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Ciência e Técnica Vitivinícola

versão impressa ISSN 0254-0223

Ciência Téc. Vitiv. vol.28 no.1 Dois Portos jun. 2013

 

Influência do método de extração do cinamono para controle da antracnose da videira

Influence of extraction method of chinaberry to control of anthracnose of grapevine

 

Cristiane Mendes da Silva1*, Renato Vasconcelos Botelho2, Cacilda Marcia Duarte Rios Faria2, Milena Aparecida Ferrari Mateus2

1 Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Agronomia, Av. Colombo, 5700, CEP 87020-900, Maringá, PR, Brasil.

2Universidade Estadual do Centro Oeste, Departamento de Agronomia, Rua Camargo Varela de Sá, 03, CEP 85040-080, Guarapuava, PR, Brasil.

*Corresponding author:

 

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo comparar diferentes metodologias de preparo do extrato de cinamomo (Melia azedarach L.), sobre o crescimento micelial e a esporulação de Elsinoe ampelina. Nos experimentos in vitro, foram testadas as concentrações de 0, 10, 20, 30, 40 e 50 mL.L-1 de extrato de cinamomo (1:10 m/v), além dos tratamentos padrões com calda bordalesa e mancozebe. Dessas metodologias, escolheu-se o extrato por infusão, para ser testado em condições de campo, avaliando sua ação sobre a severidade da antracnose da videira. Neste experimento utilizou-se as mesmas concentrações do ensaio in vitro com adição de óleo vegetal como adjuvante, além de uma testemunha absoluta e o padrão com calda bordalesa. O extrato que apresentou atividade antifúngica efetiva in vitro sobre E. ampelina foi o aquoso microfiltrado, conferindo um decréscimo do diâmetro da colônia de 82,2 a 99,4%, e da esporulação entre 77,6 e 100%, não diferindo dos tratamentos padrões. Em condições de campo, todas as concentrações do extrato por infusão apresentaram redução significativa da AACPD, não diferindo estatisticamente da calda bordalesa e do óleo vegetal. A redução da AACP da antracnose da videira variou de 51 a 56,3%

Palavras-chave: Vitis labrusca, santa-bárbara, extratos vegetais, agroecologia, produção orgânica.

 

SUMMARY

The objective of this study was to compare different preparing methods of chinaberry extract (Melia azedarach L.) on mycelial growth and sporulation of Elsinoe ampelina. For in vitro assay it was tested the concentrations of 0, 10, 20, 30, 40 and 50 mL.L-1 of chinaberry aqueous extract (1:10 w/v) and the standard treatments with bordeaux mixture and mancozeb. From these methodologies, it was chosen the extract by infusion for experiments in field, where it was evaluated their action on the severity of grapevine anthracnose. In this experiment was used the same chinaberry concentrations of in vitro assay added to vegetable oil as adjuvant, besides a absolute control and standard treatment with bordeaux mixture. In the vitro assays, the methodology that presented an effective antimicrobial activity on E. ampelina was the aqueous microfiltered, giving a decrease in colony diameter from 82.2 to 99.4%, and sporulation from 77.6 to 100%, not differing from standard treatments with bordeaux mixture and mancozeb. In field conditions, all concentrations of chinaberry extracted by infusion showed a significant reduction on AACPD, that did not differ from the treatments with bordeaux mixture and vegetable oil. The reduction of AACP grapevine anthracnose ranged from 51 to 56.3%.

Key words: Vitis labrusca , santa-barbara, plant extracts, agroecology, organic production.

 

INTRODUÇÃO

A antracnose da videira afeta todos os órgãos verdes da planta, desde folhas, gavinhas, ramos, inflorescência até os frutos. Os sintomas iniciais se manifestam por manchas foliares circulares, com margens marrons a negras e bordos redondos ou irregulares. Nas bagas aparecem manchas circulares de cor cinza no centro e preta nas bordas, comumente denominadas de “olho-de-passarinho” (Grigoletti Jr e Sônego, 1993).

Para o controle dessa doença, deve-se aliar a escolha do local adequado de plantio, com o uso de cultivares resistentes, material de propagação sadio, adubação equilibrada, manejo correto da cultura, eliminação de plantas ou partes vegetais doentes e o uso de fungicidas. Entretanto, o uso exclusivo de produtos químicos para o controle da antracnose tem gerado aumento dos custos de produção, dos riscos de intoxicação dos trabalhadores, da contaminação do ambiente e da seleção de patógenos resistentes (Naves et al., 2006).

Considerando a necessidade da redução ou a eliminação do uso de substâncias sintéticas que preconizam os sistemas sustentáveis de produção de frutas, a busca de novas alternativas para o controle de doenças é imprescindível. Nesse sentido, produtos naturais como extratos de plantas que apresentem substâncias antifúngicas, podem oferecer alternativas aos fungicidas sintéticos. De acordo com Hassanein et al. (2008) várias pesquisas com o cinamomo (Melia azedarach L.), árvore da família Meliaceae, têm sido realizadas devido às suas propriedades antifúngicas, bactericidas e inseticidas.

Abou-Jawdah et al. (2002) verificaram inibição da germinação de esporos de Verticillium dahliae, Fusarium oxysporium f. sp. melonis, Cladosporium spp., Botrytis cinerea, Alternaria solani e Penicillium sp. em 100, 95, 87, 84, 75 e 53%, respetivamente, ao utilizarem o extrato de cinamomo obtido com solvente de éter de petróleo. Posteriormente, Carpinella et al. (2003), verificaram por testes de crescimento micelial que extratos hexânico e etanólico de frutos, sementes e folhas de cinamomo demonstraram atividade fungistática contra Diaphorte phaseolorum var. meridionales, Fusarium oxysporum, F. solani, F. verticillioides e Sclerotinia sclerotiorum. In vivo, através de teste de sanidade de sementes, o extrato aquoso de cinamomo apresentou toxicidade máxima, resultando em uma supressão completa do crescimento micelial dos fungos Aspergillus fumigatus e Penicillium spp. quando sementes de milho foram desinfestadas durante 20 minutos com o extrato (Shafique et al., 2005).

Dessa forma, o presente estudo teve por objetivo avaliar, in vitro, o efeito de extrato de cinamomo, obtido por meio de diferentes metodologias, no crescimento micelial e esporulação de Elsinoe ampelina (de Bary) Shear e o efeito do extrato de cinamomo obtido por infusão no controle da antracnose da videira em condições de campo.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Frutos maduros de cinamomo com suas sementes foram coletados nos meses de abril e maio de 2010, no Campus Cedeteg da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), em Guarapuava/PR, e secos em estufa de ventilação forçada a 40 ºC, por 48 horas. Em seguida, foram triturados em moinho de facas e armazenados em sacos plásticos transparentes, durante quatro meses e em temperatura ambiente de 22 a 25 °C.

Experimentos in vitro

Os experimentos in vitro seguiram o delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial [(6 x 6) + 2], com cinco repetições e parcela experimental constituída por uma placa de Petri. O fator principal constituiu-se das metodologias de preparo do extrato de cinamomo e o fator secundário das concentrações desses extratos, além de dois tratamentos padrões com calda bordalesa e mancozebe.

O fator primário constituiu-se das seguintes metodologias de preparo do cinamomo: 1) Pó em meio BDA: adição de frutos e sementes secos e moídos ao meio de cultura BDA (batata-dextrose-ágar) e posterior autoclavagem por 20 minutos a 120 °C e pressão de 1 atm; 2) Extrato aquoso em meio BDA: mistura de frutos com sementes secos e moídos à água destilada (1:10 m/v), seguido de manutenção da suspensão em repouso por 48 horas em recipiente fechado na presença de luz e filtragem com tecido fino (Bogorni, 2003), com posterior adição ao meio BDA antes da autoclavagem; 3) Extrato aquoso autoclavado: preparo semelhante à metodologia 2, com esterilização do extrato em autoclave separadamente, antes da adição ao meio BDA; 4) Extrato aquoso microfiltrado: o extrato aquoso de cinamomo foi esterilizado através da filtragem em membrana Millipore® 0,22 µm; 5) Extrato aquoso – geladeira: preparo semelhante à metodologia 2, com suspensão em repouso por 24 horas no escuro e dentro da geladeira, seguido da filtragem com tecido fino (Seffrin et al., 2008); 6) Infusão: adição de frutos e sementes secos e moídos à água destilada fervente (1:10 m/v) em recipiente fechado por 15 minutos e filtragem (Rosal et al., 2009).

Alíquotas dos extratos da terceira, quarta, quinta e sexta metodologias foram adicionadas ao meio BDA fundente (Bastos e Albuquerque, 2004), enquanto as outras foram esterilizadas junto ao meio BDA, em autoclave.

O isolado de E. ampelina foi obtido a partir de folhas com lesões provenientes de vinhedos da região de Guarapuava-PR, o qual foi mantido em meio de cultura BDA. Após dez dias de crescimento das colônias do isolado do patógeno, discos de 5 mm de diâmetro foram retirados e colocados no centro de placas de Petri com meio BDA com os diferentes tratamentos, e incubadas em câmara de crescimento BOD a 25 ± 1 ºC, por oito dias, no escuro.

Para cada metodologia foram utilizados os seguintes tratamentos: 0, 10, 20, 30, 40 e 50 mL.L-1 de extrato de cinamomo, preparados a partir da solução padrão na proporção 1:10 (1g de pó de cinamomo em 9 mL de água destilada) para os extratos dois ao seis e, adicionados (pó de cinamomo) conforme os tratamentos citados, diretamente ao meio BDA antes da autoclavagem para o extrato um, além de 80% de calda bordalesa na proporção 1:1:100 (sulfato de cobre:cal virgem:água) e mancozebe 2,5 g p.c..L-1 (Manzate® 800, fabricado por Du Pont do Brasil S.A.). As avaliações foram 48, 96 e 144 horas após a repicagem, por meio de duas medidas opostas do diâmetro do micélio com paquímetro digital.

Para a quantificação dos esporos, foram adicionados 10 mL de água destilada autoclavada, por placa de Petri, utilizando-se alça de Drigalski para espalhamento. Em seguida, raspou-se a superfície da colônia para a liberação dos esporos, obtendo-se a suspensão. Uma alíquota de 20 µL da suspensão foi colocada em câmara de Neubauer para determinar a concentração de esporos, ao microscópio ótico, estabelecendo-se uma média de quatro leituras (Carnaúba et al., 2007).

Os resultados foram submetidos à análise de variância e regressão polinomial ao nível de 5% de probabilidade, utilizando-se o programa estatístico SISVAR (Ferreira, 2008).

Experimento em campo

O experimento foi conduzido em Guarapuava, Paraná, de setembro a dezembro de 2010, em vinhedo comercial da cultivar Isabel enxertada sobre porta-enxerto ‘Paulsen 1103’, conduzido em sistema de espaldeira em espaçamento 2,5 x 2,0 m, com três anos de idade e manejado seguindo o sistema orgânico, onde utilizaram-se para o controle de doenças, nos três anos anteriores, quitosana, extratos aquosos de alho e cinamomo.

Para esse experimento optou-se pelo extrato aquoso de cinamomo obtido por infusão devido a sua eficiência no controle do míldio da videira (Plasmopara viticola (Berk. & M.A. Curtis) Berl & De Toni), conforme resultado de trabalhos preliminares, além de sua facilidade de obtenção pelo produtor.

Os tratamentos consistiram das diferentes concentrações do extrato de cinamomo (0, 10, 20, 30, 40 e 50 mL.L-1), com a adição de óleo mineral a 2,5 mL.L-1 (Natur’ L Óleo®, Empresa Stoller do Brasil LTDA) como adjuvante, além da calda bordalesa e da testemunha absoluta somente com água. Por se tratar de um vinhedo orgânico, não foi possível utilizar o fungicida convencional mancozebe como padrão.

As pulverizações foram realizadas semanalmente, com pulverizador manual (P-1500 Brudden®, bico cone regulável), até o ponto de “escorrimento”, a partir do início da brotação em 21/09/2010, totalizando 15 aplicações. Com o início dos primeiros sintomas, em 26/10/2010, a severidade da antracnose foi avaliada em três folhas do ápice de quatro ramos por planta, previamente identificadas, utilizando-se a escala diagramática descrita por Azevedo (1997).

Com os dados da severidade foi determinada a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), segundo Shaner e Finney (1977). No total foram realizadas oito avaliações no período de 26/10/2010 a 14/12/2010, com intervalos de sete dias. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso contendo oito tratamentos e cinco repetições, com parcela experimental constituída por uma planta.

Os resultados foram submetidos à análise de variância e quando significativo realizou-se a comparação de médias pelo teste de Tukey e análise de regressão polinomial ao nível de 5% probabilidade, através do programa estatístico SISVAR (Ferreira, 2008).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Experimentos in vitro

Para as variáveis, crescimento micelial e esporulação, houve interação significativa entre tipos e concentrações de extratos, constatando-se que os efeitos dos fatores são dependentes. Sendo que, no extrato aquoso microfiltrado, o crescimento micelial e a esporulação foram menores.

Em relação à inibição do crescimento micelial de E. ampelina, observou-se que houve efeito linear negativo das concentrações de cinamomo para todas as metodologias testadas (Figura 1).

 

 

Ao comparar as metodologias utilizadas, a maior inibição do crescimento micelial foi verificada para o extrato aquoso microfiltrado, enquanto que o pior desempenho foi observado para o extrato com pó em meio BDA. Os outros extratos apresentaram desempenho intermediário sobre a redução do crescimento micelial do fitopatógeno.

Chagas e Vieira (2007) explicaram que, às vezes, há problemas em alcançar uma correlação linear entre a concentração e eficácia porque, em um extrato, as substâncias bioativas podem não ser distribuídas homogeneamente no interior do material, ou pode ser afetado por meio da técnica ou processo usado para produzir o extrato, o que possivelmente justificaria a baixa eficiência dos extratos com pó em meio BDA, por infusão, aquoso em meio BDA, aquoso autoclavado e aquoso - geladeira.

Porém, apesar da baixa inibição do crescimento micelial do patógeno gerada por alguns dos extratos de cinamomo utilizados neste trabalho, Carpinella et al. (2005) afirmaram que o cinamomo possui atividade antifúngica, que se dá pela presença dos compostos escopoletina hidroxicumarina, vanilina, 4-hidroxi-3-metoxicinamaldeido e (±) pinoresinol, isolados de frutos maduros com sementes. Adicionalmente, Jabeen et al. (2008) encontrou os seguintes compostos em extrato de folhas de cinamomo: β-amirina, ácido ursólico, ácido benzóico e 3,5-ácido benzóico dimetoxi.

Posteriormente, Yang et al. (2011) descreveram 79 compostos voláteis presentes em M. azedarach. Entre os 79 descobertos neste estudo, 64 compostos foram relatados pela primeira vez, e desses, muitos apresentam várias funções, como o ácido octanóico que é utilizado no tratamento de candidíase e infeções bacterianas.

Anteriormente, Carpinella et al. (1999) já haviam demonstrado atividade fungistática e fungicida de extrato etanólico de frutos de cinamomo sobre Aspergillus flavus e Fusarium moniliforme, e Jabeen et al. (2008) relataram que o extrato de folhas de cinamomo suprimiu o crescimento in vitro de Ascochyta rabiei.

Em relação aos efeitos dos extratos testados, as melhores concentrações foram 40 e 50 mL.L-1, apresentando maiores reduções e diferindo-se da concentração de 10 mL.L-1 que se apresentou semelhante à testemunha (0 mL.L-1). Para a maior concentração testada (50 mL.L-1), o efeito do extrato aquoso microfiltrado não diferiu do efeito da calda bordalesa, ambos reduzindo o crescimento micelial do fitopatógeno em 99,27 e 99,23% quando comparados aos extratos com pó em meio BDA e por infusão, respetivamente, que apresentaram menor inibição (Figura 2A).

 

 

Resultados semelhantes em relação ao baixo desempenho, também foram obtidos por Zafar et al. (2002), que verificaram que o extrato aquoso de cinamomo foi desprovido de qualquer atividade antifúngica sobre vários microrganismos, assim como os extratos com pó em meio BDA e por infusão analisados neste trabalho. O mesmo ocorreu com Milanesi et al. (2009) que, ao analisarem o extrato de cinamomo incorporado ao meio BDA sobre o crescimento micelial de Colletotrichum gloeosporioides, verificaram que o mesmo não se mostrou efetivo no controle. Quando a variável tempo foi considerada, observou-se que a partir de 72 h de exposição ao extrato, houve estímulo no crescimento micelial do fitopatógeno. Em relação à variável concentração (5, 10, 15, 20, 25 e 30%), todas as utilizadas estimularam o crescimento do fungo.

Do mesmo modo, o extrato hexânico de cinamomo demonstrou ação semelhante, apresentando propriedades antifúngicas fracas contra os microrganismos testados. Mesmo assim, o extrato hexânico ainda apresentou um efeito inibitório sobre Hyloflora ramosa (6,30 ± 0,84 mm), Aspergillus niger (5,28 ± 0,40 mm) e Fusarium chlamdosporum (5,28 ± 0,74 mm). Além disso, o extrato com clorofórmio de M. azedarach apresentou propriedade antifúngica apenas contra F. chlamdosporum (6,60 ± 1,02 mm), e o extrato etanólico foi ativo apenas sobre H. ramosa com uma zona de inibição de apenas 3,96 ± 0,53 mm, em comparação com o padrão de referência, em que a zona de inibição foi de 18,05 ± 1,72 mm (Zafar et al., 2002).

As concentrações de 30, 40 e 50 mL.L-1 de extrato aquoso microfiltrado reduziram o crescimento micelial em 82,2, 92,9 e 99,4%, respectivamente, as quais se igualaram a calda bordalesa e diferiram da testemunha. De acordo com Milanesi et al. (2006), resultados semelhantes foram verificados ao utilizar o extrato aquoso de cinamomo microfiltrado sobre o crescimento micelial de Fusarium solani, isolado da cultura da soja, em que as concentrações 3, 5, 7, 10, 15, 20 e 30% proporcionaram inibição do crescimento micelial entre 61 e 80%, sendo que a maior inibição foi verificada após 48 h de incubação.

Sobre a inibição da esporulação de E. ampelina, houve efeito quadrático das concentrações do extrato de cinamomo para todas as metodologias (Figura 3). As maiores reduções foram verificadas para o extrato aquoso microfiltrado, seguido do extrato aquoso autoclavado, provavelmente devido à maior extração dos compostos antifúngicos presentes nos frutos de cinamomo por meio da técnica ou processo usado para produzir esses extratos, como sugerido por Chagas e Vieira (2007).

 

 

Apesar das metodologias, extrato aquoso autoclavado, aquoso em meio BDA e infusão se igualarem quanto à redução do crescimento micelial do fitopatógeno. O mesmo não foi observado em relação à esporulação, pois, apesar da baixa inibição de crescimento micelial, o extrato aquoso autoclavado reduziu em uma proporção muito maior a esporulação, se aproximando do melhor extrato (aquoso microfiltrado) e diferindo-se dos extratos que apresentaram um desempenho inferior, inclusive dos que se assemelharam quanto à inibição do crescimento micelial. Ou seja, apesar do extrato aquoso autoclavado não impedir o crescimento micelial do patógeno, reduziu significativamente a esporulação, atuando na disseminação e propagação do fungo em condições de campo, sugerindo-se uma boa alternativa de controle associada a outros métodos.

Além disso, neste trabalho, os efeitos de todas as concentrações do extrato aquoso microfiltrado não diferiram dos efeitos da calda bordalesa e do mancozebe, diferindo-se apenas do tratamento testemunha (0 mL.L-1). As reduções sobre a esporulação de E. ampelina com o extrato aquoso microfiltrado variaram de 77,6 a 100% desde a menor concentração (10 mL.L-1 ) até 50 mL.L-1 de extrato.

Sobre o extrato aquoso autoclavado, as concentrações de 20, 30, 40 e 50 mL.L-1 não diferiram dos tratamentos padrões e reduziram em 43, 53, 59 e 51%, respectivamente. A concentração de 10 mL.L-1 se assemelhou ao tratamento com mancozebe e reduziu a esporulação do fitopatógeno em 40%. Todavia, apesar dos tratamentos 10, 20, 30 e 50 mL.L-1 de extrato não diferirem dos tratamentos padrões, também se assemelharam do tratamento testemunha.

Resultados inferiores foram verificados para o pó em meio BDA, infusão e extrato aquoso em meio BDA, que exibiram aumento de esporulação (Figura 2B), apesar do último não diferir do extrato aquoso autoclavado. Provavelmente, o baixo desempenho desses extratos sobre a esporulação do fungo é devido à rápida degradação das substâncias inibitórias do cinamomo, resultando na redução da atividade antifúngica do mesmo sobre os esporos de E. ampelina (Bavaresco, 2007).

Em conjunto, estes resultados mostram a variação da atividade antimicrobiana in vitro para diferentes extratos de cinamomo, isto é, devido a diferentes métodos de extração ou separação dos ingredientes ativos.

Experimento em campo

Para os resultados de AACPD as concentrações de 10, 20, 30, 40 e 50 mL.L-1 de extrato obtido por infusão apresentaram decréscimo de 51,0, 43,1, 57,6, 53,1 e 56,3%, respetivamente, em que todas as concentrações não diferiram estatisticamente dos tratamentos com calda bordalesa e óleo mineral (0 mL.L-1 de extrato) - Figura 4.

 

 

Nesse caso, não se observou efeito aditivo do óleo vegetal ao extrato aquoso de cinamomo, como verificado por Leite (2010) quando utilizado como adjuvante ao extrato de alho sobre a severidade de doenças foliares em videira. Leite (2010) reduziu em 52% a AACPD do míldio da videira em relação à testemunha absoluta ao utilizar óleo vegetal a 2,5 mL.L-1, potencializando o extrato de alho.

Provavelmente, de acordo com os resultados obtidos neste trabalho, o óleo vegetal mascarou os efeitos do extrato de cinamomo, além de ser efetivo no controle da doença, quando aplicado separadamente. Outro fator sugere que a baixa ação do extrato pode ter ocorrido pelo uso de frutos maduros de cinamomo para o seu preparo pois, conforme Brunherotto e Vendramim (2001) sugerem, o extrato de frutos maduros de cinamomo apresenta efeito inferior ao de frutos verdes ou de folhas, devido à menor quantidade de ingredientes ativos, o que é coerente do ponto de vista de sobrevivência vegetal, uma vez que, nos frutos maduros, as sementes já estão completando a sua maturidade fisiológica e, por isso, têm menor necessidade de defesa química contra herbívoros.

Porém, estudos de Xuan et al. (2005) apresentaram reduções das infeções causadas pelos patógenos Pyricularia grisea e Thanatephorus cucumeris em campos de arroz ao se aplicar extratos de cinamomo. Assim como Cogo et al. (2011), que ao pulverizarem extrato aquoso de folhas de cinamomo a 10% em plantas de café inoculadas com o fitopatógeno Cercospora caffeicola, obtiveram reduções na incidência da cercosporiose.

Cavoski et al. (2012), ao analisarem tratamentos com extrato aquoso de cinamomo nas proporções 1:5 e 1:10 (m/v) em plantas de pepino sobre o controle de nematoide Meloidogyne incognita, observaram reduções na atividade das enzimas antioxidantes catalase e peroxidase, além de desencadear a defesa do hospedeiro, sugerindo uma potencial indução de resistência gerada pelo extrato de cinamomo. Pereira (2006) explica que normalmente os indutores de resistência não atuam sobre o patógeno, contudo, em alguns casos, como provavelmente ocorreu no trabalho de Cavoski et al. (2012), os indutores podem atuar induzindo resistência e ao mesmo tempo afetar o patógeno diretamente, dependendo das dosagens utilizadas.

 

CONCLUSÕES

A metodologia que obteve controle do crescimento micelial de Elsinoe ampelina foi o extrato aquoso de cinamomo microfiltrado, enquanto que para a esporulação tanto o extrato aquoso de cinamomo microfiltrado quanto o extrato aquoso autoclavado apresentaram reduções. As concentrações de 30, 40 e 50 mL.L-1 de extrato aquoso de cinamomo microfiltrado reduziram o crescimento micelial de E. ampelina. A partir de 20 mL.L-1 de extrato aquoso de cinamomo microfiltrado houve inibição total da esporulação de E. ampelina. O óleo vegetal a 0,25% controlou a severidade da antracnose da videira em condições de campo, independentemente da adição de extrato de cinamomo, mascarando o seu efeito.

 

AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa à primeira autora. Ao produtor Lauri por ceder a área para instalação do experimento.

 

REFERENCES

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*Corresponding author:

Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Agronomia, Av. Colombo, 5700, CEP 87020-900, Maringá, PR, Brasil, Tel. 55 (42) 3629-8243, e-mail: crismendes.agro@yahoo.com

 

(Manuscrito recebido em 06.02.2013. Aceite para publicação em 13.06.2013)