveis de organização do texto, segundo processos de segmentação, demarcação/balizamento e empacotamento de unidades[19];

- Mecanismos de coesão nominal, a que se atribuem as funções quer de introdução, no cotexto, de novas unidades de significação que o autor designou de “unidades-fonte”, quer a retoma (ou não) dessas unidades no decurso do texto. Neste último caso, o processo de retoma é construído a partir de cadeias anafóricas capazes de assegurar a progressão do conteúdo temático apresentado[20];

- Mecanismos de coesão verbal, que garantem a organização temporal dos processos expressos no espaço textual e são essencialmente realizados pelos tempos verbais[21], os quais possibilitam a marcação das relações de continuidade, descontinuidade ou oposição entre os objetos temáticos a que os mesmos se reportam[22].

5. Mecanismos de textualização e tipos de discurso

No trabalho de reflexão teórica sobre a natureza e o funcionamento das práticas linguísticas, desenvolvido por Bronckart no âmbito do ISD, os tipos de discurso revestem-se de uma importância fulcral na organização do texto ao assumirem-se como uma das suas dimensões constitutivas.

No sentido de explicitarmos o conceito de tipos de discurso diremos, por conseguinte, que ele remete para unidades linguísticas infraordenadas que, a título de “segmentos”, entram na composição textual e dão conta de modos distintos de enunciação. Estes modos, por sua vez, “(…) descrevem atitudes de locução gerais que se traduzem, no quadro de uma língua natural, por configurações de unidades e processos linguísticos relativamente estáveis”[23] e passíveis de classificação. Na sequência desta possibilidade postula-se, assim, classificá-los em quatro tipos segundo, por um lado, um critério de conjunção ou de disjunção relativamente à articulação (ou não) entre as coordenadas de organização do conteúdo temático e as da situação de produção e, por outro, segundo um critério de implicação ou autonomia no que respeita à presença (ou não), no espaço textual, da relação expressa entre a instância responsável pela produção do texto e o próprio ato de produção deste[24]. O quadro seguinte (figura 1) esquematiza o que se acaba de apontar:

 

 

Embora os mecanismos de textualização tenham como função marcar a organização de conjunto do texto, do qual fazem parte, a par de outros tipos possíveis de unidades textuais, os tipos de discurso, isto não significa necessariamente uma correspondência exata entre eles, sendo que o espaço de ocorrência das marcas linguísticas que dão conta de ambas pode não coincidir. A este respeito sublinha Bronckart que se, por um lado, os mecanismos de textualização conseguem atravessar ou transcender as fronteiras delimitadas pelos tipos de discurso, marcando precisamente a transição entre eles, por outro, as marcas de textualização[25] que realizam esses mecanismos (ou que realizam a mesma função) podem ser de ordem diversa, sendo suscetíveis de variar consoante o tipo de discurso em que se incluem[26].

A ocorrência das marcas de textualização que verbalizam cada um dos processos isotópicos de conexão e de coesão nominal/verbal pode depender, segundo o autor, dos tipos de discurso em que essa ocorrência se manifesta. Assim, é a especificidade enunciativa que caracteriza cada tipo em particular que parece ditar a ocorrência desta ou daquela marca no contexto da unidade linguística de que faz parte[27]; no entanto, é de notar que se este é um facto que se verifica no funcionamento dos três tipos de mecanismos, como acabámos de referir, ele surge, no entanto, de forma mais explícita, ao nível do processo de coesão verbal, onde a influência dos tipos de discurso sobre as modalidades de realização desses processos se manifesta ainda em maior grau, relativamente aos outros dois mecanismos de textualização mencionados.

6. Análise textual

Antes de iniciarmos a análise que se segue, é importante salientar que consideramos o texto como produto da interação humana, em situação de comunicação, em que estarão em interação, para além dos aspetos linguísticos, fatores sociais, culturais e históricos. Desse modo, procuraremos fazer uma análise linguística do texto tomando-o como parte do complexo universo de ações humanas. Também é importante esclarecer que os géneros plurissemióticos fazem intervir aspetos não linguísticos que interagem com os níveis linguísticos. É o caso, por exemplo, de textos como os cartoons, em que os fatores não verbais são partes constitutivas desse género, sendo que isso nos leva a considerar, na sua análise, a relação entre o sistema linguístico e a imagem.

O primeiro texto para análise (figura 2) encontra-se impresso no jornal Diário de Notícias, do dia 8 de fevereiro de 2006. Trata-se de um exemplar do género cartoon publicado sob a rubrica “Cravo e Ferradura”, onde de forma recorrente se apresenta um leque de personagens, nos seus quotidianos, a comentarem determinados assuntos da realidade historicossocial coincidentes com a localização espaciotemporal de produção do texto. Debrucemo-nos, agora, sobre o primeiro cartoon seleccionado:

Texto 1:

 

 

a) A conexão e o plano geral do texto

Relativamente ao plano geral do texto, podemos apresentar várias unidades textuais que surgem bem delimitadas neste cartoon – o título da rubrica (“Cravo e Ferradura”) e a identificação do autor do texto (“Bandeira”). Além disso, e ocupando um papel central na organização da mancha gráfica do texto, podemos apontar uma distribuição de elementos verbais e icónicos semelhante àquela que é apresentada pela estrutura das histórias em “quadradinhos” ou vinhetas; este aspecto releva do facto de o género textual em causa ter como característica marcante e reveladora da sua identidade a presença da imagem e ser, por conseguinte, reconhecido como um género de natureza icónica ou icónico-verbal. O que aparece representado neste texto é, assim, uma ação comunicativa – em que a mudança de turno/de fala aparece marcada pela estrutura e pela ordem dos balões – fortemente vinculada ao contexto sociocultural em que a própria se inscreve.

Por outro lado, poderá dizer-se, ainda neste ponto, que a organização do plano de texto acompanha a organização do conteúdo temático, delimitando as diferentes fases da interação verbal e da situação que essa mesma interação descreve e dá a conhecer: começa-se, pois, por indicar os responsáveis pelas acções descritas – “os caricaturistas” – sendo que este elemento, que funciona como ponto de partida para a leitura do texto, será posteriormente colocado em destaque através do percurso traçado no/pelo plano de texto. O esquema que se segue (figura 3) dá conta do processo que acabamos de referir:

 

 

b) A coesão nominal

Como já foi dito, a coesão nominal é marcada por dois grupos de unidades que se relacionam ou, melhor dizendo, que “tecem” o texto: são os elementos com a função de introdução dos elementos novos, conhecidos por “unidades-fonte” e os elementos com função de retomada dessas “unidades-fonte”.

A primeira unidade-fonte observada no texto é a expressão “professor Freitas do Amaral”, sendo que esse elemento não voltará a ser retomado ao longo do texto.

Um segundo elemento que podemos identificar é a unidade-fonte “os caricaturistas”. Essa unidade será retomada no texto, mais adiante, pelo pronome “eles” (“Que foi que eles fizeram agora?”) e retomada elipticamente em “Ø mexeram” e “Ø parece que caricaturaram…”, dando a ver a ideia de que o elemento “os caricaturistas” será a principal unidade-fonte do texto, como veremos mais adiante. Este é ainda um caso da chamada anáfora pronominal.

A terceira unidade-fonte é também um dos pontos importantes do texto e uma das responsáveis pela criação do humor. O autor do cartoon estabelece, como uma pista para a construção do humor e da crítica presente no texto, a correlação entre os segmentos “… o que há de mais sagrado” e “ … o senhor Bill Gates”. Estes dois elementos não ocorrem como um caso de anáfora, em que uma unidade é retomada pela outra, mas sim como um mecanismo de correferência que trabalha, neste texto, para o estabelecimento da coesão. Isso porque, segundo Campos e Xavier (1991), a anáfora existe quando pelo menos um dos termos tem autonomia referencial. Esse caso não ocorre na relação de Bill Gates com o sagrado. Ou seja, não existe previamente uma correferência entre esses dois termos. Assim, na relação entre estas duas unidades, só entendemos “o sagrado” relacionado com “Bill Gates” a partir da correferência construída pelo texto. Este facto, juntamente com outros elementos, nomeadamente, o deítico “agora”, contribuem para a construção do conteúdo temático e do contexto sociohistórico semiotizados no texto.

c) A coesão verbal

Segundo o que temos vindo a explicitar, os mecanismos responsáveis pela coesão verbal estabelecem as organizaçõestemporal e hierárquica dos processos que são essencialmente realizados pelos tempos verbais. Assim, em relação à temporalidade dos verbos, assumimos uma organização em que os verbos do passado possuem valor de anterioridade, os do presente de simultaneidade e os do futuro de posteridade. Essa temporalidade é marcada pela relação entre o momento da produção e o momento do processo expresso pelo verbo e, acrescenta Bronckart, também o que Reichenbach (1947) chama de “momento psicológico de referência”[28], este último sendo aplicado por Bronckart, com adaptações, à análise de texto. Não nos deteremos, no entanto sobre a aplicação deste ponto focando-nos no facto de Bronckart considerar, na análise da coesão verbal, quatro pontos essenciais na construção da coerência verbal: temporalidade primária e secundária e contraste global e local.

Para a análise da coesão verbal é essencial perceber o mundo discursivo que é semiotizado no texto. Ao analisarmos o tipo de discurso desse cartoon podemos observar, na primeira unidade textual, a presença de marcas linguísticas que apontam para o tipo de discurso “narração” (com verbos que estabelecem um valor de anterioridade) - são essas marcas o uso do pretérito perfeito (“se chegou”), tempo verbal característico da narração e a ausência de pronomes na primeira e na segunda pessoas do singular e do plural.

Contudo, nas unidades seguintes, os parâmetros ligados ao conteúdo temático são interpretados à luz dos critérios de validade do mundo ordinário, o que aponta para o discurso interativo: a ausência de uma origem espaciotemporal explícita, a presença da frase não-declarativa “Que foi que eles fizeram agora?” e a própria imagem que apresenta os balões marcando uma mudança de turno de fala dentro da interação.

Sabemos que o discurso interativo apresenta como tempo-base o presente e o pretérito perfeito, com valor de simultaneidade para o presente e com valor de passado próximo para o pretérito perfeito simples. Desse modo, é essencial conhecer a duração do ato de produção quando falamos de mecanismos de coesão verbal. No entanto, isso não impede a construção de eixos de referência temporal distintos dessa duração de produção. É o caso desse exemplo: ao combinarmos os dois elementos – tipo de discurso e coesão verbal – observamos que a localização do processo visível no tempo verbal aponta para a construção de um valor anterior muito próximo do tempo em que ocorre a interação. Podemos mesmo falar numa localização de anterioridade (pretérito), mas incluída entre dois limites de duração, marcando uma localização de simultaneidade. Esta questão é reforçada quando analisamos o deítico “agora”.

Este deítico possui, neste texto, um papel central. Semanticamente, o “agora” expressa um corte que divide o tempo em dois instantes que se opõem[29]: um “antes” e um “depois”. Neste caso, o “agora” faz referência a um acontecimento ocorrido no passado (fazer caricaturas de uma personalidade sagrada, neste caso, Maomé), mas que também ocorre no presente (fazer caricatura de personalidade “sagrada” no presente, neste caso, Bill Gates) e que co-ocorre no presente. Essa ocorrência, que será localizada à esquerda em relação ao tempo T0, refere-se ao facto de os caricaturistas terem elaborado cartoons sobre Maomé ocasionando, assim, uma crise religiosa que se traduziu numa crise política. Desse modo, num primeiro momento, o “agora” orienta para a inferência sobre a crise que envolveu os caricaturistas e os muçulmanos (ocorrência do passado).

No entanto, como referimos anteriormente, esse “agora” não só apresenta o que se passou, como também faz referência a acontecimentos que co-ocorrem no presente. Assim, e num segundo momento, o “agora” apresenta um significado do tipo “de novo”, “novamente”, “outra vez”, sendo que esta ideia é corroborada na unidade posterior com a expressão “Mexeram no que há de mais sagrado”. Podemos então concluir que o “agora” não só possibilita que haja uma inferência sobre a crise anterior causada pelos caricaturistas, como apresenta a ideia de que essa ação volta a ocorrer no presente, caracterizando-se, assim, por ser um intervalo fechado à direita sem espessura no tempo futuro; ao fazer a oscilação entre os tempos passado e presente, o deítico permite, em consequência, fazer o corte e a retoma dos acontecimentos descritos em relação ao momento de produção do texto. Esse ponto é essencial para pecebermos o processo de coesão verbal desse texto e a sua relação com a construção do mundo discursivo “expor”, marcando, no texto, uma relação entre os processos de coesão verbal e a criação de mundos discursivos.

O segundo cartoon analisado (fígura 4) foi impresso no jornal Público, do dia 04 de fevereiro de 2006. O autor do cartoon é o Luís Afonso. Este mesmo autor é responsável por duas séries: a “Sociedade Recreativa”, publicada na revista Pública que acompanha o jornal Público aos fins de semana, e a série “Bartoon” que é publicada diariamente. Este cartoon em particular foi publicado sem ser associado a série em questão e evoca o mesmo contexto social do cartoon anterior: a visita de Bill Gates a Portugal, acrescida do contexto das eleições presidenciais. Vejamos de seguida a análise deste segundo cartoon.

Texto 2:

 

 

a) A conexão e o plano geral do texto

Em relação ao plano geral do texto, diferente do exemplo anterior, este cartoon apresenta-se centralizado, não havendo, de fato, cenário envolvente. As unidades textuais, apresentam-se, assim, de forma conjunta, com exceção da assinatura do autor, que se encontra no canto direito do texto. Como já referido ainda no exemplo anterior, o destaque dado à mancha gráfica e sua participação na organização temática do género reforça o seu carácter plurissemiótico. Neste exemplo, apesar de não haver mudança nos turnos da fala marcados por balões, podemos depreender, a partir da imagem, que se tratar de uma encenação de diálogo entre as personagens Bill Gates e Sócrates, este último então primeiro- -ministro de Portugal. Portanto, a interação entre os personagens do texto é fortemente centralizada numa única cena, não havendo propriamente um percurso de leitura quadro-a-quadro.

b) A coesão nominal

Como já especificado, a coesão nominal, segundo Bronckart (1999), é marcada linguisticamente por um elemento que introduz uma unidade-fonte e os elementos que retomam esta unidade-fonte. Contudo, em géneros plurissemióticos, é essencial considerar que não só os elementos verbais são considerados referentes, como também os não verbais podem assumir este papel. De fato, neste texto, só é possível uma compreensão do funcionamento textual se entendermos que a própria imagem fornece informações sobre a identificação de unidades-fontes relevantes. Na parte linguística, a primeira unidade-fonte identificada é “Bill”, referindo-se a Bill Gates, e que será, de certa forma, retomado quando o personagem utiliza o “nós”. Este caso é interessante, pois, este “nós” inserido na expressão “aqui entre nós” retoma tanto o elemento verbal “Bill” e a imagem do Bill Gates como a imagem que representa o primeiro-ministro “Sócrates”, além de que mostra uma intimidade entre os dois personagens corroborada pela imagem na qual estão abraçados. Portanto, a unidade de referência, “nós”, remete, sem dúvida, para as imagens do texto, ocorrendo uma interação direta entre o verbal e o não verbal. Além disso, o próprio termo software pode ser correlacionado com “Bill”, referindo-se ao fato de este ser o criador da Microsoft. Podemos então considerar o termo “software” procede a uma retomada da unidade-fonte “Bill”, uma vez que esta relação é essencial para a compreensão do humor do cartoon e, consequentemente, para a funcionalidade do género textual. Um segundo elemento-fonte que podemos identificar é o termo “Alegre” em “Anti-Alegre”. Esta unidade-fonte não será retomada no texto, mas, sem dúvida, introduz um elemento novo, “Manuel Alegre”, então candidato à presidência da República pelo mesmo partido do Sócrates. O “anti” que acompanha o nome “Alegre” sugere uma interpretação em que, apesar de Alegre ser candidato pelo mesmo partido do Sócrates (o Partido Socialista – PS), o primeiro-ministro não apoiou a candidatura de Manuel Alegre, e por isso, no texto, solicita a Bill um software “Anti-Alegre”. Portanto, a identificação de Anti-Alegre como uma unidade-fonte é imprescindível para a compreensão do texto, pois retomará o contexto politico que põe em foco a desavença, dentro do PS, entre Sócrates e Manuel Alegre. Portanto, as correferências construídas neste texto são responsáveis pela construção do humor e da crítica.

c) A coesão verbal

Como já salientámos, a análise da coesão verbal passa necessariamente pela construção do mundo discursivo que é semiotizado no texto. De fato, temos vindo a afirmar que também a imagem participa na construção dos parâmetros ligados ao conteúdo temático, dando informações sobre o tempo da produção, o papel social dos que participam na interação, bem como estabelece referências temáticas. Assim, a própria imagem participa na construção do mundo discursivo.

Neste segundo exemplo, as unidades linguísticas remetem para parâmetros ligados ao conteúdo temático que são interpretados à luz dos critérios de validade do mundo ordinário, o que aponta para o discurso interativo. Assim, a presença da frase interrogativa, “Bill, aqui entre nós, não se arranja um software Anti-Alegre?”, indica a ausência de uma origem espaciotemporal explícita. Além disso, a própria imagem, que apresenta uma interação entre os personagens, mostra a encenação como sendo construída no mesmo instante temporal da enunciação. Estes dois fatores são corroborados ainda pelo uso do verbo no presente do indicativo “não se arranja”, o que indica uma localização de simultaneidade em relação ao T0. Estes fatores indiciam para a conjunção entre a temporalidade explícita verbalmente no texto e o próprio tempo da situação de enunciação. Além disso, a própria imagem reforça esta conjunção, inclusive com a implicação dos agentes-produtores (Bill Gates e Sócrates) na cena construída. Isto indicia a presença do mundo discursivo “expor implicado”.

Outro ponto interessante é a presença do deítico espacial “aqui” que, não sendo propriamente um marcador temporal, reforça a simultaneidade da ação de linguagem construída no texto. No entanto, é de destacar que o “aqui” também é considerado como parte da expressão “aqui entre nós”, o que reforça o grau de intimidade, que é estabelecida pelo autor Luís Afonso, entre Bill Gates e Sócrates, o que, a nosso ver, reforça a implicação dos agentes-produtores na cena enunciativa. Todos este fatores convergem para a criação do “expor implicado” com a presença do discurso interativo, pois, de fato, o discurso interativo apresenta como tempo-base o presente além da implicação dos agentes-produtores do discurso. Assim, é essencial analisar, não só o verbal, como também a interação entre este verbal com o não verbal para pecebermos a relação entre os processos de coesão verbal e a criação de mundos discursivos.

7. Conclusões

Levando em consideração o papel decisivo das práticas linguísticas na concretização das relações com o meio, são os textos que, na qualidade de objetos concretos e atestáveis, nos dão conta da natureza dessas relações. Referindo-se a eles como os correspondentes empíricos das atividades linguísticas, realizados segundo os recursos disponíveis numa dada língua natural, Bronckart classifica os textos de unidades comunicativas globais cuja especificidade composicional depende, em parte, das características da situação de interação e da conjuntura sociohistórica em que se inscrevem, em parte, das atividades sociais que comentam e no contexto das quais são gerados[30].

Face ao exposto, e a partir da análise dos textos, concluímos que os mecanismos de textualização não só participam na organização temática do texto, como também têm um importante papel na construção das funções comunicativas do género. Nesse caso, verificamos que a coesão textual é peça-chave para construir o humor. A análise desses textos mostraram que a coesão, geralmente pensada em termos de relações anafóricas, é aqui estabelecida pela correferência, que por sua vez encaminha para o estabelecimento do humor. Além disso, atestamos a existência entre a relação “tipo de discurso” e “coesão verbal”, sendo este facto também essencial para o entendimento do texto e, consequentemente, para a construção do humor. Outro ponto interessante é que a própria imagem participa na construção das correferências do texto. Neste género, a interação do verbal com o não verbal é a responsável pelos processos interpretativos do leitor e, com isso, fundamental para a apreensão do humor e da crítica. Esta última aceção, apesar de não enfatizada pelo interacionismo sociodiscursivo, configura-se como um ponto relevante na contribuição dos estudos do funcionamento da linguagem.

Deixamos aqui, através desta reflexão, portas para serem abertas e caminhos a serem seguidos. De facto, o estudo da coesão textual está longe de se esgotar e, por isso, deve ter um lugar importante na análise linguística, podendo ser esclarecedor para o entendimento de questões que envolvem os mecanismos de funcionamento das línguas.

 

8. Referências

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Notas

[1] Como refere Bronckart, no seguimento de Leontiev, «(…) ces activités constituent (…) les cadres organisant et médiatisant l´ essentiel des rapports entre les individus et leur milieu: elles constituent en conséquence l´ élément premier ou majeur de l´ environnement humain». (cf. Bronckart, 2004: 114-115).

[2] Este princípio surge bem explícito em Bronckart (1996-1999: 21), quando o autor, ao apontar para uma definição do conceito de “interacionismo social”, refere o seguinte: «A expressão interacionismo social designa uma posição epistemológica geral, na qual podem ser reconhecidas diversas correntes da filosofia e das ciências humanas. Mesmo com a especificidade dos questionamentos disciplinares particulares e com as variantes de ênfase teórica ou de orientação metodológica, essas correntes têm em comum o fato de aderir à tese de que as propriedades específicas das condutas humanas são o resultado de um processo histórico de socialização, possibilitado especialmente pela emergência e pelo desenvolvimento dos instrumentos semióticos».

[3] Cf. Bronckart (2005a: 61).

[4] Cf. Bronckart, 2005a: 61).

[5] Cf. Bronckart (1996-1999: 14).

[6] Cf. Bronckart (1996-1999: 34).

[7] Cf. Bronckart (2005b: 152).

[8] Cf. Bronckart (2005b: 153).

[9] Cf. Bronckart (2005b: 154).

[10] O conceito, que será retomado num ponto mais avançado desta comunicação, será tratado mais adiante.

[11] Cf. Bronckart (2005a: 66).

[12] Cf. Bronckart (1996-1999: 119-135; 2005a: 66-68).

[13] Cf. Bronckart (1996-1999: 249).

[14] Estes processos, apelidados de “isotópicos” possibilitam a construção de cadeias de unidades linguísticas que, por sua vez, contribuem como já se referiu, para a coerência temática do texto, pela retoma/progressão das unidades textuais que integram o espaço do texto.

[15] Cf. Bronckart (2005a: 68).

[16] Cf. Bronckart (1996-1999: 120).

[17] Cf. Bronckart (2005a: 67).

[18] Cf. Bronckart (1996-1999: 259).

[19] Cf. Bronckart (1996-1999: 264).

[20] Cf. Bronckart (1996-1999: 268; 2005a: 67).

[21] Cf. Bronckart (2005a: 67).

[22] Cf. Bronckart (1996-1999: 273).

[23] Cf. Bronckart (2005a: 69).

[24] Cf. Bronckart (2005a: 70; 2005b: 154).

[25] O conceito designa, segundo Bronckart, as diversas unidades linguísticas que concretizam, do ponto de vista linguístico, as funções realizadas pelos mecanismos de textualização (cf. Bronckart,1996-1999: 260).

[26] Cf. Bronckart (1996-1999: 260).

[27] Cf. Bronckart (1996-1999: 267-268; 271).

[28] Cf. Bronckart (1996-1999: 276).

[29] Cf. Sousa (2000).

[30] Cf. Bronckart (2004: 115).