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Nascer e Crescer
versão impressa ISSN 0872-0754versão On-line ISSN 2183-9417
Resumo
QUEIROS, Marta e CASEIRO, João. Maus tratos na infância e doença mental: o papel da epigenética. Nascer e Crescer [online]. 2018, vol.27, n.3, pp.166-175. ISSN 0872-0754. https://doi.org/10.25753/BirthGrowthMJ.v27.i3.13431.
Introdução: A exposição a maus tratos na infância está associada a risco acrescido de doença física e mental, relacionando-se com mais de 30% da psicopatologia e com maus resultados clínicos, nomeadamente formas de doença crónicas, aumento da hospitalização, comorbilidades e baixa resposta terapêutica. Experiências adversas na infância podem causar alterações epigenéticas, alterando a expressão genética sem modificar a sequência do ADN. Alterações na expressão dos genes implicados na resposta ao stress e no neuro-desenvolvimento poderão explicar o impacto dos maus tratos infantis na saúde mental. Objetivos: Revisão da literatura acerca do impacto dos maus tratos na infância no epigenoma humano, salientando as consequências para a saúde mental. Desenvolvimento: A metilação de ADN induzida por trauma na infância provoca alterações em genes específicos, em tecidos periféricos e cerebrais, alterando significativamente a regulação da resposta ao stress, plasticidade cerebral e neuro-desenvolvimento. A metilação do gene do recetor de glucocorticoides é uma das alterações epigenéticas mais estudadas e parece ser responsável por uma maior vulnerabilidade para psicopatologia em crianças expostas a maus tratos. As alterações epigenéticas não são necessariamente permanentes e algumas intervenções parecem diminuir a metilação de ADN. Futuramente, a metilação de ADN poderá utilizar-se no diagnóstico, predição da resposta terapêutica e desenvolvimento de tratamentos inovadores. Conclusões: Algumas alterações patofisiológicas observadas em indivíduos expostos a maus tratos na infância poderão ser explicadas por mecanismos epigenéticos. As alterações epigenéticas poderão servir como biomarcadores de doenças associadas ao stress e possibilitar o desenvolvimento de tratamentos inovadores para indivíduos expostos a maus tratos na infância.
Palavras-chave : abuso infantil; doença mental; epigenética; violência doméstica.