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Análise Social

versão impressa ISSN 0003-2573

Anál. Social  no.211 Lisboa jun. 2014

 

DOSSIÊ - TERRITÓRIO E AMBIENTE

Proprietários florestais, gestão e territórios rurais

Forest owners, management, and rural territories

 

Maria João Canadas* e Ana Novais*

*Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Centro de Estudos Florestais (CEF) Tapada da Ajuda — 1349-017 Lisboa, Portugal. E-mails: mjcanadas@isa.utl.pt e ananovais@isa.utl.pt

 

RESUMO

A gestão da floresta privada não industrial tem merecido uma crescente atenção. A análise das práticas e objetivos dos proprietários tem remetido sobretudo para as características das suas florestas e do seu próprio perfil socioeconómico, excluindo o contexto territorial. O objetivo deste estudo consiste, precisamente, na análise das dimensões socioeconómicas daquele contexto, que concorrem para a diferenciação dos padrões de práticas de gestão dos proprietários florestais. Assim, com base na noção de incrustação social do comportamento económico, privilegia-se o contexto social local como escala de análise da gestão florestal. A informação usada compreende 2406 proprietários distribuídos por 26 territórios. O método utilizado é a análise discriminante canónica. Conclui-se pela importância de integrar a diversidade das dinâmicas sociais locais na análise da floresta.

Palavras-chave: proprietários florestais privados; gestão económica da floresta; modelos de trabalho; rural.

 

ABSTRACT

Non-industrial private forest and its management have recently received increasing attention in the literature, where the analysis has focused mainly on the objectives and practices as aligned with the owners’ socioeconomic profile and forest property characteristics, while the territorial context has been largely ignored. This study identifies the social dimensions of the territorial context that differentiate the patterns of owners’ management practices. Based on the argument of the social embeddedness of economic behaviour, the local social context is chosen as the scale of analysis of forest management. Discriminant linear canonical analysis of data for 2406 owners in 26 territories is used for the purpose. Our results underscore the importance of considering local social dynamics when analysing forest owners’ management.

Keywords: private forest owners; forest economic management; work models; rural.

 

 

INTRODUÇÃO1

 

Modernização da agricultura, avolumar da questão ambiental, declínio demográfico, redução do peso da agricultura no emprego total e na ocupação do espaço agro-florestal, são alguns dos traços de transformação das áreas rurais nas últimas décadas, em muitos países europeus. Esta transformação não eliminou a diversidade dos territórios rurais que hoje, simplesmente, já não se pauta principalmente pela atividade agrícola.

O rural mudou e a sua floresta também. Esta dissociou-se da agricultura, expandiu-se em muitos casos e, nalguns, como o português, alimenta a cada estio a calamidade dos incêndios florestais. À floresta incumbe agora, para além do fornecimento de matérias-primas para a indústria, a conservação da natureza, a proteção do ambiente, o suporte de atividades de lazer e, inclusive, um contributo para o desenvolvimento rural. O balanço entre estas funções da floresta poderá, contudo, não ser o mesmo em distintos territórios rurais.

Dado que a floresta privada não industrial (não detida pelas empresas industriais do setor) é maioritária na superfície florestal de muitos países europeus – chegando, em Portugal, a cerca de três quartos da área florestal total – a concretização daquelas funções depende das práticas de gestão dos proprietários. O conhecimento destas práticas e do modo como elas se diferenciam por territórios rurais é então de importância considerável.

O objetivo do presente trabalho é precisamente o de estudar a relação entre padrões de práticas de gestão dos proprietários florestais privados não industriais (FPNI) e as características socioeconómicas dos territórios rurais, onde elas têm lugar. Entendemos aqui território como um lugar socialmente construído, de produção e identidade cultural, onde se configuram relacionamentos de proximidade e duradoiros de pessoas e instituições, no campo das possibilidades das suas condições físicas e sociais. A nossa atenção foca-se na dimensão social, em sentido lato.

O principal suporte teórico para esta análise provém da noção de incrustação social do comportamento económico desenvolvida por Polanyi, Arensberg e Pearson (1957). De acordo com a mesma, os agentes económicos não se comportam ou decidem como átomos exteriores ao seu contexto social. Pelo contrário, as suas ações económicas (no sentido substantivo) estão incrustadas em sistemas de relações e instituições sociais e, consequentemente, não podem ser explicadas se separadas desses sistemas (Granovetter, 1985; Krippner, 2001). Neste estudo, não se visa revelar as racionalidades das práticas de gestão e organização dos proprietários florestais2 pelos seus objetivos descortinados pela análise dos seus contextos sociais, mas tão só explicar padrões dessas práticas, territorialmente diferenciados, pelos contextos sociais locais. Discute-se se o contexto social local mantém poder explicativo, e quais as dimensões mais relevantes de tal contexto que se associam àqueles padrões. A aceção de território adotada permite-nos fazer o recorte do subsistema local do contexto social, mais amplo, dos proprietários florestais. Examinam-se dimensões sociais dos territórios (para as quais foi possível construir indicadores com base em informação estatística secundária) tais como economia florestal local, estruturas agrárias e outros atributos reveladores de densidades relacionais ou organizacionais locais.

Começa-se por fundamentar pela revisão bibliográfica a escolha das dimensões de caracterização socioeconómica dos territórios cuja relevância para a diferenciação da gestão florestal dos proprietários será avaliada. Descrevem-se, em seguida, o método e a informação utilizada relativamente aos territórios e à gestão dos proprietários. Apresentam-se e discutem-se os resultados.

 

PROPRIETÁRIOS FLORESTAIS E TERRITÓRIOS RURAIS

 

Na análise de objetivos e práticas de gestão dos proprietários FPNI, o contexto territorial tem permanecido uma variável exterior ao quadro analítico construído, invocado meramente para justificar diferenças entre amostras de proprietários de regiões distintas. A esse título, exceto para uma escassa minoria de autores que aponta fatores para a diferenciação regional da gestão florestal, não é usualmente explicitado o modo como essa influência se processa.

Greene e Blatner (1986), por exemplo, ao analisarem a variável dependente “management (yes/no)”, relativa a uma amostra de proprietários FPNI repartidos por duas regiões, consideram que a diferença de resultados entre estas é imputável aos contextos a que se reportam. Para caracterizar estes contextos em termos sociais apontam, designadamente, a proximidade a centros urbanos e a distribuição relativa da floresta entre proprietários privados industriais, não industriais e Estado, sem contudo mencionarem o modo como influenciam a variável dependente. Por sua vez, Normadin e Rouselle (1986) estabelecem uma tipologia de departamentos franceses que cruza a qualidade e intensidade da gestão florestal dos proprietários com as características destes e das suas propriedades. Reconhecem que as variáveis exteriores às unidades de gestão podem influenciar aquela relação, apontando como exemplo o dinamismo da indústria florestal local e o sistema local de vulgarização. A comparação de objetivos dos proprietários FPNI, entre o sul e o norte da Finlândia, é o propósito de Karppinen (1998b) que aponta fatores de diferenciação regional, sem os quantificar ou testar a sua relação com a diferença de objetivos e práticas constatadas. Os fatores socioeconómicos que considera justificarem a diferenciação de objetivos dos proprietários são a estrutura económica regional (peso da floresta no PIB, rendimento médio por habitante, presença da indústria florestal) e as diferenças culturais (peso dos valores agrários tradicionais).

A revisão bibliográfica que se empreende toma estas considerações como ponto de partida, e tem por objetivo explicitar e fundamentar o conjunto de dimensões e variáveis a utilizar, para a inclusão do contexto social local no quadro de análise da gestão florestal dos proprietários FPNI. Os contributos teóricos mobilizados para construir esse quadro de análise cobrem diversas proveniências disciplinares e estão, em seguida, organizados em três vertentes: a relação entre agricultura e floresta, a estrutura e funcionamento da economia florestal, e a relação entre floresta e desenvolvimento rural.

 

ESTRUTURAS AGRÁRIAS E GESTÃO FLORESTAL

 

A exploração agrícola tradicional dependia de uma certa complementari- dade com a atividade florestal, sendo ambas indissociáveis na ocupação da mão-de-obra familiar ou assalariada. A adoção do modelo químico-mecânico e a transformação dos modos de vida e da utilização do espaço nos territórios rurais, concorreram para quebrar aquela complementaridade. A substituição dos estrumes pelos adubos permitiu abdicar do roçar dos matos; as lenhas foram substituídas por outros combustíveis em muitos dos usos domésticos; o pastoreio dos gados prescinde já da floresta (Baptista, 2010). Nalguns contextos, essa dissociação há muito que era fomentada pelos poderes públicos em resposta às orientações da silvicultura e às necessidades de abastecimento da indústria florestal (Nougarede, 1995).

A esta quebra de complementaridade entre as atividades agrícola e florestal veio somar-se a dissociação entre os agentes que as tutelam, pelo aumento gradual do número de proprietários florestais que não são agricultores ou não detêm exploração agrícola. O acréscimo da sua quota-parte da área florestal faz parte dos traços de transformação estrutural que têm vindo a ser referidos para vários países da Europa e para os Estados Unidos da América (Normadin, 1996; Sauget e Depuy, 1996; Karppinen, 1998a; Kvarda, 2004; Dhubáin et al., 2009).

Estes proprietários não agricultores vivem em áreas mais urbanas, com profissões não agrícolas, e dependem de outras fontes de rendimento que não a produção primária (Kvarda, 2004). A sua crescente importância conduz a que, no caso da literatura de língua inglesa, designações como “farm forestry” tenham vindo a ser preteridas por outras mais abrangentes como “small-scale forestry” ou, sobretudo, “non-industrial private forestry” (Harrison, Herbohn e Niskanen, 2002; Herbohn, 2006).

Na comparação entre a gestão florestal de agricultores e não agricultores, as vantagens dos primeiros ou as desvantagens dos segundos são minimizadas por alguns autores, designadamente em virtude da matriz agrícola que lhes é comum. Normadin (1996), por exemplo, relativiza as vantagens que os agricultores teriam na gestão florestal, em virtude da disponibilidade de tempo de trabalho familiar, de saberes e de equipamento agrícola. Considera que, embora a sazonalidade do trabalho agrícola permita afetar tempo a tarefas florestais, esse tempo pode igualmente ser consagrado a outras atividades de produção ou lazer. Alguns inquéritos mostravam também não estarem os agricultores franceses seguros de poder transferir os seus saberes técnicos agrícolas para um setor que consideravam específico. Para Kvarda (2004) a principal diferença entre “farm forest owners” e “non-agricultural forest owners” reside nos objetivos de gestão, mais rentabilistas no primeiro caso, mais recreativos no segundo, dado que ambos são proprietários ativos. Com efeito, os primeiros, agricultores a tempo parcial ou a tempo inteiro, encaram a sua floresta como parte da sua exploração e do seu trabalho, os segundos cuidam das suas matas no seu tempo de lazer. Este facto estaria relacionado com as raízes agrícolas destes últimos que lhe assegurariam experiência, informação e até acesso a equipamento, e que poderão faltar a uma segunda geração de proprietários florestais não agricultores, que a autora prevê mais passiva face à sua floresta.

Num contexto como o português, onde é recente a dissociação entre agricultura e floresta, estimando-se que 3∕5 da área florestal estava integrada em explorações agrícolas no final do século passado (Baptista, 2010), a existência de uma matriz comum entre a agricultura e a floresta privada não industrial, leva-nos a procurar testar a hipótese de uma certa transposição para a floresta dos traços de diferenciação territorial da organização da produção agrícola.

 

ECONOMIA FLORESTAL LOCAL E GESTÃO FLORESTAL

 

A presença local da indústria de transformação das matérias-primas florestais e o seu dinamismo são fatores a que se alude na bibliografia como capazes de influenciar práticas e objetivos de gestão dos proprietários florestais locais, e concorrer para a sua diferenciação regional. A procura de produto florestal por parte dessa indústria, e em torno dela o desenvolvimento de uma rede de prestadores de serviços (que asseguram a circulação de informação técnica e relativa a mercados, e o aluguer de equipamentos), contam-se entre as vias pelas quais a economia florestal local poderá influir nas práticas de gestão na floresta.

No que se refere à procura de matéria-prima, e por referência ao contexto europeu, Hyttinen, Niskanen e Ottisch (2000), por exemplo, consideram que as necessidades de abastecimento regular da indústria transformadora têm tido um papel importante em manter os proprietários florestais interessados na gestão das suas florestas. Esta influência deverá ser particularmente relevante na proximidade da indústria na medida em que quanto maior a “distância do futuro povoamento a eventuais consumidores da madeira a produzir […] menor será a valorização da madeira em pé, uma vez que há a considerar custos de transporte substancialmente maiores” (Soares et al., 2007, p. 207).

Contudo, ainda na abordagem que fazem do setor florestal europeu, Hyttinen, Niskanen e Ottisch (2000) consideram que as unidades industriais de grande escala, embora constituam a espinha dorsal do desenvolvimento florestal regional, estão menos dependentes do abastecimento local. Parte até da sua matéria-prima pode ser importada de modo a ter um argumento de pressão nas negociações de preço com os fornecedores locais; o estabelecimento de acordos preferenciais com grandes proprietários pode também criar dificuldades aos pequenos proprietários.

De qualquer modo, o abastecimento da indústria transformadora tem vindo a suscitar o aparecimento de uma rede de prestadores de serviços, entre negociantes de madeira, empresas de logística, empreiteiros e subempreiteiros florestais, que asseguram a ligação entre a indústria e os proprietários florestais (Westermayer, 2006) e que genericamente passamos a designar por empreiteiros florestais. Para esta expansão concorreu a crescente externalização do trabalho florestal, em particular, a partir da década de 1980.

Na avaliação das consequências deste movimento de externalização em solo britânico, Slee (2006a) considera que o mesmo resultou numa redução drástica da força de trabalho residente localmente. Noutros contextos repete-se a constatação do fomento, através da subcontratação florestal, do uso de mão-de-obra exterior à região (Anderson, Thompson e Psaltopoulos, 1996; Canadas, 2006).

Não obstante, na esteira de Westermayer (2006), parece útil distinguir duas situações do ponto de vista da articulação entre os empreiteiros e os proprietários florestais locais. Numa estratégia regional seguida pelos empreiteiros, estes têm atividade numa determinada região, estabelecendo para isso relações de longo prazo com os proprietários locais. Estão aqui englobadas situações mais tradicionais, em que a subcontratação é assegurada por agricultores, e situações de profissionalização do serviço florestal. Numa estratégia de fileira, a inserção numa região não é mais privilegiada, sendo o custo de transporte das máquinas o fator limitante do raio de ação.

A primeira situação pressupõe um raio de ação dos empreiteiros relativamente restrito, isto é, a existência de um mercado local de serviços diretos florestais (Legendre, 2006; Westermayer, 2006; Schepens, 2007, Mäkinen, 1997), concorrendo para a ideia de relação da floresta ao tecido económico local. A estratégia de fileira está mais abundantemente documentada em contextos dominados pela grande propriedade florestal pública ou da privada industrial (Anderson, Thompson e Psaltopoulos, 1996; Rummukainen, Brogt e Kastenholz, 2006; Riella e Mascheroni, 2009). O predomínio de uma ou outra situação não é indiferente no balanço das implicações da externalização sobre o emprego local, assim como na influência que a oferta de serviços florestais de base local possa ter sobre a gestão dos proprietários FPNI.

Conjugando indústria florestal e oferta de serviços, podem definir-se dois modelos opostos de estrutura e funcionamento do setor florestal. Um primeiro é constituído por proprietários florestais residentes localmente e empregando trabalho familiar, assalariado, direto ou indireto de pequenos empreiteiros locais, e produzindo para a indústria transformadora local. Um segundo modelo integra a propriedade florestal industrial com trabalho exclusivamente externalizado, fornecido por empreiteiros florestais de grande raio de ação, indústria transformadora geograficamente muito concentrada e, por isso, nem sempre próxima das zonas de produção.

A influência do tecido económico florestal local na gestão que os privados não industriais fazem da floresta tem subjacente as condições presentes naquele primeiro modelo. Assim, é de esperar que, em territórios de maior peso do tecido económico florestal, haja mais proprietários com uma gestão mais ativa, e que um maior nível de oferta local de serviços por parte dos empreiteiros florestais favoreça a externalização das operações.

 

FLORESTA, RURAL E DESENVOLVIMENTO

 

Na relação entre rural e floresta duas vertentes de análise podem ser destrinçadas. A primeira diz respeito ao lugar da floresta no desenvolvimento rural, e é a que tem vindo a receber mais enfoque na bibliografia. A segunda tem a ver com a influência dos tipos de rural, via sociabilidades e cultura local, nos comportamentos dos proprietários florestais locais.

A primeira vertente é marcada pela evolução, nas últimas décadas, das expectativas quanto ao papel da floresta no rural e, também, pelo reconhecimento da heterogeneidade dessas expectativas. A visão da floresta como fornecedora de matéria-prima industrial e criadora de emprego e rendimento no rural é acentuada na Europa quando, a partir da década de 1980, se vai tornando mais patente o abandono de área agrícola e a redução da importância relativa da agricultura no emprego e rendimento da população rural. Em 1988, como resposta a esse abandono, a Comissão Europeia considera que as florestas “give rise to a variety of jobs … which must be exploited as part of a strategy to develop rural zones in order to maintain their population and improve their standard of living” (Anderson, Thompson e Psaltopoulos, 1996, p. 144). As limitações deste projeto depressa se foram evidenciando. Prendem-se com o acentuado decréscimo do emprego no setor, que por essa mesma altura se observa, relacionado com a expansão da mecanização das operações na floresta e indústria florestal (Blombäck, Poschen e Lövgren, 2003), em paralelo à crescente utilização de força de trabalho exterior à região.

À visão anterior do papel da floresta no rural, sucede-se então uma outra que enfatiza novas ou renovadas funções da floresta, como a conservação da natureza, biodiversidade e paisagem, a preservação do ambiente (controlo da erosão, sequestro do carbono) e o suporte para atividades de lazer e recreio, ou seja, da ênfase na melhoria da base produtiva passa-se para o fortalecimento dos serviços dos ecossistemas (Radich e Baptista, 2005; Santos, 2009). Longe de representar uma mera transformação do discurso político (Elands e Wiersum, 2001) ou das expectativas da população urbana relativamente à floresta (Rametsteiner e Kraxner, 2003), esta nova visão seria já partilhada por muitos dos rurais e proprietários florestais. Elands e O’Leary (2002), por exemplo, argumentam que o principal contributo da floresta na Europa rural não é a de ativo produtivo, dado que as populações rurais percecionam a floresta mais como natureza e paisagem e menos como uma atividade económica.

De qualquer modo, na peugada do reconhecimento da diversidade atual do rural (OECD, 2006) aceita-se também que as expectativas relativamente à floresta sejam distintas em vários tipos de rural (Elands e O’Leary, 2002; Dhubháin et al., 2009). O alargamento do leque de benefícios da floresta para o rural é, assim, acompanhado pela aceitação da possibilidade de a floresta ser até encarada como negativa para o desenvolvimento, em alguns contextos rurais. Elands et al. (2004), nomeadamente, mostram como as perceções da população rural relativamente à floresta, como prejudicial, indiferente ou benéfica à sua qualidade de vida, se associam a distintas perceções do rural. A floresta vista como prejudicial está associada à perceção do rural como tradicional, de relações de parentesco e vizinhança, de paz e sossego. Pelo contrário, a floresta encarada como benéfica está associada à visão do local como sobre-desenvolvido, com atratividade residencial e disponibilidade de serviços. Por sua vez, estas perceções do rural tendem a estar associadas ora a um rural remoto ou dependente da agricultura (a primeira), ora a um rural de características mais urbanas (a segunda).

A segunda vertente de análise, respeitante à influência dos tipos de rural nos objetivos e práticas dos proprietários florestais, tem recebido parca atenção. Karppinen (1998b) defendeu que as diferenças culturais entre territórios, em particular o peso dos valores agrários tradicionais, pudessem concorrer para a diferenciação de objetivos dos proprietários FPNI. Socorrendo-se da noção de estilos de vida, Ziegenspeck, Härdter e Schraml (2004) consideram a ruralidade/urbanidade dos proprietários mais relevante na diferenciação dos seus objetivos que a dualidade agricultor/não agricultor.

Estas duas vertentes de análise norteiam a leitura que neste texto se faz da interação entre práticas de gestão e tipos de rural. Por um lado, pretende-se averiguar se a diferentes tipos de rural se associam modalidades distintas de gestão da floresta, e quais as dimensões do rural mais relevantes na discriminação dessa gestão. Por outro lado, quer-se trazer o conhecimento efetivo do trabalho e das práticas de gestão dos proprietários privados para a discussão do contributo da floresta para o desenvolvimento e qualidade de vida rurais.

 

INFORMAÇÃO E MÉTODO

 

Para identificar as dimensões do contexto territorial que diferenciam as práticas de gestão da floresta, recorremos à análise discriminante linear canónica.

Trabalhámos sobre uma base de dados que compreende informação relativa a 2406 proprietários FPNI do continente português, recolhida entre 1999 e 20003, em 26 freguesias cuidadosamente selecionadas de modo a ilustrarem a diversidade da floresta quanto ao coberto florestal, à evolução da área florestal e à relação das populações com a floresta (Baptista e Santos, 2005). Esta permanece a base de dados mais completa sobre os proprietários florestais portugueses.

Esta investigação desenvolveu-se em três etapas. A primeira compreende uma análise e caracterização das práticas de gestão dos proprietários FPNI, para o que recorremos às noções de modo de organização do trabalho (MOT) e de modelo de trabalho (MT) (v. Novais e Canadas, 2010). O MOT e o MT representam conjuntos de práticas de gestão da floresta comuns a vários proprietários florestais, transversais às diferentes espécies florestais dominantes dos seus povoamentos (pinheiro bravo, eucalipto, sobreiro, azinheira, castanheiro e carvalho) ou à dimensão destes. As práticas de gestão são caracterizadas pela identidade da pessoa responsável pelo acompanhamento e execução, tipo de força de trabalho e de equipamento e a posse do equipamento usado em cada operação cultural. O MOT tipifica o conjunto de práticas numa única operação cultural, por exemplo, na limpeza de mato. O MT refere-se ao sistema das principais operações culturais desenvolvidas pelo proprietário – limpeza de mato, realização da produção (corte final, descortiçamento ou colheita da castanha) e intervenções no povoamento (o desbaste ou a seleção de vara, a poda de manutenção ou a desramação). Na identificação destes modos de organização e modelos de trabalho usámos a análise de clusters.

Na segunda etapa, classificam-se os 26 territórios de acordo com perfis de distribuição dos 2406 proprietários inquiridos pelos diferentes modelos de trabalho, modos de organização da realização da produção ou da limpeza do mato. Cada uma destas três classificações, com k classes (padrões de gestão), obteve-se de uma análise de correspondências simples seguida de uma análise de clusters.

A terceira etapa organiza-se em torno de três análises discriminantes. A análise discriminante linear canónica (ADC) é um método estatístico multivariado aplicado ao estudo da natureza das diferenças entre grupos, k clusters. O principal objectivo da ADC é extrair combinações lineares (funções canónicas) de p variáveis quantitativas que melhor revelem as diferenças entre os k clusters. Estas funções canónicas têm a correlação mais alta possível com os grupos e minimizam a variabilidade intra-classes e, ao fazer isto, maximizam a variabilidade inter-classes. O coeficiente de correlação canónico é uma medida da associação que sintetiza o grau de relacionalidade entre os grupos e a função canónica. O valor zero denota ausência de associação, enquanto números maiores (sempre positivos) representam graus crescentes de associação, sendo 1.0 o máximo. Estas funções canónicas são independentes ou mutuamente ortogonais. Para interpretar o seu significado i) examinam-se as posições relativas dos indivíduos e dos centróides dos grupos e ii) estuda-se as relações entre as p variáveis individuais e as funções canónicas (Klecka, 1980).

Realizamos cada uma das três ADC sobre uma matriz de p variáveis quantitativas observadas nos 26 territórios que se distribuem pelas k classes identificadas na segunda etapa. As p variáveis observadas são indicadoras de diferentes dimensões socioeconómicas dos territórios e foram selecionadas de um conjunto maior de indicadores sugeridos pela revisão bibliográfica e limitados pela informação secundária disponível (quadro 1). Estes três subconjuntos de p variáveis são aqueles que apresentaram, em ensaios repetidos, maior poder discriminante dos k clusters de territórios (padrões de gestão). Note-se que, com estes testes, várias variáveis foram excluídas dos subconjuntos, tal como o peso da área de eucalipto na área florestal total do território. Utilizamos o software analítico SAS, CANDISC procedure.

 

RESULTADOS

 

O quadro 2 contém os principais parâmetros e dendrogramas que permitem avaliar a qualidade das análises efetuadas e justificar algumas das opções tomadas. A identificação dos k agrupamentos de territórios, a interpretação das funções canónicas e a leitura das projeções dos territórios no primeiro plano canónico organizam-se pelas três sequências de análises: modelos de trabalho; modos de organização da limpeza de mato e modos de organização da realização da produção. Essa leitura integra resultados do apuramento das p variáveis por cada um dos clusters das três análises realizadas, cujas tabelas não se apresentam por razões de espaço.

 

 

MODELOS DE TRABALHO

 

O grupo Floresta externalizada caracteriza-se pela concentração (2/3) e maior presença relativa (mais de 1/3) dos proprietários que subcontratam a limpeza do mato e realizam a produção recorrendo principalmente a trator alugado e a trabalho assalariado ou, então, cedem a responsabilidade dessa operação ao comprador (modelo de trabalho EE, quadro 3). Também neste grupo se concentram os proprietários que fazem a limpeza de mato recorrendo a trabalho familiar ou assalariado e, muito frequentemente, alugam trator e contratam trabalho para a realização da produção (modelo II), mas que perfazem apenas 1/8 dos proprietários deste grupo de territórios. No grupo Floresta familiar concentram-se os proprietários florestais inquiridos que recorrem ao trabalho próprio ou familiar para cuidar das suas matas e não realizam a produção (IN) ou, quem a realiza, é o comprador (IE), respectivamente, 4/5 e 3/4. Estes são também os modelos de trabalho mais representativos das florestas que aí se reúnem. O padrão Floresta entregue a si própria, pelo contrário, caracteriza-se pela maior presença relativa e concentração dos proprietários que não concretizam qualquer operação produtiva nas suas florestas (NN) ou que não cuidam da floresta (não limpam o mato), externalizando (NE) ou internalizando (NI) a realização da produção. Finalmente, o grupo Domínio do castanheiro, compreende um único território, onde 9/10 dos proprietários florestais seguem o mesmo modelo de trabalho (NI). Por ser um cluster singular é difícil conferir-lhe significado na ADC.

 

 

O 1.º eixo discriminante (a 1.ª função canónica) opõe o grupo Floresta externalizada aos grupos Floresta familiar e Floresta entregue a si própria (figura 1). Sobre este eixo, a “taxa de ruralidade”, a “externalização do trabalho agrícola” e o “poder de compra” são as variáveis dominantes (quadro 4). O sinal positivo da primeira variável e negativo das outras duas sugere-nos designar esta função canónica por “Ruralidade associada à internalização do trabalho agrícola ou a níveis de vida mais baixos”. Com efeito, o agrupamento Floresta externalizada reúne os quatro territórios estudados que integram população urbana e verifica os valores médios mais altos dos indicadores de externalização do trabalho agrícola e do poder de compra per capita. O 2.º eixo discriminante separa os agrupamentos Floresta familiar e Floresta entregue a si própria (figura 1). Este eixo correlaciona-se mais positivamente com a variável “ativos agrícolas” e, negativamente, com as variáveis “densidade demográfica” e “evolução da população”. Designamo-lo por Dependência do emprego agrícola associada ao declínio demográfico. Assim, os territórios da Floresta familiar ficam associados a contextos socioeconómicos exclusivamente rurais, em que apenas uma parte muito pequena da população ativa se ocupa a título principal da agricultura, frequentemente com menores perdas ou maiores densidades demográficas. Por sua vez, os territórios Floresta entregue a si própria ligam-se a contextos de declínio demográfico e em que uma proporção maior da população ativa depende da agricultura. A 3.ª função discriminante canónica separa o Domínio do castanheiro dos restantes grupos.

 

 

 

MODOS DE ORGANIZAÇÃO DA LIMPEZA DE MATO

 

O padrão Floresta sem limpeza caracteriza-se pela elevada presença e concentração dos proprietários que não executam a limpeza de mato, o grupo Floresta com limpeza manual e familiar, dos proprietários que organizam a limpeza de mato sem equipamento motorizado e com recurso a trabalho principalmente familiar e o grupo Floresta com limpeza externalizada ou motorizada, dos proprietários que subcontratam a limpeza de mato ou que organizam esta operação com recurso principalmente ao seu próprio trator e a trabalho assalariado (quadro 5).

 

 

Com a 1.ª função discriminante canónica consegue-se uma separação, ainda que não completa, dos três agrupamentos de territórios, sendo a principal oposição entre a Floresta com limpeza manual e familiar e a Floresta com limpeza externalizada ou motorizada (figura 2). As correlações mais elevadas que este eixo observa com as variáveis “trabalho agrícola familiar” e “rendimento agrícola”, positivas, e com “área florestal média”, “peso das sociedades” e “externalização do trabalho agrícola”, negativas, permitem designá-lo por peso da agricultura familiar a que se associam rendimentos da terra mais elevados, estruturas fundiárias de menor dimensão, menor externalização do trabalho agrícola ou maiores densidades demográficas. O 2.º eixo discriminante separa a Floresta sem limpeza da Floresta com limpeza manual e familiar, mas mais nitidamente do Floresta com limpeza externalizada ou motorizada. A sua estrutura é de difícil interpretação; nomeámo-lo Dependência de uma agricultura familiar de pequena dimensão, considerando os contributos relativamente maiores das variáveis “ativos agrícolas” e “trabalho agrícola familiar” com sinais positivos e da variável “área florestal média” com sinal negativo (quadro 6).

 

 

 

Assim, os territórios da Floresta com limpeza externalizada ou motorizada ficam associados a contextos socioeconómicos que se caracterizam, em média, por maiores áreas florestais, por proporções maiores da área florestal detida por sociedades ou por uma agricultura com trabalho mais externalizado ou assalariado ou com sistemas de produção mais extensivos. Pelo contrário, os territórios da Floresta com limpeza manual e familiar associam-se a contextos com maior peso da família no trabalho agrícola que gera rendimentos unitários da terra mais elevados ou com propriedades florestais de muita reduzida dimensão. Por último, os territórios da Floresta sem limpeza compartilham valores intermédios daqueles atributos. Por exemplo, aproximam-se dos territórios Floresta com limpeza manual e familiar quanto ao cariz predominantemente familiar da sua agricultura e à dimensão média da propriedade florestal, mas afastam-se por observarem rendimentos da terra agrícola e densidades demográficas, em média, consideravelmente mais baixas.

 

MODOS DE ORGANIZAÇÃO DA REALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

 

Apesar da elevada concentração de proprietários que realizam a produção com trator e trabalho próprio ou familiar, o que caracteriza o grupo Floresta sem realização da produção é a elevada proporção e concentração dos proprietários que não executam a realização da produção (quadro 7); o padrão Floresta com realização da produção externalizada descreve-se pela maior presença relativa dos proprietários que entregam a responsabilidade desta operação ao comprador da mesma, o grupo Floresta com realização da produção assalariada, pela grande presença e concentração dos proprietários que recorrem a trabalho assalariado e a trator principalmente alugado no transporte da produção e, finalmente, o Domínio do castanheiro, pela quase exclusiva presença dos proprietários que recorrem a trabalho familiar, não mecanizando quaisquer tarefas na realização da produção. Mais uma vez, este é um grupo singular.

 

 

Os três principais agrupamentos separam-se ao longo do 1.º eixo discriminante que opõe principalmente o grupo Floresta sem realização da produção aos dois outros grupos Floresta com realização da produção externalizada e Floresta com realização da produção assalariada (figura 3). A variável “peso do pinheiro bravo” destaca-se pela correlação positiva relativamente alta com esta 1.ª função canónica, não sendo seguida de perto por outras variáveis (quadro 8). Designamos, então, este eixo por “Importância local da floresta de pinheiro bravo”. O 2.º eixo discriminante completa a separação entre os agrupamentos Floresta sem realização da produção e Domínio do castanheiro e entre os agrupamentos Floresta com realização da produção externalizada e Floresta com realização da produção assalariada. Sobre o lado positivo deste eixo, domina a variável “evolução da população”, seguida de longe pela variável “emprego no setor florestal” e, sobre o lado negativo, destaca-se a “externalização do trabalho agrícola”. Denominamos brevemente este eixo por Dinâmica demográfica.

 

 

 

Assim, os territórios da Floresta sem realização da produção associam-se mais fortemente a uma floresta dominada pelo pinheiro bravo e aqueles onde mais se realiza a produção, a florestas com menor peso do pinheiro bravo e, por conseguinte, maior presença do eucalipto ou do sobreiro. Acresce que os territórios da Floresta com realização da produção externalizada tendem a observar dinâmicas demográficas menos repulsivas ou associadas a um setor florestal com algum peso relativo, pelo menos, em termos de emprego. Os territórios da Floresta com realização da produção assalariada relacionam-se, em média, com contextos agrícolas mais dependentes do trabalho contratado por terceiros ou com contextos demográficos mais repulsivos.

 

DISCUSSÃO DE RESULTADOS

 

Nas análises discriminantes efetuadas, as dimensões socioeconómicas dos territórios que se destacaram foram mudando de acordo com a faceta da gestão florestal em escrutínio. Assim, a estrutura agrária (mais especificamente, a organização da produção agrícola e a estrutura da propriedade florestal) marca de forma decisiva os modos de organização da limpeza de mato, a dinâmica demográfica e a economia florestal local diferenciam os modos de realização da produção, e o tipo de rural diferencia os modelos de trabalho dos proprietários. No seu conjunto, as dimensões de caracterização socioeconómica dos territórios que sobressaíram na diferenciação da gestão florestal relacionam-se, sobretudo, com a estrutura agrária, e o tipo de rural e sua dinâmica demográfica. A dimensão economia florestal local, embora relevante na diferenciação dos modos de realização da produção, é secundarizada pela importância da espécie florestal localmente dominante e, ainda, pela dinâmica demográfica.

 

ESTRUTURAS AGRÁRIAS E INTERVENÇÕES PRODUTIVAS NA FLORESTA

 

As dimensões de caracterização das estruturas agrárias pretendem traduzir e testar a relevância de uma matriz local comum entre agricultura e floresta – Karpinnen (1998b) fala em valores agrários tradicionais –, e revelou-se terem um lugar de destaque na diferenciação dos grupos de territórios definidos, em particular, segundo os modos de organização na limpeza de mato.

Na diferenciação destes últimos é visível um paralelismo entre os predicados da organização local do trabalho, na agricultura e na floresta, reforçado pela estrutura da propriedade florestal. Esse paralelismo consiste na associação para um mesmo território entre: a) trabalho familiar numa agricultura mais intensiva e limpeza de mato com mão-de-obra familiar, b) menos trabalho familiar em agricultura menos intensiva e sem limpeza de mato ou c) maior externalização do trabalho agrícola e externalização da limpeza de mato. Ele permite fundamentar uma certa transposição das modalidades de gestão da agricultura para a gestão florestal, nomeadamente ao nível da limpeza de mato e de outras intervenções produtivas. Com efeito, em territórios onde predomina uma agricultura com trabalho quase exclusivamente familiar, há também disponibilidade de mobilização de mão-de-obra familiar para roçar manualmente os matos (Floresta com limpeza manual e familiar). Mas, quando aquela exclusividade é menos notória e os rendimentos da terra agrícola se reduzem, em conjugação ou não com o aumento da dimensão média da propriedade florestal, contrai-se também a afetação do trabalho familiar à floresta, e o dominante é a Floresta sem limpeza de mato.

Este resultado não surpreende, atendendo a que a roça manual de mato com motorroçadora tem, quando realizada com trabalho assalariado, um custo que está longe de ser compensado pelos rendimentos da atividade florestal (125 euros/ha.ano contra cerca de 50 euros/ha.ano, em estações de pinheiro bravo de qualidade média (AFN, 2006). E se assim é, a justificação para esta operação excede o quadro estrito da economia da floresta e faz apelo à articulação entre a floresta e a economia agrícola dos proprietários florestais. Note-se que nos dois agrupamentos de territórios em questão, apesar de ser idêntica a proporção (65%) dos detentores de exploração agrícola entre os proprietários florestais, a percentagem dos que declaram o autoconsumo como principal destino de matos e carumas é muito superior nos territórios da limpeza de mato manual com trabalho familiar do que nos territórios sem limpeza de mato – 34% contra 7%.

No que concerne ao paralelismo, para um mesmo território, entre maior nível de externalização agrícola e externalização da limpeza de mato, pode dizer-se que o mesmo está relacionado com a mobilização nesta última operação de equipamentos comuns à agricultura. Com efeito, externalizar a limpeza de mato implica a sua realização mecânica, com recurso a trator alugado e trabalho assalariado. Além disso, níveis de externalização elevados, em explorações agrícolas que recorrem a trabalho assalariado, estão frequentemente associados não só ao aluguer de equipamentos específicos (por exemplo, os de colheita de produtos agrícolas), como ao do próprio trator. A não transposição da organização do trabalho agrícola à realização da produção, denota a maior dificuldade de transferência de competências ou equipamentos, entre agricultura e floresta, em operações mais especializadas e também mais heterogéneas nos seus conteúdos, como são em geral as afetas à realização da produção (corte de madeira, tirada da cortiça ou apanha da castanha).

Quanto às circunstâncias que deverão estar reunidas para que se observe, como aqui, a transposição da organização do trabalho entre agricultura e floresta, merecem discussão dois pontos, relacionados com atributos da amostra de proprietários e/ou da agricultura portuguesa.

Em primeiro, vale a pena lembrar que a maioria dos proprietários florestais inquiridos (69%) é titular de exploração agrícola, sendo a redução desta titularidade uma tendência enunciada para os mais variados contextos. Sendo a priori admissível que esta redução possa obviar àquela transposição, surgem em sentido contrário as conclusões de algumas comparações entre proprietários florestais agricultores e não agricultores (Kvarda [2004], por exemplo, lembra as raízes agrícolas daqueles últimos).

Em segundo, importa reconhecer os baixos níveis de profissionalização do trabalho na agricultura portuguesa e a reduzida dimensão das explorações agrícolas e da propriedade florestal. Noutros contextos, onde estas variáveis divirjam significativamente daquela situação, afetando disponibilidades de mão-de-obra familiar e necessidades de trabalho na floresta, aquela transposição poderá transformar-se em oposição. É efetivamente o que parece deduzir-se para o caso finlandês, por exemplo, onde na análise dos perfis dos proprietários FPNI que influenciam a opção entre labor próprio ou externalização do trabalho na floresta, o maior recurso à externalização surge associado ao crescimento da área da exploração agrícola (Nordfjell et al., 2005).

Em suma, nos contextos onde a existência de uma raiz comum entre a agricultura e a floresta privada não industrial se faça ainda sentir, as estruturas agrárias locais podem surgir como relevantes na associação da gestão do trabalho na floresta com as características do território, ainda que essa associação não se traduza necessariamente em paralelismo de atributos entre a agricultura e a floresta.

 

ECONOMIA FLORESTAL LOCAL E REALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO FLORESTAL

 

Os atributos da economia florestal local são referidos por autores como Normadin e Rouselle (1986) e Karppinen (1998b) como passíveis de concorrer para a diferenciação regional de práticas e objetivos de gestão dos proprietários FPNI. No entanto, as variáveis escolhidas para caracterizar a economia florestal dos 26 territórios portugueses ainda que não despiciendas, não se evidenciam como as mais relevantes para diferenciar a gestão florestal que neles ocorre.

A variável que procura retratar a importância local da oferta de serviços à floresta, presente na solução retida da análise discriminante relativa aos modos de organização da limpeza de mato, é largamente suplantada pelas variáveis caracterizadoras da estrutura agrária. Assim, a forte associação entre os territórios com maior peso de externalização de limpeza de mato e de horas de trabalho agrícola subcontratado evidencia que o entrosamento com o local se faz mais pelo lado da procura local de serviços do que pelo lado da oferta dos mesmos. De entre os fatores que podem concorrer para a fraca associação entre a maior oferta de serviços à produção florestal e a presença da externalização na floresta, salientamos a falta de proximidade geográfica dos empreiteiros florestais às propriedades onde operam. No âmbito da amostra de proprietários FPNI estudada, é de admitir que o raio de ação preponderante dos empreiteiros florestais, principalmente dos que realizam a produção, exceda o nível de análise geográfico utilizado, o concelho (Canadas, 2006).

Passando às outras duas variáveis, apenas o “emprego no setor florestal”, revela algum grau, ainda que fraco, de associação entre os territórios com maior peso do emprego na produção e transformação florestal e a preponderância local dos proprietários que externalizam sobre os que não realizam a produção. Esta associação deixa pressupor que o efeito da proximidade da indústria sobre as práticas de gestão dos proprietários se traduz num estímulo à entrega da realização da produção ao comprador, mais do que ao cuidar da mesma.

Na situação portuguesa, aquela associação só pode ser fraca, como se sublinhou. Não só no último meio século se acentuou a concentração geográfica da transformação da cortiça fora das zonas de produção (Mendes, 2002; Azevedo e Fernandes, 2004), como também, no caso da madeira para pasta de papel, os elevados níveis de concentração económica da indústria acompanham-se de um reduzido número de unidades fabris (Alves, 2000). Apenas a indústria de serração, destino principal do pinheiro bravo, se caracteriza, juntamente com a da carpintaria, por menor concentração económica, grande dispersão geográfica e, por isso, maior proximidade aos locais de produção. Como na amostra de concelhos considerados, apenas uma minoria do emprego na indústria florestal corresponde à transformação da cortiça (14%) e à pasta e papel (11%), e uma maioria significativa à indústria da serração e à carpintaria para a construção (69%) percebe-se como ainda assim foi possível descortinar uma ligação significativa entre o cluster de territórios associado à realização da produção e o maior valor médio do “emprego no setor florestal”.

Todavia, este resultado não pode fazer esquecer a associação mais significativa entre a diferenciação territorial da gestão da realização da produção florestal e o peso que assume o pinheiro bravo na área florestal do território. A presença desta espécie de per si parece suficiente para explicar a preponderância local da não realização da produção. Efetivamente, pelas suas condicionantes biológicas, o pinheiro bravo requer um período muito mais dilatado para atingir o corte do que o eucalipto e do que o intervalo de tempo entre descortiçamentos.5 Estas considerações não eliminam outras que, por exemplo, se prendem com a economia das fileiras das diferentes espécies.

O fraco entrosamento entre gestão florestal dos proprietários FPNI e economia florestal local aqui constatado, é compatível com as tendências de transformação da estrutura e funcionamento do setor florestal observadas, designadamente, no contexto europeu. Trata-se do alargamento das áreas de abastecimento em matéria-prima por parte da indústria transformadora e a sua concentração, da substituição de trabalho assalariado direto pela sua externalização, do enfraquecimento das estratégias locais/regionais dos empreiteiros e do emprego crescentemente desvinculado do local, como atrás foi indicado. Slee (2006a, p. 483) mobiliza estes mesmos fatores para explicar o enfraquecimento da “connectivity between forestry and local communities”.

No entanto, a inclusão na análise efetuada de territórios onde dominam espécies florestais com ciclos biológicos muito distintos (pinheiro, eucalipto, sobreiro) faz aumentar a precaução na identificação dos fatores explicativos. Assim sendo, é de admitir que o entrosamento entre a realização da produção dos proprietários FPNI e a economia florestal local assuma níveis e contornos variáveis em diferentes contextos, dependendo, nomeadamente, da composição em espécies florestais, e da estrutura e funcionamento da economia florestal.

 

RURAL, DESENVOLVIMENTO E MODELOS DE TRABALHO NA FLORESTA

 

As variáveis utilizadas para caracterizar os tipos de rural e a sua dinâmica demográfica assumem um lugar de destaque na diferenciação territorial da gestão dos proprietários e, em particular, na que é avaliada pelos seus modelos de trabalho. A Floresta entregue a si própria tende a associar-se a contextos territoriais exclusivamente rurais, de baixa vitalidade demográfica e maior dependência do emprego agrícola. A Floresta familiar relaciona-se com territórios de maior vitalidade demográfica e menor dependência do emprego agrícola. Por último, a Floresta externalizada associa-se a um rural com pequenos núcleos urbanos, que apresenta maior poder de compra e uma agricultura mais externalizada.

A partir destes resultados discute-se a relação entre gestão dos proprietários e territórios rurais e entre floresta e desenvolvimento rural. Em primeiro lugar, os territórios simultaneamente de menor vitalidade demográfica e baixo nível de vida, onde são mais reduzidas as alternativas ao emprego no setor primário, são precisamente aqueles onde a gestão dos proprietários é menos ativa e, consequentemente, a floresta menos contribui para a criação de emprego e rendimento. O domínio de uma floresta que não dá trabalho ou emprego nem fornece matéria-prima, em suma, entregue a si própria, emerge nesta análise como reflexo da reduzida vitalidade do rural onde predomina.

Pelo menos para o contexto português, não parece concretizar-se a expectativa criada a partir de finais de 1980, de que, nas zonas mais deprimidas demograficamente, a floresta pudesse contribuir para o desenvolvimento rural “pelo aumento das oportunidades de emprego e rendimento” e fornecimento de matéria-prima industrial (Hyttinen et al., 2000, p. 221). Isto acontece, não por efeito das tendências globais apontadas para o setor florestal, como a mecanização do trabalho e a subcontratação do mesmo, mas pura e simplesmente pelo modelo de trabalho dominante na gestão dos proprietários FPNI neste tipo de rural. Podemos ainda duvidar do contributo desta Floresta entregue a si própria para a qualidade de vida da população rural. Convém então lembrar estarmos perante povoamentos dos quais está ausente “a gestão florestal tradicional (roça do mato, cortes seletivos e resinagem), conduzindo à acumulação de biomassa” AFN (2006, p. 17). Assim, há que atender à importância do risco de incêndio (Pereira et al., 2006), quando se sabe que, dos quatro clusters de territórios considerados, a maior área ardida observa-se no da Floresta entregue a si própria. Este é, aliás, um aspeto do impacto negativo da floresta na qualidade de vida local, particularmente sentido pela população rural no contexto português (Rodrigo e Canadas, 2009). É então para este tipo de rural, de reduzida vitalidade demográfica, baixo nível de vida e dependência do emprego agrícola que mais urge desenvolver e apoiar modalidades de gestão que permitam assegurar e remunerar uma gestão florestal sustentável.

Em segundo lugar, uma floresta que com maior probabilidade assegura rendimentos suficientes para custear as intervenções produtivas nela realizadas com trabalho remunerado, externalizado e/ou assalariado, como a Floresta externalizada, associa-se a territórios rurais com presença de pequenos núcleos urbanos ou maior poder de compra, mas que mesmo assim enfrentam, nalguns dos seus territórios, dinâmicas demográficas negativas. Reencontramos aqui a questão das limitações do contributo das estratégias de competitividade da agricultura e da floresta para o desenvolvimento rural e/ou dos níveis críticos de povoamento nestas zonas. Mas, se nem a agricultura de maior rentabilidade do trabalho agrícola tem sido capaz de contrariar a dinâmica demográfica negativa (Vitorino e Feio, 2004), muito menos o fará a floresta. As funções alternativas à produção de bens, não sendo grandes criadoras de emprego (Slee, 2006b), também não contrariam esta situação.

Por um lado, o que aqui se evidenciou é que a capacidade dos recursos florestais concorrerem para o emprego e rendimento, de fornecerem matéria-prima para a indústria transformadora ou até de prestarem outros serviços, se diferencia por tipos de rural. Por outro lado, mostrou-se a relevância do tipo de rural (juntamente com as estruturas agrárias) para explicar a diferenciação local dos padrões de gestão florestal, em contraste com a menor importância assumida pela economia florestal local.

 

CONCLUSÕES

 

A análise da relação entre a floresta e o rural, iniciada bastante recentemente, inclui já a caracterização de atitudes e opiniões dos residentes rurais face à floresta e ao seu lugar no desenvolvimento rural, em diferentes territórios. Contudo, essa análise não se tinha ainda aventurado pelos caminhos da relação entre diversidade dos territórios rurais e os padrões de gestão florestal dos proprietários FPNI.

A primeira conclusão que decorre dessa incursão, traçada neste texto, é que a gestão e organização do trabalho na floresta dos proprietários não industriais são territorialmente diferenciadas. Ou seja, o contexto social local ainda é parte da explicação das práticas de gestão dos proprietários florestais portugueses.

Face à revisão bibliográfica realizada, não parece que este resultado se possa confinar à especificidade do contexto português. Não obstante, reconhece-se o elevado peso de residentes locais e de titulares de exploração agrícola na amostra usada, assim como a acentuada diversidade das estruturas agrárias e tipos de rural do contexto português.

Em segundo lugar, contrariando algumas das hipóteses presentes na análise de objetivos e práticas dos proprietários FPNI, constatou-se, no caso português, que a articulação entre gestão da propriedade florestal não industrial e territórios, entre floresta e espaço rural, ocorre mais via estruturas e dinâmicas sociais locais, do que via economia florestal local. Conclui-se assim, indo ao encontro de Baptista (2010) em estudo recente sobre as dinâmicas do espaço rural6, que mesmo não havendo economias florestais locais, há vidas sociais locais com implicações até mais fortes do que aquelas na gestão que os proprietários FPNI fazem da floresta.

Reconhece-se, contudo, que a importância do contexto territorial na explicação de práticas de gestão se coloca sobretudo para os proprietários FPNI. Quando a propriedade florestal passa das mãos daqueles para a grande indústria, ou até para fundos de investimento, não é de esperar que o entrosamento entre a floresta e o local ocorra pelas dinâmicas sociais locais, tão-pouco estando assegurado que ocorra pela economia florestal local.

As duas conclusões tiradas têm como implicação óbvia que a evolução futura da gestão florestal, sobretudo em contextos onde os proprietários FPNI são relevantes, é largamente condicionada pelo conjunto das mudanças sociais em curso nos diferentes territórios rurais e não apenas pelas mudanças que ocorrem no quadro estrito da economia das fileiras florestais.

 

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Recebido a 03-08-2011. Aceite para publicação a 08-03-2013

 

NOTAS

1 Este estudo teve origem num desafio colocado pelo Professor Fernando Oliveira Baptista, do Instituto Superior de Agronomia, cujos comentários a uma primeira versão deste texto também agradecemos. O nosso reconhecimento estende-se ainda aos dois revisores anónimos deste texto.

2 Que se sabe serem socialmente desiguais, mas cujas diferenças apenas são levadas em consideração na medida em que contribuem para um padrão de gestão de um dado território.

3  Por inquérito efetuado no âmbito do projeto “Estudos dos problemas estruturais das explorações florestais portuguesas” (Projecto PAMAF – 8125).

4 Este é um território muito particular na medida em que 90% dos proprietários florestais aí inquiridos têm o castanheiro como a espécie dominante nas suas florestas, e compreende 70% dos inquiridos pelo castanheiro.

5 O número de anos em condições médias para Portugal é de 45 para o pinheiro e de apenas 12 para o eucalipto, enquanto a cortiça é extraída de 9 em 9 anos (Silva et al., 2007). No inquérito, a percentagem de proprietários que executaram corte de realização após 1989 e após o início da sua administração, tendo as árvores 20 ou mais anos, foi de 90% no caso do pinheiro bravo e de apenas 5% no eucalipto. Mais de metade dos proprietários de eucalipto cortou árvores com menos de 10 anos.

6 Relativamente à transição rural em Portugal, Baptista (2010) considera que “o local não coincide com o espaço da economia, nem delimita mercados de trabalho”.

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