SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número187ApresentaçãoLovolo e espíritos no sul de Moçambique índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Análise Social

versão impressa ISSN 0003-2573

Anál. Social  n.187 Lisboa abr. 2008

 

Dragões, régulos e fábricas: espíritos e racionalidade tecnológica na indústria moçambicana

Paulo Granjo*

 

Na indústria moçambicana mais actualizada (fundição de alumínio Mozal), os operários regem o seu trabalho por uma estrita racionalidade tecnológica, mas os anteriores sistemas locais de domesticação do infortúnio, envolvendo espíritos e feitiçaria, são partilhados ou suscitam uma dúvida plausível à maioria deles. Estas racionalidades coexistem em paralelo, com âmbitos de aplicação separados: ou a normalidade do funcionamento tecnológico, ou a interpretação dos acidentes que a subvertem. Por isso, e por ambos os sistemas exigirem atitudes securitárias semelhantes, não são contraditórios nem põem em causa a produtividade e a segurança. Não há razões para que a hegemonia da racionalidade tecnológica leve ao abandono das racionalidades «tradicionais».

Palavras-chave: perigo; indústria; racionalidade tecnológica; interpretação do infortúnio.

 

In the most state-of-the-art Mozambican industry (the Mozal aluminium smelter), workers are guided by strict technological rationality, but earlier local systems of misfortune domestication, involving spirits and sorcery, are shared or give rise to plausible doubt amongst most of them. Such rationalities coexist in parallel, and apply in separate spheres: either in normal technological operation, or in interpreting accidents which subvert it. For this reason, and because both systems demand similar attitudes to security, they are not contradictory, nor do they adversely affect productivity and security. There is no reason for the hegemony of technological rationality to lead to the abandonment of «traditional» rationalities.

Keywords: danger; industry; technological rationality; interpretation of misfortune.

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

Bibliografia

Bagnol, B. (2002), «Lovolo, identities and violence: embodiment of histories and memories», comunicação ao 8th International Interdisciplinary Congress of Women, Kampala, Uganda, 21-26 de Julho.        [ Links ]

Binsbergen, W. van (2003), Intercultural Encounters — African and anthropological lessons towards a philosophy of interculturality, Münster, Lit.

Cabral, j. P. (2002), «Dona Berta's garden: reaching across the colonial boundary», in Etnográfica, vi, 1, pp. 77-91.

Cabral, j. P. (2002a), «Albinos don't die: the symbolic ecology of belief in post-colonial Mozambique», in http://www.ics.ul.pt/publicacoes/workingpapers/wp2002/WP4-2002.pdf.

Dijk, R. van, et al. (eds.) (2000), The quest for fruition through Ngoma, Oxford, James Currey.

Eglash, R. (2005), «An ethnomatemathics comparison of African and native American divination systems», comunicação à conferência Realities Re-viewed/Revealed: Divination in Sub-Saharan Africa.

Evans-Pritchard, E. E. (1978 [1937]), Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande, Rio de Janeiro, Zahar.

Feliciano, j. F. (1998), Antropologia Económica dos Thonga do Sul de Moçambique, Maputo, AHM.

Geffray, C. (1991), A causa das armas: antropologia da guerra contemporânea em Moçambique, Porto, Afrontamento.

Gluckman, M. (1987 [1958]), «Análise de uma situação social na Zululândia moderna», in Feldman-Bianco, B. (org.), Antropologia das Sociedades Complexas: métodos, São Paulo, Global, pp. 227-344.

Gramsci, A. (1971), Selections from the Prison Notebooks, Londres, Lawrence & Wishart.

Granjo, p. (1999), «Interrogações sobre a globalização no quotidiano», in Vértice, 90, pp. 44-51.

Granjo, p. (2003), «A mina desceu à cidade: memória histórica e a mais recente indústria moçambicana», in Etnográfica, vii, 2, pp. 403-428.

Granjo, p. (2004), «Trabalhamos Sobre Um Barril de Pólvora» — homens e perigo na refinaria de Sines, Lisboa, ICS.

Granjo, p. (2005), Lobolo em Maputo: um velho idioma para novas vivências conjugais, Porto, Campo das Letras.

Granjo, p. (2006), «Há uma cultura do risco?», in Granjo et al., Quatro Olhares sobre a Cultura, Barreiro, CCPB, pp. 19-30.

Granjo, p. (2006a), «Back home. Post-war cleansing rituals in Mozambique», in B. Nicolini (ed.), Studies in Witchcraft, Magic, War and Peace in Africa (19th and 20th centuries), Lampeter, Mellen Press, pp. 277-294.

Granjo, p. (2007), «Determination and chaos, according to Mozambican divination», in Etnográfica, xi, 1, pp. 9-30.

Granjo, P. (2007a), «Limpeza ritual e reintegração pós-guerra em Moçambique», in Análise Social, 182, pp. 123-144.

Granjo, P. (no prelo), «`It's just the starting engine': the status of spirits and objects in south Mozambican divination», in W. van Beek e Ph. Peek (eds.), Divination on South-Saharan Africa, Leiden, Brill.

Honwana, A. (2002), Espíritos Vivos, Tradições Modernas, Maputo, Promédia.

Janzen, J. M. (1992), Ngoma: discourses of healing in central and southern Africa, Berkeley, University of California Press.

Junod, H. (1996 [1912]), Usos e Costumes dos Bantu, Maputo, AHM, 2 vols.

Murdock, G. (1945), «The common denominator of cultures», in Linton, R. (ed.), The Science of Man in the World Crisis, Nova Iorque, Columbia University Press, pp. 123-142.

Peek, P. (ed.) (1991), African divination Systems — ways of knowing, Indianapolis, Indiana University Press.

Rita-ferreira, a. (1988), «Moçambique post-25 de Abril: causas do êxodo da população de origem europeia e asiática», in AA.VV., Moçambique: cultura e história de um país, Coimbra, Instituto de Antropologia, pp. 121-169.

Teixeira, J. (2004), «Ma-tuga no mato: os `portugueses' em discursos rurais moçambicanos», in Cabral, J. P., e Cabral, C. (orgs.), A Persistência da História — passado e contemporaneidade em África, Lisboa, ICS, pp. 307-341.

West, H. (2005), «Govern yourselves! — democracy and carnage in northern Mozambique», in http://www.ics.ul.pt/agenda/seminarioantropologia/pdf/GovernYourselves/pdf.

Westerlund, D. (2000), «Spiritual agents of illness», in Olupona, J. K. (ed.), African Spirituality: Forms, Meanings and Expressions, Nova Iorque, Crossroad, pp. 152-175.

 

* Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons