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Análise Social

Print version ISSN 0003-2573

Anál. Social  no.233 Lisboa Dec. 2019

https://doi.org/10.31447/AS00032573.2019233.05 

ARTIGOS

“Small talk?”: implicações sociológicas do boato

Small talk? Sociological implications of gossip

João Miguel Pulquério de Paula*
https://orcid.org/0000-0002-6537-907X

*CICS.NOVA.UEVORA. Colégio Almada Negreiros, Campus de Campolide, 3.º piso, sala 333 - 1070-312 Lisboa, Portugal. jmpp@outlook.pt.


 

RESUMO

Este artigo procura refletir sobre as implicações sociais do boato, uma problemática fundamental para a compreensão das interações sociais. Com base num estudo qualitativo que investigou o boato em três grupos sociais inicia-se uma discussão deste fenómeno social, objetivando (des)construir (pre)conceitos, analisar os seus fatores, paradoxos, a sua dinâmica, componentes e funções sociais. Torna-se crucial compreender as características e implicações dos boatos dada a sua influência na modelagem das relações sociais.

Palavras-chave: boato; rumor; grupos sociais; interacionismo simbólico.


 

ABSTRACT

This article seeks to reflect on the social implications of gossip, a fundamental problem for a complete understanding of social interactions. Based on a qualitative study that investigated gossip in three social groups, starts a discussion of this social phenomenon, aiming to (dis) construct (pre) concepts, analyze its factors, paradoxes, its dynamics, components and social functions. It becomes crucial to understand the characteristics and implications of gossips given their influence in modeling social relations.

Keywords: gossip; social groups, symbolic interactionism.


 

Introdução

É através da linguagem que se estabelece a teia de interações sociais, e é ela que permite e que está subjacente a toda a ação social. Desde as pinturas rupestres aos mais avançados símbolos matemáticos, passando pelo discurso político, torna-se evidente a importância da linguagem na ação humana. Neste sentido, o interacionismo simbólico (Goffman, 1959; Mead, 1968), uma das principais correntes do pensamento sociológico, trata precisamente de compreender a importância do símbolo, linguístico ou não, nas interações sociais. Neste artigo procura-se analisar o boato, procurando compreender o papel que desempenha na sociedade. A associação do boato a algo trivial e insignificante é, em certa medida, responsável por existir um parco reconhecimento deste fenómeno como objeto científico, não obstante as funções sociais que desempenha influenciarem sobremaneira as interações sociais. Com efeito, “falar sobre a vida alheia” é efetivamente uma ação social (Weber, 1978) que, grosso modo, se encontra entre o zweckrational e o afetivo, e configura um dos muitos “atos sociais” (Goffman, 1959) que tecem o nosso quotidiano, sendo que muitos deles podem ser enquadráveis como boatos. Assim, temos que o boato é um discurso profuso na vida quotidiana (Paula, 2016, p. 72) e ainda que possa ter uma conotação negativa, é necessário e fundacional à vida social, sendo as relações sociais condicionadas e modeladas, em maior ou menor grau, por este discurso.

O dicionário Priberam (2013) define o boato como “notícia anónima e não confirmada que é divulgada no domínio público”, a fazer lembrar Shibutani (1966) que o designa como “notícia improvisada”. O boato poderá ou não ser anónimo, contudo o “espaço público” referido na definição anterior constitui uma das suas dimensões mais relevantes, pois nele está sempre subjacente a publicitação. Por outro lado, a discussão das funções sociais deste fenómeno torna-se fundamental para desconstruir certas noções sobre o boato e construir outras, desmistificando e descobrindo o papel muitas vezes oculto que este fenómeno acaba por ter no nosso quotidiano (Pais, 2002). O contributo mais relevante deste artigo consiste numa discussão transversal sobre este fenómeno social, com enfoque num olhar sobre a realidade de pequenos grupos profissionais e a sua vivência quotidiana envolta e condicionada por este fenómeno. Pretende-se desenvolver uma reflexão profunda e crítica, objetivando este fenómeno social à luz da análise sociológica para melhor compreender a dinâmica, a forma, a intensidade e os vários tons destas “conversas”, aparentemente triviais.

Abordagem metodológica

Pretendendo analisar o papel do boato nos grupos sociais, este artigo faz dialogar de forma ensaística conceitos, empiria e teoria. Aborda o objeto e os seus traços definidores; as funções do boato nos grupos sociais; os efeitos do boato no plano intra e intergrupal, sendo esta a dimensão de análise preponderante. Para conseguir o insight pretendido sobre a vivência intragrupo, colheu-se da investigação de Paula (2016) material empírico para ilustrar e compreender o papel do boato na vida quotidiana de grupos profissionais de pequena dimensão - um contexto não só rico[1], como pouco explorado.[2]

A investigação de Paula (2016) segue a linha de uma interpretação qualitativa (Denzin e Lincoln, 2005; Guerra, 2006; Pais, 2002), em que foram recrutados por snowball e entrevistados 18 indivíduos repartidos por três grupos profissionais[3]: enfermeiros, professores universitários e técnicos superiores, numa abordagem por casos múltiplos e por contraste-saturação (Guerra, 2006). No grupo de enfermeiros, as idades situam-se entre os 26 e os 34 anos, os técnicos superiores oscilam entre os 33 e os 59 anos e o grupo dos professores universitários, o mais envelhecido, situa-se entre os 48 e os 60 anos. Todos os nomes referidos por Paula (2016), e que aqui se citam, são fictícios. O conjunto de perguntas efetuadas foi a seguinte: “qual é a sua profissão?”, “como descreveria o seu dia-a-dia?”, “fale-me um pouco sobre as conversas[4] (i. e. falatórios, boatos) no seu local de trabalho”, “como surgem essas conversas e comentários?”, “que valor atribui aos comentários?”, “pode descrever essas conversas?”, “para que servem os comentários?”, “o que faz com as conversas que ouve?”, “que lugar ocupam os boatos no momento de adaptação ao grupo?”, “já alguma vez sentiu que falavam de si “por trás das costas”?, “quais os aspetos positivos do boato?”, “quais os aspetos negativos?”. Analisam-se quatro dimensões: o constructo, os motivos, as funções e as consequências, e o foco recai nas dinâmicas de integração vs. exclusão através do boato.

Neste artigo surge como principal referência teórica o interacionismo simbólico (Goffman, 1959; Mead, 1968), pois a interação social baseia-se no facto de a cada momento a vida social implicar a descodificação de símbolos[5]: um olhar, um gesto, uma palavra, todos adquirem diferentes significados em diferentes contextos. Por outro lado, discute-se também a dimensão intergrupo, e neste plano surge como guia a teoria da identidade social (Ritzer e Ryan, 2011, p. 562), que procura explicar e enquadrar as lógicas de discriminação e conflito entre grupos pela identificação[6] dos atores com o seu grupo. Seguindo a metodologia de Weber (1978), com foco na verstehen da ação social, importa sobretudo compreender o fenómeno de forma global enquadrado numa interpretação qualitativa (Denzin e Lincoln, 2005), pela captura e interseção de diferentes planos. Existe, pois assim, uma mescla entre a perspetiva micro e macro, com recortes históricos e apontamentos reflexivos, procurando fornecer um quadro geral de um objeto em si mesmo complexo, multifacetado, mas presente e influente nas interações sociais.

Do boato: (pre) noções, lugares e funções sociais

A ideia prévia que coletivamente temos acerca do boato será a de uma conversa trivial e sem utilidade. A expressão small talk (vd. Merriam-Webster, 2017), conotada com o boato, reflete como este tipo de conversa é percecionada socialmente: algo sem significância e conteúdo que tende a acontecer em situações informais com o intuito de entreter e “passar o tempo”. Procurando definições mais precisas, DiFonzo e Bordia (2007) notam existir diferenças entre um boato, que se refere a uma pessoa em concreto (e. g. A traiu X), e o rumor, que reflete um objeto indefinido (e. g. rumores sobre um crash bolsista). Neste ponto pautamo-nos pelo que refere Paula (2016), que admite a existência de tonalidades várias quanto ao target, mas a manutenção da mesma estrutura discursiva, pelo que se opta pela utilização de um único constructo.

Desde logo, há a noção de que o boato é uma conversa inicialmente privada e sobre algo privado, mas que eventualmente será tornada pública - por certo, a sua característica definidora mais relevante é efetivamente a disseminação. Se pesquisarmos no motor de busca Google (imagens) com a palavra gossip os resultados, invariavelmente, mostram pessoas a segredar umas às outras, sendo este simples exercício uma forma de chegar à noção coletiva deste conceito (Paula, 2016). Para explicar esta dupla vertente recorre-se a dois conceitos da cultura japonesa: o boato é simultaneamente honne (privado), pois corresponde aos sentimentos/conversa privada dita em privado, e tatemae (público), no sentido em que dada a natureza e definição deste discurso, o seu conteúdo tenderá a ser publicitado.[7] O boato é assim um fenómeno social dicotómico, não só por apresentar esta polarização (público vs. privado), mas também porque oscila entre uma dimensão positiva e uma negativa[8], sendo esta bidimensionalidade observável ao nível do conteúdo, consequências e funções (e. g. boato elogioso/positivo vs. boato depreciativo). Esta duplicidade observa-se ainda num aspeto deveras paradoxal: é um fenómeno que está omnipresente na vida social, mas simultaneamente recai sobre ele um juízo social que o condena.

Numa perspetiva histórica, podemos apontar a influência da ordem religiosa como parcialmente responsável por esta condenação, e de facto existem inúmeros trechos da Bíblia e do Corão (Bible, 2010, p. 829; Starkovsky, 2005, p. 451) que em tom de aviso alertam para a necessidade de se distinguir a verdade do boato. Portanto, nas duas maiores religiões do mundo, o boato está ligado a uma noção de inverdade e heresia, e é por isso socialmente reprovado. Outra ideia associada a este conceito é a de “denúncia”, já que o boato intenta avaliar outrem (Eder e Enke, 1991), a que está subjacente a imposição de uma estrutura moralista que serve para explicar e consolidar as normas do grupo criando coesão grupal - o boato sinaliza e denuncia o membro desviante. Neste sentido, Bergemann (2017, p. 389) refere que nos regimes repressivos existem inúmeras falsas denúncias que servem muitas vezes para afastar rivais: “A denúncia generalizada acaba por atuar como mitigação relativamente ao comportamento desviante, uma vez que os atores tendem a evitar comportamentos que possam dar a outros uma oportunidade para os denunciar”.

A exemplificar esta noção surge o Macarthismo[9], em que a defesa dos valores grupais e a consequente punição dos desviantes era de tal ordem que, segundo Achter (2017):

[…] muitas vezes com base em acusações infundadas os visados viam a sua reputação irreversivelmente afetada, o que fez com que o termo Macarthismo adquirisse um significado equivalente à difamação.

Também na história da religião católica, no período da Inquisição, as denúncias (baseadas em boatos) eram utilizadas para culpabilizar e condenar os opositores (Saraiva 2001, p. 62). Este mecanismo está em linha com os resultados de Dias (1999)[10], que refere que os rumores favorecem o endogrupo (reforçando a coesão, punindo os desviantes). Elias e Scotson (2000) também se referem ao papel do boato quanto ao favorecimento do endogrupo, assumindo esta forma discursiva as “vestes de um moralismo a impor”, valores de crenças grupais firmemente defendidos, que dão a imagem de impoluto e idóneo àquele que mais as propalar:

O facto de se mexericar sobre outros sobre tal assunto era prova da própria irrepreensibilidade. Reforçava a comunhão dos virtuosos. … Quando se achava, por exemplo, que um novo morador da “aldeia” não era “muito boa gente”, logo circulavam pelos canais de boataria histórias sobre a transgressão de normas, amiúde sob forma altamente exagerada, como no caso da mulher que ofereceu ao lixeiro uma xícara de chá num dia frio de inverno. [Elias e Scotson, 2000, pp. 124-125]

Nos exemplos anteriores, o boato funciona como forma de controlo social, um instrumento que serve para denunciar o comportamento desviante do free rider (Hardin, 2003), promovendo a coesão grupal pela imposição de um sistema de regras e valores a seguir, assim como respostas sancionatórias em caso de violação (Gabriels e De Backer, 2016; Paula, 2016). Então, haverá um paralelo entre a denúncia e o boato, desde logo ao nível da estrutura, pois o boato subliminarmente procura denunciar, mas também pelos seus resultados, dado que um ambiente de denúncias generalizado, muitas vezes sem fundamento, tem a mesma função social que o boato: a coesão grupal, por um lado, e a exclusão do desviante (free rider), por outro. Neste sentido, na investigação de Paula (2016, p. 64) Isabel (professora) refere que: “o boato lança essas falsas morais, não é? Devemos fazer assim e assim porque aquela pessoa já fez isto e isto e isto e não, não é particularmente positivo”. Com efeito, no contexto académico, Vaidyanathan, Khalsa e Ecklund (2016) que entrevistaram 251 físicos e biólogos de universidades dos Estados Unidos, Índia e Reino Unido, referem que os investigadores são reticentes ou estão impossibilitados de implementar medidas formais para comportamentos que percecionam como irresponsáveis ou com falta de ética, e como resultado recorrem ao boato informal para avisar os colegas e punir os transgressores. Ou seja, há uma lógica presente na perspetiva macro (intergrupal) que desce ao plano vis-à-vis, em que o boato transmite um exemplo a não seguir, um aviso aos incautos que caso não sigam as normas do grupo (coesão), serão alvo de boatos (repressão).

Se o boato pode funcionar como instrumento de poder, objetivando manter o status quo pelo controlo e coesão grupal, também se pode perspetivar a noção inversa em que o boato transporta, clandestinamente, informação proibida, estando assim associado a formas de contrapoder. Com efeito, o boato conserva na sua estrutura este moralismo de denunciar algo íntimo, inconfessável, que transgride de certa forma normas e códigos sociais, sendo por isso um discurso muito ligado à noção de segredo (Simmel, 1906) que o social-oficial tende a reprimir. Nesta esteira, afirma-se que o boato é uma bolsa do subconsciente social onde se diz o indizível, um id social, reprimido por uma camada social mais elevada (ego social). Esta perspetiva é corroborada na entrevista de Avilez (técnico superior entrevistado por Paula, 2016, p. 73), que relata o boato como algo escondido, que se tenta camuflar por entre formas socialmente legítimas, tais como a coberto de um café ou ao fumar um cigarro:

Aquela “pausazinha” do café e do tabaco é sempre propícia a falar de terceiros… Esse é o figurino clássico. É aquele que vastas vezes me foi dado observar. Às vezes, inclusive, “forçados”, cafés forçados. Há o café tradicional, em que as pessoas, vamos beber um cafezinho porque são 10:30, o ritual é esse, mas às vezes há uns cafés forçados também, fora de horas, nitidamente para desabafar ou pôr a conversa em dia… ou porque, entretanto, um deles já não aguenta e precisa de desabafar.

Também no grupo dos enfermeiros é possível observar este padrão, no qual a ocasião em que surge o boato é tendencialmente acompanhada de atividades socialmente legítimas, como as refeições ou após a passagem do turno, como refere Adelaide (Paula, 2016, p. 74):

As conversas acontecem mais na copa, à hora das refeições, mas também as passagens de turno, às vezes também acaba-se por se prolongar um bocadinho a passagem de turno porque surgem sempre determinados assuntos que, às vezes, são inseridos ali noutras conversas.

A este respeito, notámos que o espaço físico da enfermaria, mais fechado, normalizado e hierarquizado, se revelou mais propício ao boato, por comparação com o espaço da universidade, mais aberto e com maior permeabilidade ao espírito crítico, o que parece atuar como détente do boato. De facto, desde Zimbardo (2007) que são conhecidos os efeitos nefastos dos espaços fechados, o que sugere que uma ambiência organizacional mais coartada contribui para o eclodir deste tipo de formas discursivas. Se o enquadramento do boato ao nível dos dicionários já foi realizado (Priberam, 2013), importa também discutir a definição mais frequentemente utilizada pela literatura científica, sendo esta a de Eder e Enke (1991) que definem o boato como: “conversa cujo conteúdo avalia uma pessoa que não está presente”.[11] Ora, esta definição parece insuficiente para descrever este fenómeno social, desde logo porque não contempla dois componentes essenciais: a replicação e a transmissão de informação tácita. Neste sentido, o estudo de Paula (2016, p. 29) oferece uma maior abrangência pois refere-se ao boato como um “discurso de caráter interpretativo, avaliativo e sensacionalista com um conteúdo informacional explícito ou tácito, casual ou intencional, mas pouco fidedigno, que surge em momentos de informalidade, tendente para a desvalorização e negatividade, e que incita subliminarmente à sua adesão, objetivando replicar-se”.

Porém, o mais importante a reter quanto ao boato são as funções sociais que desempenha, desconstruindo a ideia de que é um discurso trivial e inútil. Com efeito, o boato é, na sua essência, sempre uma forma de mapeamento social e é essa função que Dunbar (2004), numa perspetiva evolucionária, lhe descobre. Segundo o autor supracitado, a origem do boato deve-se ao facto de os grupos sociais, inicialmente compostos por indivíduos em número reduzido, progressivamente terem aumentado a sua dimensão o que tornou impossível conhecer face-to-face todos os atores que compõem o grupo. Assim, a tese desenvolvida sugere que o boato sobreveio desta necessidade social, a qual originou um discurso com grande potencial de replicação por grupos sociais mais numerosos, onde não é possível manter um contacto vis-à-vis, permitindo assim obter e transmitir informação - notícias improvisadas como designado por Shibutani (1966). Este aspeto tem um lado paradoxal, pois o mapeamento social é feito com base num discurso pouco fidedigno (Kapferer, 198; Allport e Postman, 1947; Paula, 2016; Elias e Scotson, 2000). No estudo de Paula (2016, p. 66), Constança (enfermeira) refere que:

Existe sem dúvida uma verdade distorcida, porque é a verdade que a pessoa que a está a dizer vive, é a verdade que ela quer transmitir… muitas vezes inclui sentimentos e características da outra pessoa que para ela podem ser verdade.

O mapeamento social é assim feito com a concorrência de “várias vozes”, resultando numa (re)construção do real, não raras vezes com alguns traços fantasiosos para precisamente criar interesse e potenciar a adesão e retransmissão do boato, o que compromete a fidedignidade da análise reputacional feita em determinado contexto. O boato é um conceito paradoxal e na sua dinâmica podemos distinguir uma fase de fechamento (honne), a que se segue a abertura (tatemae), uma constatação que vem na esteira do que Morin (1971) identificou na sua análise[12] sobre o boato em Orleães. Assim, temos que o fechamento nasce no seio da clique, sendo o boato, nesta fase, fator e símbolo de pertença ao grupo, na linha do que Gluckman[13] (1963, p. 311) refere quanto às vivências da tribo Makah: “Os valores e tradições dos Makah encontram-se, em grande parte, nos boatos e em mais nenhuma forma discursiva. Para ser um Makah é necessário participar na fofoca”. Nesta linha de raciocínio, em que existem componentes culturais que são transmitidos pelo boato, Dias (1999) apresenta o caso do mito de D. Sebastião[14] como um evento presente na memória coletiva, transmitido de geração em geração, o que configura um rumor transgeracional. A transmissão do “rumor” de D. Sebastião significa a esperança coletiva num herói, num momento de desespero, uma pequena parte de uma constelação cultural mais vasta (Silva, 1993), em tudo semelhante à transmissão dos valores e tradições dos Makah pelos boatos.

Esta forma de transmissão de informação (ação social baseada em valores, cultura e tradição), muitas vezes tácita, é também mencionada por Baumeister, Zhang e Vohs (2004, p. 117) que a entendem como forma de aprendizagem cultural do ator inserido no grupo. O estudo destes autores foi baseado em dois inquéritos realizados a uma amostra de 58 estudantes universitários, e os resultados obtidos referem que 33% dos boatos eram sobre “amigos”, 30% sobre “conhecidos”, 22% sobre “amigos chegados”, 11% sobre “desconhecidos”, 4% sobre “celebridades” e 1% sobre “familiares”. Ou seja, os atores tendem a “falar” sobre quem conhecem[15], dentro de um certo contexto, objetivando mapear o ambiente social, o que inclui a participação nos fluxos de boatos para incorporarem regras tácitas e estabelecerem relações de confiança através de uma análise reputacional. Não é difícil, nesta perspetiva, integrar o boato como forma de estruturação dos atores (Giddens, 1984), pois este “conta uma história” com a qual podemos aprender normas sociais, modos de estar e ser idiossincráticos de um grupo. Deste modo, até certo ponto, é possível conceber que possa existir uma integração mais facilitada no grupo, pois como refere Avilez (técnico superior entrevistado por Paula, 2016, p. 125):

Ninguém se quer integrar, não fazendo o mesmo…as pessoas percebem o grupo, percebem as lógicas do grupo ao entrarem… e, portanto, facilmente também assimilam esses rituais… não vai dizer, eu até refeito isso, até não sei quanto, eu sobre isso não sei quanto. Não. Pelo menos nas relações profissionais que eu tenho testemunhado, pelo contrário. Até digo mais, essas pessoas… até se integram com mais facilidade… têm que comungar das parvoíces, têm que beber do mesmo veneno, saber das mesmas coisas… senão são um pouco postas à margem.

Assim, podemos afirmar que o boato, numa dimensão mais positiva do conceito, pode ser fator de aprendizagem, numa lógica de integração e socialização ao grupo, e num segundo momento, assumindo-se como controlo social, irá favorecer a coesão grupal - uma função primordial da vida social. Contudo, se o boato pode promover a coesão grupal, também origina dinâmicas centrifugas e de exclusão, tal como se pode observar na investigação de Elias e Scotson (2000, p. 126).[16] Os autores descrevem que os habitantes de Winston Parva que habitam as zonas 1 e 2, os residentes mais antigos (“estabelecidos”), discriminavam através do boato os habitantes da zona 3 (“recém-chegados”), mantendo desta forma a sua coesão grupal que se sentia ameaçada por estes outsiders:

[…] em muitos casos, podemos utilizar o grau de distorção e rigidez das crenças grupais como um padrão de medida, se não do perigo real, pelo menos do perigo vivenciado por um grupo… Os “aldeões”, apesar de bem entrincheirados e poderosos em relação aos recém-chegados que se instalaram no loteamento, decerto acharam que seus novos vizinhos ameaçavam o seu estilo de vida já muito bem estabelecido.

O estudo de Elias e Scotson (2000) diz-nos que os boatos alimentam e constroem crenças coletivas que se cimentam ao longo de anos[17], tornando-se impermeáveis à desconstrução, materializando-se, neste caso, em práticas sociais de exclusão que visam, não mais, manter a coesão grupal. O boato é, assim, ambivalente e paradoxal, ao servir como meio de integração, força e símbolo de coesão grupal acaba também por potenciar processos exclusivos.

Anatomia de um boato: fatores e componentes

Na dimensão positiva do boato, podemos afirmar que o mapeamento do meio circundante pode ser um meio de ganhar informação sobre os atores do grupo, e assim gerir de forma mais eficaz estratégias de relacionamento, criando bonding e empatia mais facilmente com outros atores: o grooming social, conforme a designação de Dunbar (2004). Como afirmam Ellwardt, Steglich e Wittek (2012, p. 632): “… os resultados obtidos sugerem que as fofocas representam um ‘radar sonoro’ que ajuda os indivíduos a explorar e monitorizar a sua paisagem social”, constituindo, nesta perspetiva, uma ferramenta social adaptativa do ator face ao meio. Este modo de adaptação e de perceção sobre o meio circundante (mapeamento social) surge muitas vezes por deliberação com outros atores em que as trocas de informação - Bertolotti e Magnani (2014) referem-se a downloads informativos do grupo para o indivíduo - refletem uma cognição grupal, uma função de sensemaking e problem solving característica do boato (DiFonzo e Bordia, 2007; Shibutani, 1966).

Deste modo, podemos pensar em cenários em que o processo de integração em grupos contempla a transmissão de informação através do boato, de forma tácita ou explícita, sobre normas sociais idiossincráticas de uma estrutura grupal em particular (Baumeister, Zhang e Vohs, 2004; Gabriels e De Backer, 2016; Gluckman, 1963; Paula, 2016). Também Kapferer (1987, p. 55) vem sustentar este ponto: “É por meio do boato que o grupo nos comunica o que devemos pensar, se queremos continuar a integrá-lo… Participar no boato é também um ato de participação no grupo”. Ainda dentro da dimensão positiva do boato, em grupos profissionais a conversa pode ser circunscrita e ter um matiz de inocuidade e trivialidade que a configura como uma forma de entretenimento inconsequente, como corrobora Vítor, professor entrevistado por Paula (2016, p. 68): “Acho que metade disso são palavras ocas, que se dizem mais nesse contexto de grooming, de manter conversa”. Assim, “manter conversa”, por entre assuntos triviais, é uma forma de “manutenção social” promovendo as relações entre atores. Esta linha de pensamento está presente em Gabriels e De Backer (2016) que referem que a conversa trivial, enquadrável como boato, sendo aparentemente insignificante, tem uma importância social incomensurável: o grooming social é crucial para iniciar e manter as interações sociais, evitar o afastamento de atores e construir coesão.

Embora o boato possa ter esta dimensão positiva, refletida ao nível do conteúdo (boato elogioso), funções (coesão grupal) e consequências (bonding/integração), tende a sobressair a sua dimensão negativa através do despoletar de processos de exclusão de atores (Paula, 2016) ou grupos (Elias e Scotson, 2000). Como mencionam Gabriels e De Backer (2016, p. 685): “os boateiros punem os que se desviam da norma e, ao mesmo tempo, enviam uma mensagem aos seus recetores: os que violem as regras serão alvo de boatos e podem ser ostracizados”. No mesmo sentido, Anabela (técnica superior), refere na entrevista a Paula (2016, p. 131) que:

Mas que serve para excluir, serve. Não tenho a mínima dúvida disso… Se começarem a dizer: ah esta não sabe fazer, não faz, não sei quê, começa toda a gente a dizer isso. Já nem se analisa se faz ou não faz. Eu tenho outro caso desses agora ali. Uma pessoa que já percorreu… que já ninguém a queria em lado nenhum… E toda a gente disse que não fazia nada e que não queria fazer e não sei quê, e ali até faz.

Estas consequências mais extremas, seja na perspetiva conflituante entre grupos, seja entre atores intragrupo[18], podem inclusivamente ser enquadráveis como bullying (Kieffer, 2013).

Nesta linha, o estudo de Morin (1971) sobre o boato serve como outlier porque sobressai o seu conteúdo antissemita, o que constitui um exemplo extremo de discriminação pelos acontecimentos históricos a que se encontra conotado: o holocausto. O boato de Orleães consistia em divulgar que, em boutiques cujos proprietários eram judeus, jovens do sexo feminino eram injetadas com drogas, para depois serem raptadas e traficadas. Neste caso, o boato constrói uma crença coletiva com base em medos primários pertencentes ao id social transmitidas pelos elementos: agulhas, drogas, inocência roubada, tráfico humano, sexo. O medo e a perceção de ameaça criam insegurança e originam respostas ao nível do pathos, pelo que se elege um “bode expiatório” que é alvo de boatos negativos. O boato de Orleães, ou os boatos sobre os outsiders descritos por Elias e Scotson (2000), encontram-se mais próximos do modelo de Moscovici (1986) sobre respostas grupais irracionais (“mob mentality”), daí que os processos identitários dos atores com o grupo sirvam melhor para explicar o fenómeno na perspetiva intergrupal.

Contudo, esta forma discursiva nem sempre será uma irracionalidade de massas ou um discurso que segue uma linha totalmente racional. Conhecendo-se a complexidade do discurso e da vida social, será redutor enquadrar o fenómeno em apenas dois polos distintos (Paula, 2016, p.42). No entanto, o mesmo autor também aponta este caráter sub-reptício, com formas indistintas que conferem ao boato uma camuflagem que lhe permite uma vivência subliminar por entre o id social sem ser facilmente detetável e compreendido. Ausente do modelo de Paula está também o fator “incerteza”, argumento central em alguns autores (Dias, 1999; Rosnow, 2001; Allport e Postman, 1947) para explicar o aparecimento do boato. Com efeito, segundo o modelo de Dias (1999, p. 59), a incerteza no seio do grupo nasce por uma necessidade de explicar o incerto pela criação de uma “definição consensual da realidade capaz de garantir a locomoção grupal”. Esta tese aproxima-se da fórmula de Shibutani (1966) que, como se referiu, entende o processo de rumorização como um diálogo grupal, uma discussão que, em última análise, serve para gerar um sentido, dar um racional a segmentos da realidade não inteiramente entendíveis. Esta necessidade de preenchimento de lacunas no que é incerto ou desconhecido[19] é algo inato à cognição, pois para entender o real o ser humano precisa de formar relações causais, de achar uma certa coerência, lógica e estrutura no mundo circundante. É fácil pegar nesta causa e função do boato (explicar o incerto) e encaixar inúmeros mitos[20], lendas e boatos que surgem amiúde no quotidiano, dando-se a cada conversa deste tipo um processo de construção do entendimento da realidade grupal - a premissa base do interacionismo simbólico.

A esta construção da realidade cabe uma dinâmica complexa, tendo Paula (2016) identificado vários componentes que merecem menção e reflexão pois têm funções de potenciação/atenuação destes discursos. Destes componentes destacam-se: Nexo Contextual (NECO), Avaliação Crítica da Informação Disponível (ACID), Crença Inicial Alargada (CIA), Mensagem com Atributos Dissemináveis (MAD), o status dos atores e o grau de conformidade na dinâmica grupal. Quanto aos fatores de mitigação, o NECO[21] assenta na premissa de que para a replicação se efetuar terá que existir interesse na temática do boato, ou seja, o boato propaga-se num certo habitat. A ACID tenderá a desconstruir mitos pouco plausíveis e fundamentados, obstaculizando a sua reprodução. No mesmo sentido, a anonimização da fonte funciona como atenuação da dinâmica replicativa, pois como afirma André (professor) entrevistado no estudo de Paula (2016, pp. 90):

Correu aí uma coisa que foi para mim desagradável porque aquilo saltou-me, e eu vi aquilo justamente no Facebook…Foi uma série de situações que saltaram em relação a uma professora. Epa, o facto de aquilo ser anónimo, para mim a credibilidade é zero.

Não só a “distância” do anonimato[22] dificulta a replicação do boato, como também o fator “proximidade”, diametralmente oposto, tem este efeito pois o contacto vis-à-vis também funciona como (des)construtor da tese disseminada, já que existe um contrabalanço da informação veiculada pelo boato com a informação que se conhece do ator in loco. Ou seja, um maior número de fontes informativas permite uma análise mais fidedigna e uma menor distorção, o que Dias (1999, p. 129) vem corroborar:

[…] transmissão é mais realista, porque os sujeitos tomam conhecimento de um evento através de três emissores, o que lhes permite comparar e contrapor três versões distintas sobre o mesmo assunto, antes de produzirem o seu próprio relato.

Outro fator com um papel fulcral na dinâmica do boato é o status do ator, que pode servir de barreira à disseminação, pois como refere Olga (técnica superior) (Paula, 2016, p. 107): “É uma pessoa com algumas características de liderança. Se não as tiver também não vai contradizer um boato. Deixa passar, não quer saber”. Com efeito, existirão certos atores, sempre com um maior status dentro do grupo, que podem obstaculizar o boato contradizendo-o ou desvalorizando-o na fase de crescendo, o que pode impedir a sua disseminação, algo já observado por Eder e Enke (1991) em grupos de adolescentes. Para além destes fatores, a adesão ao boato depende do grau de emotividade[23] que provoca nos recetores, a principal característica da MAD, e nesse sentido, na investigação de Paula (2016, p. 87), Constança (enfermeira) afirma existir um certo pathos no boato (ação social afetiva), uma emotividade e confabulação que esta liga ao género feminino:

Quanto mais emotivo, mais rapidamente se espalha a notícia. Não queria dizer isto, mas sendo um serviço maioritariamente composto por mulheres, tudo o que tenha a ver com a parte sentimental… é tudo muito mais vivido intensamente. E então, se tiver algo emotivo para acrescentar à novela, mais rapidamente se espalha a informação e também mais rapidamente ela é distorcida.

O pathos é essencial para a adesão porque facilita a crença inicial no boato (CIA), o que aumenta a probabilidade de replicação. Relativamente às diferenças de género suscitadas pela enfermeira Constança e alguns autores (McAndrew, 2014), dado o número, a natureza e a complexidade dos fatores envolvidos, dir-se-á que a existirem, serão muito provavelmente irrelevantes. Por outro lado, se o fluxo grupal é essencial no processo de propagação do boato, existirão também motivações individuais de certos atores, o que os torna mais propensos a (re)transmitir o boato. Como afirma DiFonzo e Bordia (2007), esta é uma forma de o indivíduo se (auto)evidenciar e promover como alguém que detém informação, objetivando, dessa forma, aumentar o seu status dentro do grupo. Deste modo, o status tanto pode ser uma barreira, como se referiu anteriormente, como um motivo para a propalação do boato. De facto, existem estudos (Ellwardt, Steglich e Wittek, 2012) que demonstram que o boato pode permitir uma certa evidenciação do indivíduo perante outros e até facilitar o bonding, mas só até certo ponto, pois o ator que lança boatos de forma excessiva é de algum modo sinalizado e colocado à margem dos demais. Outro fator a ter em linha de conta é a competição entre atores pois é lógico que o boato tendo, grosso modo, um matiz negativo (DiFonzo e Bordia, 2007; Kapferer, 1987; Elias e Scotson, 2000), possa servir como arma para apoucar um rival, um mecanismo igualmente válido para a relação intergrupal. Ademais, o conteúdo tendencialmente negativo do boato, origina trajetórias de exclusão dos atores dos seus grupos, uma perspetiva que sobressai numa leitura global dos três grupos profissionais entrevistados por Paula (2016, p. 63), como relata Ricardo (técnico superior):

Eu nunca ouvi dizer, em 30 e qualquer coisa anos aqui a trabalhar: aquele fulano fez um ótimo trabalho, ou aquele grupo fez um ótimo trabalho. Agora é extremamente fácil dizer: aquele fulano ou aquele grupo não prestam para nada, não sabem o que estão a fazer e não sei que mais… infelizmente é uma realidade muito portuguesa.

Porém, o boato poderá ser confundido com uma crítica legítima, ainda que infundada e difundida. Assim, qual é a fronteira? O grau de disseminação? Veracidade? O mesmo entrevistado, esclarece:

Mais uma vez lhe digo, também tem a ver com a intenção. Um aluno, um estagiário que aqui tenha uma opinião, por exemplo, sobre o orientador, uma opinião negativa, ele chega lá fora ao grupo de colegas: epa, tenho um orientador que é uma besta. Ele não está propriamente a querer, não é esse o objetivo dele, que as outras pessoas depois vão dizer: olha fulano é uma besta. Isso poderá acontecer, eventualmente, mas a intenção era apenas exprimir uma opinião que na opinião dele está correta acerca das características do tal orientador. Percebe? Inadvertidamente pode se os outros agarrarem na coisa por esse lado. Porque repare, enquanto que este tem uma opinião que é a dele acerca do orientador, e vai transmitir aos amigos, aos colegas, os colegas não conhecem esse orientador, e, portanto, aquilo que eles repetirem aos outros, já é sem conhecimento de causa. … mas lá está, eu acho que isto foge um bocadinho ao boato porque o boato tem este caráter de maledicência.

Daqui se retira o “critério da intencionalidade”, um ator dolosamente intenta apoucar outro, logo existe negatividade ao nível do conteúdo, sobreposto à “falta de conhecimento de causa”, que por sua vez indica duas características: algum grau de disseminação pela implicação de fontes secundárias (“ouvir dizer”) donde tende a resultar uma reduzida factualidade do discurso.[24] O conteúdo negativo está conexo com um certo sensacionalismo (pathos) que visa facilitar a replicação, aqui exemplificado pelo atributo negativo “besta” a alguém que como “orientador” deve ter características opostas. Se a intencionalidade, o conteúdo negativo e o sensacionalismo poderão ser critérios para identificar um boato, a sua característica definidora é a disseminação, e por isso necessita sempre da força motriz do grupo. Neste ponto, talvez o mais importante para se compreender a sua dinâmica, encaixa de forma perfeita a noção de Moscovici (1986) sobre o crowd behavior[25], que se define pela perda da individualidade/racionalidade do ator em prol da mentalidade grupal, que tende a ser mais emocional e irracional, o que acaba por facilitar a replicação do boato. Nesta fase de retransmissão por fontes secundárias é difícil contrariá-lo, dado que os atores que fazem parte da maioria grupal irão defendê-lo a todo o custo, tentando evitar qualquer dissonância cognitiva.[26] Se um ator contrariar um boato nesta fase, isso equivale a contrariar o grupo que nele acredita, daí a importância do status dentro do grupo: os conformistas, regra geral, têm um baixo status pois o custo social do desvio é elevado. Por outro lado, os atores “desviantes”, capazes e dispostos a contrariar um boato, estão associados a um elevado status dentro do grupo (Eder e Enke, 1991; Paula, 2016). No cômputo geral, importa reter que neste processo existe uma interdependência destes componentes que atuam sinergicamente contribuindo para a origem e disseminação do boato.

Considerações finais

Primeiramente cabe referir que este discurso está muitas vezes associado a uma conotação negativa, que se tentou desmistificar, pois o boato desempenha funções sociais quer negativas, quer positivas. Entender o boato como um brainstorming grupal, fator de bonding, ou como meio de transmissão cultural, algo que se vê e faz diariamente e ser simultaneamente algo socialmente reprovável, é não só intrigante como desafia muitas das preconceções que existem acerca deste constructo. O boato apresenta duas funções sociais core: a coesão grupal e o mapeamento social dos atores, contribuindo para a estruturação bottom-up de redes sociais complexas. Numa dimensão positiva do constructo, em certos cenários, existe no boato uma transmissão de componentes culturais, assim como modos de agir e idiossincrasias grupais que são de certa forma integrativas. Com efeito, no plano do quotidiano laboral (perspetiva intragrupo), os dados sugerem que o grooming social servirá para monitorizar, mapear e aprender as nuances culturais de cada grupo, o que em última análise facilita a compliance das normas e a integração grupal. Deste ponto de vista, o boato tem uma função estruturante no funcionamento dos grupos sociais. Por outro lado, existem algumas (pre) noções coletivas acerca do boato, sendo que se explorou a sua associação à ideia de denúncia, segredo, honne e tatemae. De facto, o boato denuncia o ator desviante, serve como alerta social, mas tende a ser um discurso que não se “diz abertamente”, daí a conotação com o ato de segredar, embora, por definição, o boato acabe sempre por desembocar nalgum grau de disseminação e publicitação. Este é um discurso que assume formas subliminares, indistintas, com gradações várias, por vezes difíceis de reconhecer, o que lhe permite correr impercetível pelo id social e desempenhar um papel fulcral na modelação das relações sociais.

Identificar um boato passa por olhar para o seu conteúdo, regra geral matizado pelo pathos (e.g desvalorização e negatividade[27]) e um tom moralista que procura sempre a adesão de quem ouve. Não será um discurso reflexivo ou informativo, procura provocar uma reação, e com isso facilitar a retransmissão - parafraseando Paula (2016) uma short story sensacionalista. Para além disso, terá outras características das quais se destacam a intencionalidade, algum grau de disseminação, pouca objetividade, sendo normalmente proferido num contexto de informalidade, a coberto de atividades socialmente legítimas, como durante uma refeição, com o café, ao fumar, misturado com outros assuntos, etc. Por outro lado, o boato é um mecanismo de controlo social bastante eficaz, o que pode explicar que lugares mais normalizados possam estar ligados a uma maior perceção do boato, que atua como forma de denúncia do desvio, constituindo um instrumento de monitorização do free rider. As suas características base, juntamente com a sua definição, ajudam a enquadrar o conceito, permitindo identificar e destrinçar este discurso por entre uma plêiade de tantos outros, porventura até próximos desta moldura, que amiúde se ouvem e dizem no quotidiano de todos nós. Também se demonstrou que o boato contribui para a construção de crenças coletivas, mais ou menos distorcidas, que tanto podem ser inócuas e necessárias, como estarem relacionadas com estereótipos e assumir tons discriminatórios.[28]

Descreveram-se vários componentes[29] presentes neste fenómeno social dos quais se destacam a MAD, a identificação com o grupo e uma dinâmica grupal centrípeta que, em certas gestalt, podem gerar respostas grupais irracionais com rasgos de discriminação, conflito e afastamento de membros do grupo ou de grupos que sejam dissonantes e que representem uma ameaça ao status quo. De notar, intragrupo, o duplo papel do status quer para obstaculizar, seja para potenciar a dinâmica do boato, e corrobora-se o papel central do grupo na disseminação do boato, originando maiorias de opinião que defendem a tese/símbolo que une os membros com grande apego, elevando o custo social do ator que o contradiga. A origem do boato está por vezes ligada a momentos de incerteza social, e a replicação do boato tende a ser balizada por um certo contexto, um habitat onde exista interesse e conhecimento da pessoa em causa.

O boato é um discurso com vários graus de versatilidade e intensidade, e até certo ponto poderá ter funções e efeitos necessários, ficando circunscrito ao grupo, promovendo a coesão e moldando comportamentos, mas em certas gestalt pode o seu conteúdo e replicação ser mais virulento, causando, em maior ou menor grau, danos na reputação, muitas vezes irreparáveis. O boato é um fenómeno social complexo, interpenetrado e compreendido pelo contributo de várias disciplinas e metodologias, estando subjacente a grande parte das interações sociais, pelo que a Sociologia deverá explorar este objeto com maior detalhe. Em contexto profissional o boato encontra-se associado a formas de inclusão grupais, embora sobressaiam as tonalidades negativas e consequentes formas de exclusão de atores dos grupos que devem ser mais investigadas[30], abrindo novas linhas de investigação, nomeadamente a relação com níveis de produtividade, turnover ou bem-estar. Em certa medida, as sociedades, tal como as organizações, precisam do acesso a este material “clandestino” para perceber e implementar estratégias (integrativas ou repressivas) face às pulsões que percorrem o id social, pois é delas que muitas vezes nasce a mudança social. É necessário compreender este fenómeno social, a que se encontram subjacentes lógicas de cooperação e conflito e que efetivamente tem um impacto e influência significativa na modelação de grupos sociais e da sociedade.

 

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Recebido a 10-08-2017.

Aceite para publicação a 26-07-2018.

 

[1] DiFonzo (2008, p. 4) refere que “os rumores no local de trabalho são facilmente difundidos”.

[2] Parafraseando Paula (2016), sobre este objeto e neste setting em particular existem poucas investigações.

[3] Com base no princípio da diversidade referido por Guerra (2006), todos os enfermeiros foram recrutados numa única unidade hospitalar, mas exercem funções em diferentes serviços, o mesmo sucedendo no grupo dos professores que pertencem a diferentes departamentos de uma universidade. O grupo dos técnicos superiores divide-se entre duas instituições, uma câmara municipal e um hospital, e os seus elementos exercem funções em diferentes áreas.

[4] O autor explica que procurou atenuar a conotação social negativa da palavra boato, e também algum receio dos entrevistados em falar abertamente, pela utilização simultânea da palavra “boato” com outras como comentários, conversas (sobre outras pessoas), falatórios, etc.

[5] Segundo Ritzer (2011, p. 361) “só quando existem símbolos significativos é que se pode comunicar”.

[6] Como refere Ritzer e Ryan (2011, p. 562): “Identidade social refere-se à perceção subjetiva do ator em pertencer a um grupo específico. É uma categoria cognitiva que inclui associações emocionais e avaliativas”.

[7] Segundo Gabriels e De Backer (2016), num estudo etnográfico híbrido que envolveu uma amostra core de 20 residentes efetuado sobre a comunidade online Second Life, o boato gera-se primeiro em grupos mais restritos (instant messaging), e depois, aquando da disseminação, pode transbordar para outras plataformas como blogs.

[8] No estudo de Gabriels e De Backer (2016, p. 690), esta dicotomia expressa-se pelas seguintes formas: “os residentes foram classificados como experientes versus inexperientes; poderosos versus impotentes; gerações mais velhas versus novas gerações; residentes tecnicamente qualificados versus residentes ‘sociais’; o fraco versus o forte”.

[9] Um período na história dos Estados Unidos da América em que o influente senador republicano Joseph McCarthy preconizava investigações agressivas a quem se supunha ser simpatizante da ideologia comunista (Evans, 2007).

[10] Dias (1999) enceta dois estudos de caráter experimental. O primeiro foca-se na transmissão linear do rumor com uma amostra de 168 estudantes universitários. O segundo incide sobre a transmissão de tríades para tríades com a participação de 324 estudantes do ensino superior.

[11] Tradução realizada pelo autor que assina este artigo.

[12] Morin (1971) refere três fases na disseminação do boato: incubação, a propagação e a métastase, correspondendo esta última ao desaparecimento gradual do fenómeno.

[13] Gluckman baseia-se na investigação de cariz antropológico que Colson (1953) realizou sobre os índios Makah, tendo este autor vivido com a tribo durante um ano.

[14] D. Sebastião desapareceu na batalha de Alcácer Quibir, originando em 1580 uma crise de sucessão que culminou com os reis de Espanha a governarem Portugal (Silva, 1993).

[15] Em linha com os achados de Elias e Scotson (2000, p. 122): “… o fluxo das fofocas continha simples itens de uso do grupo interno, notícias sobre conhecidos e amigos que eram interessantes em si mesmas”. Allport e Postman (1947) também referem o “interesse” como fator central no boato, presente na sua fórmula (R~IxA): O Rumor depende da Importância multiplicado pela Ambiguidade.

[16] Estudo de cariz etnográfico realizado no início da década de 1960 em Winston Parva, uma localidade suburbana em Inglaterra.

[17] Os autores referem a passagem de informação sobre os outsiders de pais para filhos, o que vai ao encontro do que preconiza Gluckman (1963).

[18] Marques, Yzerbyt e Leyens (1988) referem-se a estas dinâmicas mais extremas como o Black Sheep Effect: as avaliações, positivas ou negativas, de membros do ingroup, tendem a ser mais extremas do que de membros do outgroup.

[19] O boato de Orleães dá-se num momento de grande instabilidade política em França o que, em certa medida, corrobora a importância da incerteza social para o eclodir do boato.

[20] Por exemplo, a construção de mitos sobre deuses advém desta necessidade intrínseca de ver lógica no que é arbitrário e desconhecido e, em certa medida, podem ser considerados como “rumores transgeracionais”, seguindo o pensamento de Dias (1999) quando se refere ao mito do Sebastianismo.

[21] Em linha com o que é referido por outros autores (Allport e Postman, 1947; Elias e Scotson, 2000; Rosnow, 2001).

[22] Admite-se que o anonimato noutro tipo de interações sem ser vis-à-vis, por exemplo nas redes sociais, possa não ter um efeito barreira tão pronunciado, pois o NECO está aumentado e o potencial replicativo é maior. Por outro lado, não menos é verdade que em redes de maior dimensão, uma constante concorrência de outras “histórias” irá contribuir para a diminuição do foco de atenção (i.e interesse) num boato em particular.

[23] Surge como exemplo o rumor de Orleães analisado por Morin (1971), que contém vários elementos que despertam receios primários capazes de gerar uma resposta emocional, o que contribui para a adesão ao boato.

[24] A implicação de fontes secundárias, dependendo do número de atores envolvidos na cadeia, tende a reduzir a fidedignidade da informação.

[25] Um constructo já mencionado neste artigo a propósito de alguns estudos citados (Morin, 1971; Elias e Scotson, 2000).

[26] Este conceito refere-se à coerência que os indivíduos tentam manter relativamente às suas crenças e comportamentos, mesmo perante factos que o contradigam, evitando assim conflito interno e dissonância (Festinger apud Ritzer e Ryan, 2011, p. 67). Neste sentido, Elias e Scotson (2000, p. 122) referem: “É frequente as crenças coletivas serem impermeáveis a qualquer dado que as contradiga ou a argumentos que revelem a sua falsidade, pelo simples facto de serem compartilhadas por muitas pessoas com quem se mantém um contacto estreito”.

[27] Note-se que negatividade em termos de conteúdo não implica uma valorização da sua veracidade. Conquanto, já se referiu que são discursos com um grau de fidedignidade reduzido porque são por definição sensacionalistas.

[28] Dias (1999, p. 147) refere: “… defendemos uma similitude e uma complementaridade de funções sociais entre estereótipos e rumores”, algo que ilustrou através dos exemplos de Elias e Scotson (2000) e Morin (1971).

[29] Com base em Paula (2016).

[30] Dado o papel cada vez maior dos pequenos grupos de trabalho nas organizações.

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