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Análise Social

versão impressa ISSN 0003-2573

Anál. Social  no.223 Lisboa jun. 2017

 

ARTIGO

 

Estratégias de comunicação digital dos partidos brasileiros e portugueses: um estudo comparado

Strategies of digital communication by Brazilian and Portuguese political parties: a comparative study

 

Sérgio Soares Braga*, Leonardo Caetano Rocha**, Márcio Cunha Carlomagno***

*Departamento de Ciência Política, Universidade Federal do Paraná, Rua General Carneiro, 460, Ed. Dom Pedro I – 9.º andar, sala 908, Curitiba, PR, Brasil . E-mail: sssbraga@gmail.com.br

**Departamento de Ciência Política, Universidade Federal do Paraná, Rua General Carneiro, 460, Ed. Dom Pedro I – 9.º andar, sala 908, Curitiba, PR, Brasil. E-mail: rocha_lc@yahoo.com.br

*** Departamento de Ciência Política, Universidade Federal do Paraná, Rua General Carneiro, 460, Ed. Dom Pedro I – 9.º andar, sala 908, Curitiba, PR, Brasil. E-mail: mccarlomagno@gmail.com

 

RESUMO

 

O objetivo deste artigo é fazer uma análise comparada das estratégias de comunicação digital dos partidos brasileiros e portugueses. Procuraremos verificar a validade, para o caso dos sistemas partidários destes dois países, de três hipóteses gerais formuladas pela literatura internacional sobre a temática: a hipótese da correspondência entre características das organizações partidárias e estratégias de interação na internet, a hipótese da “normalização”, e a hipótese do surgimento de modelos mais interativos e “citizen-initiated” de comunicação partidária. Para concretizar essa análise procuraremos dialogar com os resultados e aprofundar a proposta metodológica sugerida por Catarina Silva nos seus estudos sobre os partidos portugueses em período não-eleitoral.

Palavras-chave: Partidos políticos online; tecnologias digitais; internet e política; estratégias de comunicação política.

 

ABSTRACT

 

This article makes a comparative analysis of digital communication strategies by Brazilian and Portuguese parties. We seek to verify the plausibility for these political party systems of three general hypotheses proposed by the international literature on the subject: the hypothesis of “normalization,” the hypothesis of correspondence between characteristics of party organizations and interaction strategies on the Internet, and the hypothesis of the emergence of more interactive and “citizen-initiated” models of party communication. To do so we deepen the methodological approach suggested by Catarina Silva in her studies of the Portuguese parties in the non-electoral period.

Keywords: political parties online; digital technologies; internet and politics; strategies of political communication online.

 

INTRODUÇÃO: OS PARTIDOS POLÍTICOS E A INTERNET

 

Os novas media provocam mudanças profundas nas relações sociais contemporâneas, dinamizando e descentralizando a produção e a troca de informações, produzindo assim uma lógica diferenciada em relação aos chamados media tradicionais. O campo político não está alheio a tais mudanças. Ao contrário, a internet permite um acesso maior às informações de carácter político, bem como uma maior interação entre os cidadãos e o sistema político, dinamizando as relações entre a esfera civil e a esfera política. Tal facto tem implicado em ações políticas efetivas na esfera offline, cujos exemplos mais conspícuos são as campanhas eleitorais de Obama nos EUA, movimentos como a Primavera Árabe no Egito, as manifestações ocorridas desde junho 2013 no Brasil, e novas formas de organização partidária surgidas recentemente, tais como o Podemos e o Ciudadanos na Espanha (Castells, 2009; Shavelzon, 2015).

Neste contexto, a compreensão da ação partidária na web mostra-se ­extremamente importante para os estudos no campo da ciência política, na medida em que nos permite observar como tais instituições têm reagido à incorporação crescente das tecnologias digitais na política e, eventualmente, têm aproveitado os potenciais das mesmas de modo a atenuar os seus problemas de legitimidade. Isto porque, como demonstram vários estudos recentes, os partidos políticos estão entre as instituições mais afetadas pela crise de legitimidade que atravessa algumas das democracias contemporâneas (Dalton e Wattenberg, 2002; Dalton, Mcallister e Wattenberg, 2003; Dalton, Farrell e Mcallister, 2011). Por esse motivo, desde a década de 1990 são vários os estudos que procuram abordar a questão de como as tecnologias digitais afetam as organizações partidárias. Entretanto, apesar dessa grande quantidade de estudos, a imensa maioria deles não possuem carácter comparativo, analisando apenas determinados sistemas políticos isoladamente.1 Mais importante ainda, mesmo os poucos estudos de cunho comparativo, têm carácter excessivamente quantitativo procurando detetar alguns padrões gerais de maneira agregada, sem efetuar uma análise qualitativa mais aprofundada das relações entre os padrões observados no uso da web e as características de determinados partidos, especialmente as suas características organizacionais.

Neste texto procuraremos preencher esta lacuna, efetuando uma análise mais aprofundada não de muitos casos, mas um estudo comparado da atuação online das agremiações partidárias em dois sistemas políticos específicos, ou seja, no Brasil e em Portugal. Ao buscar tal objetivo, pretendemos acrescentar conhecimento a outros estudos nesta área, que têm analisado a atuação dos partidos políticos no mundo digital numa perspetiva comparada, levando em conta diferentes contextos (Russmann, 2011; Fuentes, 2012; Vaccari, 2012; Auckland e Gibson, 2013; Welp e Marzuca, 2014).

Os motivos da escolha desses dois países para um estudo comparado foram os seguintes: i) A existência de estudos prévios sobre os dois países de natureza semelhante ao que pretendemos empreender no presente artigo; ii) O facto de nos termos inspirado em estudos sobre os partidos portugueses para elaborar a nossa metodologia de análise, como esclareceremos adiante; iii) apesar destes dois países apresentarem uma tradição cultural comum, as suas características institucionais são distintas, assim como são diferentes as características dos seus sistemas políticos e partidários, como veremos em seguida.

Assim sendo, uma análise comparativa entre estes dois países justifica-se porque, mesmo levando em conta as suas raízes culturais comuns, eles possuem sistemas políticos bastante diferentes: no caso do sistema político brasileiro temos um sistema de governo presidencialista com poderes de agenda concentrados no presidente da República, sistema partidário altamente fragmentado e sistema eleitoral de lista aberta com voto personalizado, enquanto o sistema político português se caracteriza por um sistema de governo semipresidencialista, com sistema partidário de pluralismo moderado e sistema eleitoral de lista fechada, como o voto altamente partidarizado (Leston Bandeira, 2004; Palermo, 2000). Assim, no tocante à metodologia comparativa, esta é uma comparação pela diferença (ou método da diferença, na categorização de Stuart Mill (1961), pois entre os dois casos escolhidos as diferenças são estruturais e mais significativas do que as eventuais semelhanças, tendo em vista a composição do sistema político brasileiro e, sobretudo, o seu tamanho e diversidade em termos de partidos e sistemas eleitorais.2

Para cumprir tal objetivo, este artigo será elaborado a partir do diálogo com os estudos de Catarina Silva sobre o comportamento dos partidos portugueses na web e nos seus websites (Silva, 2012, 2013). Nestes trabalhos, Silva elaborou uma metodologia de análise de conteúdo dos WP a partir da síntese de outras metodologias anteriores (Gibson e Ward, 2000) e baseada nas seguintes dimensões: difusão de informação, interação, mobilização e sofisticação (Silva, 2013, pp. 202-204 para os critérios de codificação das variáveis). A principal conclusão da autora é a de que o desempenho dos diferentes índices está associado a determinadas características organizacionais e às estratégias implementadas pelos diferentes partidos políticos. Assim, partidos angariadores de votos e de cargos (vote and office seeking) tais como o PS, PSD e CDS-PP apresentariam websites mais personalizados, com maior presença de shovelware (partilha de notícias dos media) e de frames de conflito, comparados com os sites dos partidos propugnadores de políticas públicas (policy seeking), tais como o PCP, BE e PEV.3

Esse problema da relação entre características organizacionais dos partidos e presença na web, abordado por Catarina Silva a partir das indicações de Andrea Romelle (2003), será o problema central do nosso estudo. Como se sabe, estas autoras caracterizam três grandes “tipos puros” de partido, cuja presença na rede tende a refletir, grosso modo, algumas das suas características morfológicas: i) os partidos policy-seeking, ou seja, buscadores de política, que possuem programas definidos, ideologias bem articuladas e que procuram influenciar a agenda pública com o objetivo de realizar mudanças substantivas na sociedade. Geralmente, estes partidos utilizam as eleições e as tecnologias digitais predominantemente com o objetivo de fortalecer a organização mais do que de maximizar o número de votos a qualquer custo. Sob o aspecto organizativo, procura estimular a participação de filiados/ativistas na vida partidária e contam com uma forte estrutura de mobilização da militância. No caso de Portugal, os partidos que mais se aproximariam destes tipos puros seriam o PCP e o BE e, no caso brasileiro, seriam o PSOL e o DEM e, parcialmente, o PSDB e o PT; ii) em seguida, temos o tipo de partido vote-seeking (maximizador ou angariador de voto) que são aqueles cujo principal objetivo é vencer eleições como meio para compor governos. O seu programa tende a possuir maior grau de flexibilidade e pode ser adaptado para otimizar as possibilidades de vitória nas eleições através de estratégias de marketing para conquistar o eleitor mediano. O nível de envolvimento dos filiados na vida partidária é baixo, a estrutura partidária não é grande e as campanhas eleitorais e o emprego das tecnologias digitais são altamente profissionalizados. No caso de Portugal, como foi dito, os partidos que estariam mais próximos deste modelo seriam o PS e o PSD e, no caso brasileiro, seriam o PSDB e o PT, partidos que lançam frequentemente cargos às eleições maioritárias, e mais competitivos do ponto de vista eleitoral. Todos estes partidos, embora também tenham densidade programática e polarizem o debate político ao nível nacional, adotam estratégias de captação de votos e de uso da internet altamente competitivas, com vistas a persuadir o eleitor mediano e maximizar as suas chances de sucesso eleitoral; iii) por fim, temos os partidos office-seeking (angariadores ou maximizadores de cargos), que são aqueles partidos com características mais fisiológicas e que priorizam a participação no governo, evitando comprometimentos programáticos que obstaculizem coligações políticas. Procuram apenas obter os votos suficientes para participar em coligações governamentais e os seus membros tendem a privilegiar o acesso aos recursos provenientes do Estado. No caso de Portugal, um exemplo desse partido é o CDS-PP e, no caso brasileiro, a grande maioria de partidos fisiológicos que dão apoio parlamentar aos mais diferentes tipos de governo, tais como o PMDB (o maior partido brasileiro em termos de filiados) e o PP, dentre outros. Como veremos adiante, uma das proposições existentes na literatura sobre o assunto é a de que estas diferenças organizacionais entre os partidos tendem a repercutir os seus padrões de atuação nas redes digitais, embora as distinções entre os partidos não devam ser consideradas com excessiva rigidez, assim como sua presença no ambiente online.

Esclareça-se, por fim, que procuraremos dialogar com as contribuições de Catarina Silva na nossa análise, e não apenas aplicar a metodologia por ela empregada no seu estudo sobre a presença dos partidos portugueses na esfera virtual. As principais diferenças do nosso enfoque em relação a esta autora são as seguintes: i) procuraremos analisar também o uso dos media sociais tais como Facebook, Twitter e Canais do Youtube pelos partidos, procedimento que não é efetuado pela autora; ii) embora a nossa análise incida sobretudo nos períodos não-eleitorais, buscaremos abranger os períodos eleitorais, inclusive o último pleito eleitoral português de 4 de outubro de 2015; iii) enfatizaremos a dimensão participativa das estratégias de comunicação digital dos partidos políticos e as suas interações no Facebook, ao contrário da autora, que prioriza outras questões tais como a personalização das mensagens difundidas nos websites, a produção ou não de conteúdos próprios pelos partidos políticos e/ou a conflitualidade das mensagens veiculadas. Desse modo, embora a hipótese da associação entre características organizacionais dos partidos e a sua atuação na esfera digital seja central no nosso enfoque, procuraremos também verificar outras duas hipóteses extraídas do diálogo com a literatura, para o caso dos sistemas partidários brasileiro e português: a hipótese da “normalização”/“equalização”; e a hipótese do surgimento de modelos mais interativos e “citizen-initiated” de comunicação partidária. Procuraremos testar a validade dessas proposições para cada um dos sistemas partidários examinados.

 

UNIVERSO EMPÍRICO DA PESQUISA, METODOLOGIA DE ANÁLISE E PROPOSIÇÕES BÁSICAS

 

O primeiro passo para a feitura de uma análise comparativa é chamar a atenção para as características institucionais distintas dos sistemas políticos e eleitorais de Portugal e do Brasil, que condicionam as diferenças entre as características dos sistemas partidários dos dois países. No Brasil, como é sabido, vigora um sistema de governo presidencialista e um sistema eleitoral proporcional de lista aberta, responsável pela geração de um dos sistemas partidários mais fragmentados do mundo. Em Portugal, vigora um sistema de governo semi-parlamentarista, com parlamento unicameral e um sistema eleitoral de lista fechada, que produz um sistema de partidos rígidos e coesos, refratários a uma representação política excessivamente personalizada, ao contrário do caso brasileiro (Leston-Bandeira, 2012; Mateus e Ramalho, 2013). No tocante ao sistema partidário propriamente dito, segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral do Brasil (TSE) existiam no período da nossa pesquisa (junho-agosto de 2015) 32 partidos registados legalmente, sendo que 21 desses possuíam representação na Câmara dos Deputados. Já em Portugal, segundo os dados do Tribunal Constitucional português, havia um total de 22 partidos registados, sendo que 6 deles obtiveram representação do parlamento (http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/partidos.html. Acesso em setembro de 2015). Na nossa análise, concentrar-nos-emos apenas nos partidos com representantes nas Câmara dos Deputados dos dois países entre junho e setembro de 2015. Assim, examinaremos ao todo os 27 partidos políticos indicados no quadro 1.

 

 

Como pode ser observado pelo quadro, independente do debate científico sobre a ação dos partidos no mundo virtual, o facto observável é que, com a popularização da internet e dos media digitais, os diferentes atores políticos (dentre eles os partidos) mais e mais estão transferindo as suas atividades para plataformas digitais, institucionalizando progressivamente um espaço de interação entre os diferentes atores políticos que alguns analistas políticos qualificaram como “sistema político virtual” (Norris, 2001). Com efeito, todos os 21 partidos brasileiros e os 6 portugueses com representação parlamentar utilizaram websites partidários (doravante referidos como WP) oficiais durante o período da pesquisa, e todos estavam online no período final da coleta de dados (setembro de 2015). Além dos WP, com exceção do PCP todos eles utilizaram redes sociais próprias, mantendo contas ativas no Facebook (93,0%), Twitter (96,8%), e canais específicos do Youtube (96,0%), além de serem usuários episódicos de outros media, tais como arquivos de fotografias Flickr e Instagram (redes de compartilhamento de imagens). Assim, de um ponto de vista geral, podemos afirmar que a totalidade dos partidos brasileiros e portugueses esteve presente on-line usando amplamente a internet e os principais media sociais “Web 2.0” para divulgar as suas atividades e interagir com os cidadãos. A partir desta constatação, podemos formular as seguintes questões de pesquisa: quais as características desta presença e o que nos diz ela sobre a atuação dos partidos dos dois países no sistema partidário? As características da competição partidária no mundo offline estariam a reproduzir-se na esfera virtual, havendo portanto uma tendência para a “normalização” e para a reprodução da “política como de costume” como querem alguns autores (Margolis e Resnick, 2000)? Verifica-se nos sistemas partidários dos dois países uma correspondência entre características organizacionais dos partidos e a sua atuação online, como postula uma vertente da literatura (Rommele, 2003)? A internet, especialmente as redes sociais, têm produzido um formato mais interativo e participativo de comunicação partidária nestes países, como afirmam alguns analistas (Gibson, 2015; Lilleker e Jackson, 2010)? O objetivo deste texto é contribuir para a abordagem destas questões centrais além de oferecer uma visão abrangente e panorâmica das atividades dos partidos brasileiros e portugueses na internet.

Para responder a estas indagações acima, adotaremos os seguintes procedimentos metodológicos.

Inicialmente, efetuaremos uma análise de conteúdo dos WP dos partidos brasileiros e portugueses utilizando, para fins de comparação, as categorias propostas por Catarina Silva na sua análise de conteúdo sobre os partidos portugueses (Silva, 2012, 2013).

Em segundo lugar, examinaremos a presença dos partidos dos dois países nos media sociais a partir do grau de atenção recebido pelos mesmos nesses media, aplicando (mutatis mutandis) uma metodologia semelhante à empregada por Cristian Vaccari e Ralph Nielsen na sua análise das eleições intermediárias norte-americanas de 2010 (Nielsen e Vaccari, 2014).

Por fim, analisaremos a atuação dos partidos numa rede social específica, o Facebook, a fim de verificar se os partidos estão interagindo com os apoiantes e cidadãos online e com que intensidade, bem como se estão mantendo esta atuação online para além dos períodos eleitorais.

Essas serão as “variáveis dependentes”, que empregaremos para mapear as diferentes estratégias de comunicação online dos partidos dos dois países. Procuraremos relacionar estas estratégias com uma série de condicionantes “offline”, através do emprego de categorias que constituirão as variáveis “independentes” de nosso estudo, extraídas da literatura sobre a temática e também dos dados sobre os partidos políticos disponíveis no site TSE brasileiro e no Tribunal Constitucional Português. De entre estas “variáveis independentes” podemos mencionar as seguintes:

 

i) Potencial de mobilização: definido como o número de filiados de cada partido em julho de 2015. A hipótese básica subjacente a esta classificação é a de que partidos com maior número de filiados e militância mais ativa utilizarão de forma mais eficaz e com maior intensidade a internet para informar e engajar o eleitor através de plataformas virtuais, assemelhando-se ao padrão descrito como “partido buscadores de políticas públicas” por Catarina Silva (2013).

ii)  Tamanho do partido, mensurado pelo percentual da bancada de cada partido nas câmaras baixas dos dois países em julho de 2015. A partir daí foram definidas três categorias de partidos: (i) partidos grandes, que são aqueles que obteriam representação parlamentar caso fosse adotada uma hipotética cláusula de barreira de 4%; (ii) partidos médios, que são aqueles com bancada entre 2 e 4%; (iii) partidos pequenos, que são aqueles com bancada na Câmara inferior a 2%. A expectativa é de que partidos com maior número de deputados e maior bancada utilizem mais as ferramentas Web 2.0 nas várias dimensões de sua atuação na internet.

iii) Ideologia: seguindo indicações da literatura recente sobre partidos políticos (Tarouco e Madeira, 2013a, 2013b; Silva, 2013; Mateus e Ramalho, 2013; Lisi, 2015), definimos três categorias de partidos aplicando a variável ideologia: partidos de direita, de centro e de esquerda. Além disso, demos um passo adiante em relação a esta literatura e classificamos os diferentes partidos num gradiente ideológico-programático que varia de 1 (partidos mais conservadores ou à direita do espectro político) a 27 (partidos mais radicais ou à esquerda do espectro ideológico). A expectativa é de que partidos de esquerda usem de forma mais intensa as ferramentas participativas e mobilizadoras dos websites e promovam maior engajamento através dos media sociais.

iv) Capilaridade: como indicador da capilaridade dos partidos ao nível nacional utilizamos, para o caso brasileiro, o número de prefeitos eleitos por cada partido nas eleições de outubro de 2012 e, para o caso português, o número de conselheiros municipais eleitos por cada partido nas eleições autárquicas de 29 de setembro de 2013. Essa variável serve para mesurar o grau de ramificação organizacional dos diferentes partidos ao nível municipal. Espera-se que partidos com maior enraizamento local e em pequenas municipalidades usem de forma mais intensa as ferramentas informativas presentes nos websites e nos media sociais, assemelhando-se ao padrão dos “partidos buscadores de cargos” caracterizado por Catarina Silva (Silva, 2013). A operacionalização desses dois blocos de variáveis independentes (tamanho do partido; ideologia; capilaridade; potencial de mobilização) e dependentes (índice de diversificação dos websites; atenção recebida online; engajamento no Facebook) permitir-nos-á testar três grandes hipóteses derivadas da literatura sobre o tema:

1) Em primeiro lugar, verificar empiricamente, para o caso dos países examinados, se as tecnologias digitais e a internet estão provocando a “normalização” (reiteração das assimetrias e ­desigualdades offline) ou uma maior “equalização” da competição política entre os partidos. 4

2) em segundo lugar, verificar a hipótese dos condicionantes organizacionais das diferentes estratégias de comunicação online dos partidos político anteriormente mencionada (Romelle, 2003);

3) e, por fim, testar a hipótese do “engajamento”, i. e., se os partidos de facto estão interagindo com o público online ou apenas estão na rede sem ofertar maiores oportunidades de interação com o internauta, sendo a interação um fenómeno “outlier” e observado apenas em alguns poucos partidos. A este respeito, podemos detetar a existência de pelo menos três posições bem demarcadas na literatura sobre o assunto: uma segundo a qual os partidos estariam apenas “pregando para os convertidos” ao divulgar mensagens para um público já previamente predisposto a concordar com elas (­Norris, 2003); outra segundo a qual os partidos na esfera digital estariam “pregando através dos convertidos” ao atingir um público mais amplo a partir dos simpatizantes próximos (Vissers, 2009); e, por fim, uma posição segundo a qual os media sociais estariam dando origem a um formato mais dialógico e participativo de atuação partidária (Gibson, 2015).

 

ANÁLISE DOS RESULTADOS: INFORMAÇÃO E MOBILIZAÇÃO NOS WEBSITES DOS PARTIDOS BRASILEIROS E PORTUGUESES

 

Podemos agora passar à análise da presença online dos partidos dos dois países, procurando averiguar a plausibilidade das proposições básicas que orientaram a elaboração do presente texto. Como foi dito, a análise das estratégias de comunicação online dos diferentes partidos brasileiros foi empreendida no mês de setembro de 2015 atualizando e aprofundando a metodologia de análise desenvolvida em outros estudos (Braga et al., 2009; Silva, 2012, 2013; Rocha, 2014), sendo que para o caso das estratégias dos partidos portugueses no Facebook coletamos dados até à primeira semana de outubro de 2015.

Uma primeira aproximação à caracterização dos padrões de presença online dos partidos dos dois países é fornecida pelo exame do gráfico abaixo, onde está sistematizado o comportamento dos índices de difusão de informação, interação, mobilização e sofisticação dos WP brasileiros, empregando a metodologia utilizada por Silva na sua análise dos partidos portugueses anteriormente mencionada (Silva, 2012).

Pela figura 1 podemos examinar as diferentes características dos WP dos partidos brasileiros e portugueses e analisar também algumas propriedades da presença das agremiações partidárias no mundo digital. Podemos verificar inicialmente a existência de um pequeno grupo de partidos nos dois países com WP de melhor desempenho e com estratégias de comunicação mais diversificadas, tais como o PSDB, PT, PRB e PDT no Brasil, e PSD, PS e PCP em Portugal. Outro dado interessante do gráfico é que boa parte dos partidos brasileiros e portugueses privilegia a estratégia da oferta de informações sobre os ­partidos políticos através de ferramentas digitais relativamente sofisticadas. Com efeito, os índices médios de difusão de informações (6,1) e sofisticação (4,6) que mensuram tais estratégias, tiverem desempenho superior aos índices de mobilização (3,1) e interação (3,1), que medem as propriedades mais interativas dos WP. Esses dados corroboram os achados do estudo de Catarina Silva também para o Brasil, ou seja, partidos vote-seeking e policy-seeking, isto é, com um grau maior de representatividade social e com estrutura mais profissionalizada tendem a divulgar os seus pontos de vista com mais intensidade e a polarizar o debate na esfera virtual. É o que ocorre no caso de PT/PSDB (no sistema partidário brasileiro) e de PS/PSD (no caso português).

 

 

Uma vez analisados os índices de desempenho da web de maneira agregada, vamos agora dar um passo adiante no nosso estudo buscando analisar algumas variáveis relacionadas com o desempenho destes índices, bem como extrair implicações gerais no tocante ao significado mais amplo dessas relações para o desempenho do “sistema partidário virtual” destes países. Assim, o nosso segundo procedimento será o de analisar os fatores associados ao desempenho do índice que procura mensurar o tipo de presença online dos partidos brasileiros, a fim de testar as hipóteses da normalização e da diferença organizacional. Como dissemos anteriormente, a variável dependente da nossa análise será o índice de desempenho geral dos websites partidários (doravante referido como IWP) formado pela média do desempenho dos quatro índices acima mencionados. As variáveis independentes foram indicadas anteriormente.

IWP=f(índice difusão da informação; índice interação;índice mobilização; índice sofisticação)

Efetuaremos a seguir um teste de correlação de Pearson entre esta variável e as variáveis independentes acima enumeradas, que interpretaremos da seguinte maneira: a) caso haja correlação positiva e elevada entre as variáveis relacionadas com o desempenho do índice, confirma-se a hipótese da “normalização”. Assim, o tamanho estará estritamente associado ao desempenho dos WP no mundo virtual e os WP não estarão a provocar mudanças significativas nas condições de competição política e difusão de mensagem no mundo virtual nem alterando significativamente a posição relativa dos diferentes partidos nos “sistemas políticos virtuais”; b) caso essas relações sejam fortemente negativas, estará a ocorrrer o fenómeno inverso: os partidos menores estarão a usar com mais intensidade os WP e a internet está a provocar alterações nas posições relativas dos partidos no ambiente virtual (hipótese da equalização); c) caso as associações sejam moderadamente positivas, podemos inferir que os partidos grandes apresentam uma vantagem competitiva do uso da web, ­entretanto essa vantagem é inferior à esperada em função das características dos partidos, o que significa que a estrutura de oportunidades está a ser alterada e organizações menores estão a obter mais condições para defender os seus pontos de vista através da web, aumentando o grau de pluralismo e de competição do sistema partidário; d) por fim, caso haja uma correlação moderadamente negativa o inverso ocorrerá.

Tendo em vista estas premissas, os dados por nós obtidos são os seguintes.

A tabela de correlação de Pearson fornece-nos várias informações importantes sobre os padrões de uso da internet pelos partidos brasileiros e portugueses, que podem servir de base para uma análise fina e mais desagregada feita a seguir. Em primeiro lugar, verificamos inicialmente uma diferença nas estratégias de comunicação virtual nos dois países: enquanto no Brasil as variáveis “tamanho” e número de filiados estão pouco associadas ao desempenho das várias dimensões do IWP (Coeficiente de Pearson = 0,154 e 0,299, respectivamente) em Portugal verifica-se uma forte associação entre tamanho e diversificação dos WP, indicando a existência de uma “normalização” do uso da internet neste aspecto específico neste último país. Ou seja: no caso de ­Portugal são os partidos com maior potencial de mobilização e recursos políticos no mundo offline que possuem websites mais diversificados, inversamente ao que ocorre no Brasil, onde essa relação é mais ténue.

 

 

Além disso, verificamos que no caso brasileiro as correlações mais fortes e significativas são as observadas entre as variáveis relacionadas com o tamanho do partido e os índices de informação e sofisticação, enquanto as correlações mais baixas e negativas são observadas entre os índices de interação e mobilização. Podemos afirmar, portanto, que os partidos com mais recursos políticos usam com mais intensidade aquelas ferramentas que permitem uma comunicação “vertical” e top down entre as lideranças partidárias e outros atores políticos (formadores de opinião, media, potenciais financiadores de campanha, militantes e simpatizantes etc.), enquanto os partidos menores e situados mais à esquerda do espectro partidário usam de maneira mais intensa aqueles recursos associados à mobilização e a uma maior interatividade com os cidadãos. Em Portugal, ocorre justamente o inverso por causa dos comportamento desviante do PCP, que usa o seu website predominante para informar os seu militantes e simpatizantes mais próximos, ao invés de usar as plataformas virtuais como mecanismos de mobilização e interação participativa com o cidadão mediano, numa estratégia próxima à de “partidos buscadores de políticas” (policy-seeking), para usar as expressões de Andrea Rommele (2003) e Catarina Silva (2013).

Podemos visualizar essa relação através do diagrama de dispersão abaixo, relacionando tamanho e recursos comandados pelos partidos brasileiros e portugueses ao IWP, e o segundo relacionado ideologia partidária e índice de mobilização.

A figura 2 permite-nos visualizar e ilustrar melhor a ideia apresentada acima nos testes de correlação, ou seja, há uma relação positiva geral entre tamanho do partido e uso da internet, embora no caso portugês esta relação seja bem mais intensa (r² de 0,557 contra r² de 0,090 para o caso brasileiro). Entretanto, em ambos os países observa-se um contingente de pequenas agremiações que usam os websites de maneira mais eficiente do que seria esperado em virtude do seu tamanho. Destacam-se a este respeito partidos de diferentes características que podem ser considerados como partidos médios ou pequenos, tais como o PRB, PDT, PSOL e o BE, que apresentam elevada eficiência relativa no emprego da internet em comparação com o tamanho de sua bancada. No outro polo estão agremiações tais como o DEM, PR, PTB e PEV, que apresentam estratégias de comunicação online pouco diversificadas, vis-a-vis o seu tamanho. Os outliers são o PT e o PSDB, com desempenho superior ao ­esperado em função do tamanho de sua bancada, e o PMDB e o PP com desempenho ­bastante aquém do esperado em virtude da representatividade social dos ­partidos. Assim, verifica-se mais uma vez que partidos “buscadores de cargos” tendem a possuir menor eficiência relativa no uso das ferramentas digitais.

 

 

Outra relação significativa que podemos observar é a relação entre as estratégias de mobilização online dos diferentes partidos e sua ideologia. A nossa expectativa, extraída da literatura sobre o tema (Vaccari, 2012), era a de que haveria uma relação positiva entre ideologia e recursos de mobilização ­existentes nos WP de ambos os países, com partidos de esquerda e “policy seeking” utilizando os websites essencialmente como ferramentas de ­mobilização e interação participativa com os cidadãos. Pelo diagrama de ­dispersão abaixo, verificamos que essa relação existe no caso brasileiro, mas não no caso português.

Pelo diagrama de dispersão podemos observar o comportamento individualizado de cada um dos partidos políticos no tocante às estratégias de mobilização online implementadas através dos seus websites vis-à-vis o seu posicionamento num gradiente ideológico e valorativo. No caso do Brasil, verificamos uma clara associação positiva entre posição no gradiente ideológico e uso de recursos de mobilização virtual pelos partidos (quanto mais à esquerda os partidos, mais “mobilizadores” são os seus websites), enquanto no caso português ocorre o inverso. Isto porque partidos como PCP e o PS utilizaram o seu site mais como uma ferramenta de informação do que de mobilização dos seus militantes, excetuando o BE, um partido tipicamente “policy seeking” em estágio inicial de organização. Podemos detetar também a existência de uma clivagem entre partidos da “antiga esquerda”, mais verticalizados e orientados para políticas públicas, que propõem uma estratégia de comunicação mais vertical com os seus militantes (no caso, o PCP) e agremiações de centro-esquerda e da “nova esquerda” (tais como PS e BE), mais voltados para a mobilização política dos cidadãos (e não estritamente os militantes partidários), através de estratégias de comunicação virtual mais horizontalizadas.

 

 

Essa diferença ficará ainda mais evidente quando examinarmos as estratégias de comunicação dos diferentes partidos nos media sociais, o que faremos a seguir.

 

OS PARTIDOS POLÍTICOS BRASILEIROS E PORTUGUESES E OS MEDIA SOCIAIS: ATENÇÃO E ENGAJAMENTO EM REDE

 

Uma segunda dimensão das estratégias de comunicação virtual dos diferentes partidos político é o grau de atenção que recebem nos media sociais (especialmente as mais importantes, tais como Facebook, Twitter e Youtube), bem como o seu engajamento nas redes digitais, tanto em período eleitoral como fora dele. Para avaliar essa presença e atuação dos partidos nos media sociais elaboramos dois indicadores: i) em primeiro lugar, o seu grau de atenção das redes, mensurado pelo somatório do grau de presença no Facebook (gostos lang=PT + falaram sobre) + número de seguidores no Twitter + número de visualizações de vídeos no Youtube, quando o partido tiver canal específico 5; ii) número de engagements (soma dos gostos + comentários + partilhas) entre 1 de janeiro de 2013 a 4 de outubro de 2015, no final da campanha eleitoral de Portugal.6 O objetivo desta análise é verificar se os partidos brasileiros e portugueses recebem atenção na web e se estão a conseguir engajar os apoiantes e cidadãos através das ferramentas digitais, caracterizando assim um perfil mais participativo e interativo de atuação no mundo digital.

No que se refere ao grau de atenção recebido pelos partidos nas redes sociais, a matriz de correlação abaixo permite-nos visualizar melhor a associação entre esta variável e certas características dos partidos brasileiros mencionadas anteriormente.

Em relação a este item observam-se mais uma vez diferenças significativas das estratégias de comunicação online dos partidos brasileiros e portugueses. Enquanto para o caso brasileiro a relação entre grau de atenção recebido nos media sociais e suas características no mundo offline tendem a ser positivas, em Portugal dá-se o fenómeno inverso. Isso significa que, no caso português, há um acentuado desfasamento entre as características e a atuação das agremiações partidárias no mundo offline e a sua presença nos media sociais, inversamente ao que ocorre em relação aos websites. Essa ausência de correspondência é particularmente clara nos casos do PCP e do BE, ambos partidos “policy seeking” representativos, respetivamente, da “velha esquerda” adepta de uma comunicação política mais verticalizada e da “nova esquerda”, potencialmente mais aberta a interações mais participativas. Apenas a título de exemplo, enquanto o PCP é o terceiro maior ­partido português em número de filiados (cerca de 77 500), com 14 deputados, 213 conselheiros municipais eleitos, e sem nenhuma presença autónoma nos media sociais, o BE, com apenas cerca de 6 500 filiados, 8 conselheiros ­municipais e uma bancada de somente 8 deputados, foi o partido português com maior grau de atenção nos media sociais no período pesquisado, com índice de presença de 70 532 no Facebook, 23 968 tweets, 11 180 seguidores no Twitter, e 1 943 605 visualizações no canal do Youtube Esquerda.Net, linkado ao website do partido. Esse número supera inclusive o do PPD/PDS, o maior partido português e com índice de atenção nos media sociais de 607 534, o que evidencia o forte investimento do BE nos media sociais como forma de interação com os cidadãos.

 

 

Esses padrões diferentes da atuação nos media sociais dos partidos brasileiros e portugueses podem ser visualizados com mais facilidade no diagrama de dispersão abaixo, que nos permite uma análise menos agregada do fenómeno.

Pela figura 4, podemos visualizar que o partido brasileiro com maior grau de atenção nos media sociais é o PSDB com uma audiência de 2 755 479 internautas, seguido do PT, não por acaso os dois maiores partidos brasileiros vote-seeking, que polarizaram a atenção do eleitorado nas últimas eleições presidenciais, enquanto em Portugal é o BE, um pequeno partido da “nova esquerda” e de perfil mais participativo que utiliza intensamente os media sociais como estratégia de comunicação para veicular suas atividades. Verifica-se assim uma certa coerência entre o comportamento offline e online dos partidos brasileiros, o mesmo não ocorrendo com os partidos portugueses pois, como vimos, há acentuadas defasagens entre suas características no mundo offline e sua presença nas media sociais.

 

 

Por fim, podemos analisar mais um indicador das estratégias de comunicação online dos partidos brasileiros e portugueses que é o engajamento que logram obter nos media sociais, especialmente no Facebook. Esclareça-se que “engajamento” é uma medida oferecida pelo próprio Facebook para mensurar a ação dos partidos nesta rede social e formada pela soma de “gostos”, partilhas e comentários que as postagens conseguem obter num determinado período de tempo. Coletamos dados sobre o engajamento online de todos os partidos que tiveram fan pages ativas no período compreendido entre 1 de janeiro de 2013 e 4 de outubro de 2015. A nossa questão básica era verificar se os partidos estavam ativos em período pré-eleitoral, se esta atividade aumentou no período das eleições, e/ou se ela se manteve ou voltou para o patamar anterior do período pós-eleitoral, ou seja, no mês subsequente à campanha eleitoral. Para avaliar tal engajamento, seguiremos o mesmo procedimento anterior de verificar os fatores associados a este uso, seguido de uma análise desagregada das relações mais significativas.

Analisando a matriz de correlações entre as variáveis de engajamento e características dos partidos, observamos dessa vez um padrão semelhante entre o Brasil e Portugal. Com efeito, em ambos os países há uma alta correlação positiva entre o tamanho da bancada e o grau de engajamento no Facebook no período (0,639 no caso do Brasil e 0,612 no caso de Portugal), uma correlação positiva moderada entre potencial de mobilização/capilaridade e engajamento (0,475 e 0,295, respectivamente), e uma baixa correlação positiva entre ideologia e engajamento, sendo que tal associação é mesmo negativa para o caso português em virtude da ausência do PCP no Facebook. Entretanto, uma análise menos agregada pode ajudar-nos a compreender melhor os fatores condicionantes das diferentes estratégias de interação dos partidos políticos no Facebook. Como se pode observar pela figura de dispersão abaixo, o tamanho não é o único fator associado à magnitude do engajamento obtido pelas diferentes legendas nos media sociais, estando este fenómeno associado também a determinadas características organizacionais e político-ideológicas dos partidos políticos, conforme já apontado por Catarina Silva em seus estudos (Silva, 2013), sendo que tal fenómeno também se reproduz para o caso brasileiro.

 

 

A figura 5 permite-nos caracterizar claramente a existência de dois grandes partidos brasileiros que provocaram elevado engajamento dos internautas no período: o PT, que obteve uma magnitude de 42 349 907 engajamentos (8 130 postagens, 24 462 004 gostos, 3 886 818 comentários e 14 001 085 partilhas) enquanto o PSDB obteve cerca de 34 508 421 engajamentos. O mais interessante a ser observado na figura, no entanto, é que, atrás desses dois grandes partidos que polarizaram a eleição ao nível nacional, estão o DEM (com 8 228 358 de engajamentos) e o pequeno PSOL (com 2 353 499 de engajamentos), que podemos considerar como dois partidos policy-seeking típicos, inclusive por causa do seu menor número de filiados e potencial eleitoral. Isso significa que, segundo a nossa classificação anterior, partidos com perfil programático mais definido, “buscadores de políticas públicas”, e que possuem uma postura mais proativa na defesa dos seus pontos de vista, tendem a ser mais atuantes e populares nas redes sociais, superando inclusive os grandes partidos com maiores recursos políticos. O mesmo ocorre no caso dos partidos portugueses, com o BE possuindo um elevado grau de engajamento no Facebook, superando inclusive partidos maiores e com maior capilaridade e potencial de mobilização, como o PS.

 

 

Resta analisar os perfis de engajamento no Facebook dos partidos representativos de cada um dos quadrantes acima para analisar a dinâmica de sua evolução ao longo dos períodos eleitorais e não-eleitorais.

 

 

No caso dos partidos brasileiros, destacamos inicialmente o PT, juntamente com o PSDB, o principal partido vote-seeking brasileiro, e que utilizou amplamente o Facebook como ferramenta de campanha nas últimas eleições, como vimos anteriormente. Pela figura, podemos perceber que este partido teve um elevado grau de engajamento em todos os períodos, decaindo no período pós-eleitoral, mas permanecendo em patamares superiores ao existente em 2013. A postagem que teve maior engajamento foi um meme postado em 26-10-2014, logo após a confirmação da vitória de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais, com 136 198 gostos, 13 744 comentários e 181 652 partilhas. No outro polo, temos o PMDB, um típico partido office-seeking brasileiro com baixo grau de engajamento em todos os períodos, especialmente no período eleitoral, mostrando que a fan page do partido não foi utilizada para engajar os seus apoiantes durante o período de campanha. A postagem que teve maior engajamento foi um link compartilhado do website do partido em 01-04-2013, anunciando a aprovação do PEC das empregadas domésticas, com apenas 43 gostos, 654 comentários e 26 partilhas, sendo que a maior parte dos comentários são de críticas ao partido por ter apoiado a PEC. Ocupando uma posição intermediária, temos o DEM, um partido policy-seeking de oposição, que usou o Facebook especialmente no período eleitoral, tendo acentuada queda após o fim da campanha. A postagem que teve maior engajamento foi um meme postado pouco antes do início da campanha eleitoral em 06-05-2014, questionando a competência de Dilma Rousseff para governar o país, que teve 11 287 gostos, 2 565 comentários e 665 808 partilhas, sendo que a maior parte dos comentários são de apoio à posição do partido de oposição programática aos governos de coligação liderados pelo PT e à candidatura Dilma, que personificava a continuidade desses governos. Além disso, o elevado número de partilhas revela um padrão de uso da fan page próximo da “pregação através dos convertidos” caracterizada por Sara Vissers (Vissers, 2009). E, por fim, o PSOL um pequeno partido policy-seeking de esquerda, também de oposição, e que esteve presente no Facebook em vários períodos, com a particularidade de permanecer ativo mesmo no período pós-eleitoral, num patamar bastante superior ao de antes da campanha, mostrando que o partido teve grande aumento no engajamento online em decorrência da campanha eleitoral. A postagem que teve maior engajamento foi um meme postado logo após o anúncio dos resultados da primeira volta, em 06-10-2014, e comemorando a quantidade de votos obtida pela candidata do partido à presidência, Luciana Genro, uma candidata de esquerda e com plataforma pós-materialista, com 57 925 gostos, 2 493 comentários e 9 326 partilhas, revelando elevado grau de participação dos apoiantes do partido na fan page, especialmente através de “gostos” e mensagens de apoio e incentivo.

No que se refere aos partidos portugueses, as características dos partidos também influenciaram sua presença do Facebook. O partido que obteve maior grau de engajamento ao longo do período foi o PPD/PSD, o maior partido vote-seeking português e que se manteve ativo no Facebook durante todo o período pesquisado, com 6 395 postagens, 902 155 gostos, 45 623 comentários, num total de 1 lang=PT 333 019 engajamentos. Por ser o maior partido português em termos de número de filiados e percentual de deputados na Câmara dos Deputados, pode-se afirmar que este perfil é esperado, embora revele um alto grau de predisposição do partido em interagir com os cidadãos nas redes sociais, o que não é comum em partidos do governo. Em seguida, temos o BE, como ­dissemos um partido policy-seeking representativo da “nova esquerda”, de perfil mais participativo e menos verticalizado, que também esteve bastante ativo no Facebook durante todo o período. Com efeito, desde o início de 2013 o BE estava envolvido na construção de reputação nas redes sociais, e sua atuação manteve-se regular, observando-se um pequeno acréscimo após o início da campanha eleitoral. O BE obteve ao todo 972 562 engajamentos em todo o período, com 12 lang=PT 935 postagens (o partido com maior número de posts) 499 lang=PT 691 gostos, 33 243 comentários e 439 630 partilhas. O pico de presença do BE no Facebook ocorreu no final da campanha eleitoral de 2015, com a postagem em 28-09-2015 de um vídeo de Mariana Mortágua, intitulado “Quem ganha com a abstenção”, que obteve um total de 1 lang=PT 399 likes, 123 comentários, 6 751 partilhas. Sublinhe-se que os esforços do BE nos media sociais parecem ter sido recompensados nas eleições de outubro de 2015, pois o partido obteve 19 cadeiras no parlamento, sendo a agremiação que obteve maior ganho percentual nestas eleições. Por fim, devemos mencionar um partido “orientado para cargos” (office-seeking), o CDS-PP, um dos partidos portugueses menos ativos nas redes sociais, que criou a sua fan page no Facebook em janeiro de 2014, obtendo apenas 70 373 engajamentos no período revelando pouca propensão a interagir com o cidadão comum por intermédio da internet, o que mais uma vez nos informa algo sobre as características do partido.

 

CONCLUSÕES

 

Essa análise da ação e da presença dos partidos políticos brasileiros e portugueses na internet permite-nos chegar a algumas conclusões gerais e cotejar estes achados com as proposições existentes na literatura sobre o assunto. Em primeiro lugar, podemos observar que o método comparativo utilizado nesse estudo nos permite caracterizar a comparação efetuada entre os dois países como uma “comparação pela diferença”, na medida em que as diferenças estruturais entre os dois países são mais acentuadas do que eventuais semelhanças. Entretanto, mesmo nesses contextos estruturais distintos, podemos observar a existência de algumas semelhanças no comportamento online das agremiações partidárias, o que nos permite inferir que há alguns aspetos comuns no comportamento dos partidos nos dois países que transcendem as diferenças entre os dois sistemas políticos e partidários.

No tocante às relações existentes entre as características organizacionais dos partidos e as suas estratégias de comunicação digital podemos observar inicialmente a existência de um grande subgrupo de partidos, especialmente no caso brasileiro, que apenas “estão online”, sem efetivamente utilizarem as ferramentas da internet para promover as suas atividades e estimular um maior engajamento cívico dos cidadãos através dos recursos web 2.0. Esses partidos caracterizam-se por websites pouco diversificados, pouca presença e atenção nos media sociais, e ausência de tentativas de interagir com os apoiantes na rede social mais utilizada no momento, ou seja, o Facebook. Este subgrupo de partidos parece estar, para usar a expressão de Tomas Zittel, “perdido na tecnologia” (Zittel, 2009). Este primeiro grupo é formado essencialmente pela grande quantidade de partidos de perfil mais fisiológico ou office-seeking (no caso brasileiro), com pouca densidade programática e reduzida representatividade social, facto também observado no caso do sistema partidário ­português com exceção do PCP, que podemos considerar um partido policy-seeking, entretanto de perfil mais tradicional, sem uma cultura política de promoção de interação participativa com o cidadão comum. Ao lado dessas agremiações, podemos observar um segundo grupo relevante, formado por partidos com websites mais sofisticados e diversificados, com número relativamente alto de seguidores na esfera virtual e alto grau de engajamento com apoiantes e cidadãos. Esse segundo grupo é formado basicamente pelos grandes partidos vote-seeking existentes nos sistemas partidários dos dois países mas com maior densidade programática e representatividade social (tais como o PSDB e PT, no Brasil, e PPP/PSD e o PS em Portugal, que apresentam também algumas características de policy-seeking), mas também por alguns partidos menores com recursos políticos suficientes para utilizar as suas plataformas virtuais de forma mais transparente para defender os seus pontos de vista com mais clareza e mobilizar apoiadores, tais como o DEM, o PDT, o PSB e o PSOL (no caso do Brasil), e o BE em Portugal.

A segunda grande questão que emerge do debate sobre o “sistema partidário virtual” é se está a haver uma tendência para a “normalização” ou “equalização” da estrutura de oportunidades que regulam a competição interpartidária existente no mundo offline. A nosso ver, os dados apresentados mostram que, embora não haja uma tendência para a “equalização” (na medida em que persistem fortes assimetrias no desempenho dos partidos no mundo virtual), a internet agrega algo novo ao sistema partidário, não podendo ser considerada uma mera ferramenta de reprodução de padrões offline. Vimos que grandes partidos como o PMDB e o PP, no caso brasileiro, e o PCP, no caso português, utilizam de maneira deficiente os potencias da web 2.0, enquanto pequenos partidos aproveitam de maneira mais eficiente as janelas de oportunidade propiciadas pela web para diversificar e tornar mais transparentes as suas atividades, para obter visibilidade e para mobilizar e engajar os seus apoiantes e cidadãos de uma maneira geral. Os resultados das últimas eleições, tanto no Brasil, como em Portugal, a nosso ver ilustram que tal estratégia pode trazer inclusive ganhos em termos de votação, com partidos e candidatos avulsos mais atuantes nos media sociais tendo bons resultados eleitorais.

Por fim, a terceira grande indagação é a de se a internet está a promover ou não formas mais colaborativas e participativas de atuação partidária, abrindo espaços para “falas cidadãs” (Blanchard, 2006), ou para “ações iniciadas pelos cidadãos” (Margetts, 2006; Gibson, 2015) que podem inclusive ter impactos nos próprios modelos de organização dos partidos num futuro próximo previsível. A resposta a esta indagação não é simples e depende de pesquisas mais aprofundadas que não podemos empreender no presente texto. Entretanto, os dados coletados sobre o engajamento nas redes digitais indicam a formação progressiva de modalidades mais colaborativas e participativas de interação entre o sistema partidário e os cidadãos, com alguns partidos obtendo elevado grau de atenção e engajamento nos media sociais, ficando em aberto o conteúdo dessa interação, assim como os seus eventuais impactos para o aprimoramento da qualidade da democracia dos dois países examinados.

 

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Recebido a 16-06-2015. Aceite para publicação a 06-04-2016

 

NOTAS

 

1  Desde o início dos estudos sobre os impactos da internet na política empreendidos a partir da última década do século passado, a atuação dos partidos políticos na esfera digital tem atraído a atenção de diversos analistas (cf. Landtscherr et al., 1999; Gibson e Ward, 2000; Gibson, Nixon e Ward, 2003; Norris, 2001, 2003; Dader e Ayuso, 2006; Strandberg, 2008). Nesse contexto, para além do tradicional confronto entre “ciberotimistas” e “ciberpessimistas”, que polarizou o debate sobre os efeitos da internet nos atores partidários na primeira década deste século (Norris, 2001; Braga, França e Nicolás, 2009), outras questões mais substantivas foram sendo progressivamente colocadas pela literatura a respeito dos efeitos produzidos nos sistemas políticos contemporâneos pela presença dos partidos políticos na esfera digital, especialmente após o advento da chamada “Web 2.0” que possibilita uma maior interatividade entre usuários e produtores de conteúdo nos media digitais (Rommele, 2003; Gibson e Rommele, 2008; Fuentes, 2012; Gibson, 2015).

2  Para uma melhor definição do método comparativo pela diferença, além do trabalho de Mills, cf. o texto de Burnham et al., 2008.

3  Para uma tentativa de aplicação desse modelo para a análise dos partidos brasileiros, bem como uma explicação mais detida das principais categorias do mesmo, cf. a dissertação de mestrado de Rocha (2014).

4  O debate sobre “normalização” e “equalização” da estrutura de oportunidades da competição política devido aos efeitos das tecnologias digitais perpassa toda a literatura sobre os impactos da internet na política, desde os seus inícios. Esse debate tem origem no livro clássico de Margolis e Resnick, Politics as Usual (Margolis e Resnick, 2000) e Norris (2001). Para os primeiros autores, a política online apenas reitera padrões de competição política existente no mundo offline, reproduzindo as diferenças e assimetrias entre os atores políticos, enquanto para Pippa Norris a internet altera incrementalmente a estrutura de oportunidades da competição política, promovendo uma maior pluralidade de vozes no sistema político, embora sem resolver os problemas crónicos de assimetrias e da fratura digital nos múltiplos sentidos da expressão (material, motivacional e cognitivo).

5 Como dissemos anteriormente, esse indicador é, mutatis mutandis, o mesmo usado por Nielsen e Vaccari em seu instigante artigo sobre as eleições intermediárias norte-americanas de 2010 (Nielsen e Vaccari, 2014).

6    Estes dados foram coletados através do software Netvizz disponibilizado pelo próprio Facebook.

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