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Revista Diacrítica

versão impressa ISSN 0807-8967

Diacrítica vol.26 no.2 Braga  2012

 

Apresentação

Vítor Moura

 

Entre os dias 28 e 29 de Outubro de 2011, no Auditório do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho, teve lugar o IX Simpósio Luso-Galaico de Filosofia. Com uma frequência bienal, este simpósio foi criado com o objectivo de se constituir como um fórum para o encontro e debate de ideias entre as comunidades filosóficas ligadas às universidades do Minho e de Santiago de Compostela. Esta edição contou com o patrocínio do Departamento de Filosofia e do Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho.

Desde o início, os organizadores desta nona edição pretenderam associar a realização do Simpósio às cerimónias de homenagem ao Professor Acílio Estanqueiro Rocha, por ocasião da sua aposentação. O Prof. Acílio Rocha foi co-fundador do Simpósio Luso-Galaico e um dos seus mais constantes e enérgicos dinamizadores. Sob o signo desta homenagem, o tema escolhido para esta edição foi “A Filosofia na Academia”, em tributo à excelência do percurso académico e científico de Acílio Rocha.

Conferência Inaugural esteve a cargo do Professor Nel Rodríguez Rial. Expressamente dedicado à figura de Acílio Estanqueiro Rocha, a conferência de Nel Rodríguez Rial propôs-se repensar o “velho ofício da filosofia” num exercício que não se limitasse a ser um simples levantamento sociológico das mudanças em curso na Universidade contemporânea, motivadas pela revolução trazida pela disseminação das novas tecnologias aplicadas enquanto ferramentas pedagógicas ou causadas pela adaptação e implementação do modelo de Bolonha. Em vez de uma lamentação sobre o modo como os diversos interesses políticos e económicos estarão a coarctar progressivamente a autonomia da investigação e gestão universitárias, o autor ensaiou uma reflexão “mais modesta” sobre a natureza particular do ofício do pensar filosófico e sobre as exigências pedagógicas que a sua simples existência coloca à Universidade.

A comunicação de Maria Aránzazu Serantes apresentou alguns traços essenciais do pensamento de María Zambrano, destacando sobretudo a vertente que melhor reflecte o modo como a filósofa espanhola soube reunir e condensar a influência de vários mestres. Através da obra desta discípula heterodoxa de Ortega y Gasset, é possível avaliar que temas circulavam por entre os meios intelectuais espanhóis seus coevos. Em particular, a autora opta por singularizar o conceito de razão poética, oferecendo uma arqueologia dos pressupostos, autores e eixos temáticos que terão constituído os alicerces deste conceito axial na filosofia de Zambrano.

A apresentação de Manuel Curado procurou as raízes da noção de inconsciente na história intelectual portuguesa do século XIX, nomeadamente a partir da obra de autores como o Abade de Faria, Cândido de Figueiredo, Bettencourt Raposo, Miguel Bombarda ou José de Lacerda. O teor de todas estas contribuições, necessariamente diversas e mesmo paradoxais, foi compartimentado em três categorias mais salientes: o inconsciente enquanto foco criativo, o carácter manipulável do inconsciente e o inconsciente enquanto perfeição do psiquismo.

O texto de Rebeca Roca Fraga e Martín González Fernández dedicou-se a uma análise de alguns dos mais importantes textos de Noam Chomsky sobre democracia e educação, a partir de uma antologia recente organizada por Carlos-Peregrín Otero. As contribuições de Chomsky sobre o tema geral da educação são avaliadas a três níveis: a discriminação das suas bases epistemológicas, o enquadramento na filosofia política e a reflexão crítica que é proposta pelo autor.

Que lugar para a # loso# a política feminista na universidade contemporânea? Maria Xosé Agra Romero procurou enunciar respostas para esta questão, revisitando o impacto que os estudos feministas e de género tiveram sobre a filosofia, e a filosofia política em particular, ao longo das últimas décadas. Para além da avaliação da importância crescente deste sector da filosofia política contemporânea, a autora dá conta da sua influência sobre a organização da comunidade política actual, algo que ultrapassa em muito o seu estatuto como simples ramo científico.

João Ribeiro Mendes desenhou um retrato da ontologia histórica do filósofo canadiano Ian Hacking, insistindo na especificidade da sua proposta perante a teoria homónima de Michel Foucault. A partir desta base mais descritiva, foi avaliado o modo como o modelo de Hacking poderá sustentar uma nova compreensão de temas filosóficos clássicos, designadamente a questão da natureza da racionalidade científica.

A apresentação de Pedro Martins visou uma avaliação da pertinência e fundamentos da noção de “filosofias nacionais”, em geral, e da ideia de uma “filosofia portuguesa”, em particular. Adoptando uma perspectiva anti-essencialista e historicamente orientada, o autor defende o carácter universal do pensamento filosófico e a partir dessa base propõe uma avaliação crítica da ideia de filosofias nacionais, assumindo como paradigmático o caso português.

Acílio Estanqueiro Rocha proferiu a conferência de encerramento, retomando, em certo sentido, o tema da conferência inaugural: o que pode ser a filosofia para além da academia? Entre a lógica e a ética, ou a epistemologia e a estética, a filosofia é uma prática discursiva profundamente comprometida com o mundo da vida. Enquanto actividade académica, e seguindo o conselho de Kant, a filosofia deve ser mais um instrumento para pensar dinamicamente a realidade – sendo para tal indispensável um profundo conhecimento da sua história – do que uma desenquadrada enumeração de doutrinas.

Braga, Dezembro de 2012