Scielo RSS <![CDATA[Etnográfica]]> http://scielo.pt/rss.php?pid=0873-656120070001&lang=pt vol. 11 num. 1 lang. pt <![CDATA[SciELO Logo]]> http://scielo.pt/img/en/fbpelogp.gif http://scielo.pt <link>http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612007000100001&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt</link> <description/> </item> <item> <title><![CDATA[<B>Determinação e caos segundo a adivinhação moçambicana </B>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612007000100002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Although it is often assumed that the southern African systems of misfortune interpretation are deterministic, the notion of deterministic chaos seems to be more accurate to understand underlying principles of the Mozambican divination with tinhlolo. That system is based on a deterministic structure, it seeks to explain and to regulate the uncertainty, but its outcome is chaotic due to the complexity of the factors involved, unknowable in their totality and characterised by agency. To understand it as a domestication of aleatory system legitimates new comparison fields worldwide (including with the probabilistic notion of "risk"), and refocuses the study of Ngoma-like phenomena, from their reproduction mechanisms as affliction cults to their underlying logics and world visions.<hr/>Apesar de ser frequentemente assumido que os sistemas de interpretação do azar são determinísticos, pensamos que a noção de "caos determinístico" será mais adequada para compreender os princípios subjacentes ao sistema moçambicano de adivinhação através do tinhlolo. Este sistema assenta numa estrutura determinística, procura explicar e regular a incerteza, mas o seu resultado é caótico dada a complexidade dos factores envolvidos, desconhecidos na sua totalidade e caracterizados pela sua agência. Compreender o tinhlolo como um sistema de "domesticação do aleatório" legitima e amplifica o campo de comparação com outros contextos a nível mundial (incluindo a noção probabilística do "risco") e ressitua o estudo dos fenómenos do tipo Ngoma, dos seus mecanismos de reprodução enquanto cultos de aflição para as suas lógicas subjacentes e visões do mundo. <![CDATA[<B>Contacto, conhecimento e conflito</B>: <B>Dinâmicas culturais e sociais num movimento evangélico cigano na Península Ibérica </B>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612007000100003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Este texto propõe uma análise dos cultos evangélicos da Igreja Filadélfia, um movimento cristão protestante de forte implantação entre os ciganos de Portugal e Espanha. Procurando compreender a importância da prática ritual na experiência religiosa e identitária dos crentes, proponho os conceitos de "contacto", "conhecimento" e "conflito" como mecanismos para explicar como os cultos são local e socialmente implantados na contemporaneidade cigana, ligando ideologia, memória e práticas.<hr/>This article proposes an analysis of the evangelical cults of the Filadelfia Church - a Christian Protestant movement created among Portuguese and Spanish Gypsy communities. In order to attempt an understanding of the role played by ritual praxis within religious and identitary experience, I propose the notions of "contact", "knowledge" and "conflict" as explanatory devices for the local and social implantation of the cults within Gypsy contemporariness, connecting ideology, memory and practices. <![CDATA[<B>Usos da ruralidade</B>: <B>apresentação</B>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612007000100004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Este texto propõe uma análise dos cultos evangélicos da Igreja Filadélfia, um movimento cristão protestante de forte implantação entre os ciganos de Portugal e Espanha. Procurando compreender a importância da prática ritual na experiência religiosa e identitária dos crentes, proponho os conceitos de "contacto", "conhecimento" e "conflito" como mecanismos para explicar como os cultos são local e socialmente implantados na contemporaneidade cigana, ligando ideologia, memória e práticas.<hr/>This article proposes an analysis of the evangelical cults of the Filadelfia Church - a Christian Protestant movement created among Portuguese and Spanish Gypsy communities. In order to attempt an understanding of the role played by ritual praxis within religious and identitary experience, I propose the notions of "contact", "knowledge" and "conflict" as explanatory devices for the local and social implantation of the cults within Gypsy contemporariness, connecting ideology, memory and practices. <![CDATA[<B>"A poesia dos simples"</B>: <B>arte popular e nação no Estado Novo</B>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612007000100005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Nos anos 30 e 40 do século XX, o Secretariado da Propaganda Nacional - órgão máximo da propaganda do regime de Salazar - desenvolveu um largo conjunto de iniciativas folcloristas que marcaram a memória crítica do Estado Novo. Este artigo sonda os limites de uma interpretação que reduz tal política a um instrumento de domesticação do povo, mostrando que é nos mecanismos de afirmação da nação, dentro e fora das fronteiras portuguesas, que podemos encontrar a explicação mais pertinente para a campanha etnográfica então empreendida. E é em função de tal proposta que abordaremos ainda os processos de manipulação e selecção dos materiais da cultura popular aí implicados, mostrando como, através dos mesmos, o SPN;/;SNI veiculou um retrato do país baseado na imagem do povo português enquanto camponês-esteta.<hr/>In the 1930’ and 1940’ the Secretariado da Propaganda Nacional - the propaganda head office of Salazar’s dictatorship - promoted several folkloristic events, which became a core element of the Estado Novo current memory. This paper shows how the Secretariado‘s ethnographic campaign relates mostly with the politics of national identity building developed inside the Portuguese borders and in the international arena. In this context, I examine the selective approach to the folk culture materials evolved in those pratics. I also try to illuminate the ways by witch such materials were used to create a representation of the Portuguese folk as a people of artist-peasants, and of Portugal as a pacific and lovable country. <![CDATA[O comunismo mágico-científico de Alves Redol]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612007000100006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Observando a importância da etnografia para o neo-realismo, este artigo toma como estudo de caso o escritor Alves Redol, figura emblemática daquele movimento literário. Começando por analisar a formação de uma sensibilidade etnográfica em Alves Redol, procuramos averiguar o significado comunista dessa sensibilidade e a sua expressão nas representações redolianas do povo e da nação. Em seguida confrontamos essas representações com a aspiração romântica de Redol a um comunismo primitivo, mas também com o seu desejo de obreirização da vida rural, mostrando por fim como Alves Redol procurou superar a dicotomia campo/cidade, afastando-se da imaginação mais urbanista de uns e da imaginação mais ruralista de outros, num processo que teve expressão máxima no Mitchurin de A Vida Mágica da Sementinha.<hr/>Considering ethnography’s relevance in new social realism, this article focuses the case of the writer Alves Redol, an emblematic personality of that literary movement. Through an analysis of the making-of an ethnographic sensibility in Redol, we reflect upon the communist meaning of such sensibility and the effect it had on Redol’s own representations of the people and the nation. Then we will confront such representations with Redol romantic aspiration towards a primitive communism but also his desire for an industrial labourization of the rural life, to conclude that Redol overstepped the city/country dichotomy and moved away from both urban and rural imaginary, a move that reached his maximum eloquence in the figure of Mitchurin, the main-star of A Vida Mágica da Sementinha. <![CDATA[<B>"A caminhada até às aldeias"</B>: <B>A ruralidade na transição para a democracia em Portugal</B>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612007000100007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt O presente artigo procura examinar a equação "povo-ruralidade" no quadro da transição democrática portuguesa, tomando como corpo empírico as Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do Movimento das Forças Armadas (1974-1975). Procurando contrariar a versão folclórica do país promovida pelo Estado Novo, os protagonistas desta iniciativa constroem um campo discursivo paradoxal, onde se entretecem conceitos como cultura, tradição, subdesenvolvimento, descentralização e cidadania.<hr/>This article examines the representations of rural Portugal in the light of Portuguese democratic transition, taking as an empirical field the Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do Movimento das Forças Armadas (1974-1975). Trying to confront the "idea of Portugal" promoted by the Estado Novo the protagonists of this initiative construct a paradoxical discursive field, where concepts such as culture, tradition, underdevelopment, decentralization and citizenship are intertwined. <![CDATA[A procura do turismo em espaço rural]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612007000100008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Este artigo estuda a procura do turismo em espaço rural (TER) em Portugal, tomando como referência dados recolhidos no território continental e, particularmente, em três aldeias. Conclui-se que a procura é composta por citadinos de classe média que se deslocam para o campo a fim de romper com o quotidiano e de obter uma experiência revigorante. O campo é para estes citadinos uma espécie de paraíso na terra, que integra muitas virtudes que se crêem inexistentes nos meios urbanos, como a tranquilidade, a natureza, a tradição e a autenticidade. A sua estadia em unidade de TER contribui decisivamente para a desejada imersão no idílio rural, quer se trate de casas rústicas quer de solares e casas apalaçadas.<hr/>This article deals with the demand for tourism in rural areas (TRA) in Portugal, presenting the results of research developed in Continental Portugal and, particularly, in three village contexts. We conclude that the demand is mainly performed by middle class urbanites with two main goals: to break free from everyday life and to reenergize in the countryside. The countryside is, for these urban dwellers, a kind of paradise on Earth that incorporates many of the virtues believed to be inexistent in the cities: tranquillity, nature, tradition and authenticity. Lodging in TRA houses is a decisive step for their desired immersion in rural idyll, wether in rustic houses, manor-houses or palace-like houses. <![CDATA[<B>Usos da ruralidade na arquitectura paisagista</B>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612007000100009&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Procurarei pensar os projectos e o processo de trabalho do arquitecto paisagista João Gomes da Silva através do conceito de objectificação da cultura de Richard Handler. João Gomes da Silva segue a escola de arquitectura paisagista fundada por Francisco Caldeira Cabral e inclui frequentemente tipologias rurais, como elementos representativos da identidade do lugar, em jardins públicos e privados, em espaços públicos e urbanos. Influenciado pelo arquitecto Álvaro Siza Vieira e, através dele, pelo Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal, também dedica particular atenção aos modos populares de construção da paisagem. Estes surgem nos seus projectos como modos de construção que marcam a cultura e a identidade de um território sendo, como tal, esteticamente valorizados.<hr/>In this article, I will focus on the landscape architecture projects of João Gomes da Silva using Richard Handler’s concept of cultural objectification. João Gomes da Silva is a follower of the landscape architecture school of Francisco Caldeira Cabral and uses rural typologies as elements representing the identity of the place in public and private gardens, and in public and urban spaces. He is also influenced by the architect Álvaro Siza Vieira and by the Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal, paying particular attention to the folk modes of constructing the landscape. In his projects, these folk modes are shown as representative elements of the culture of the place and they are aesthetically valued as such. <![CDATA[<B>"Aromas de urze e de lama"</B>: <B>reflexões sobre o gesto etnográfico</B>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612007000100010&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Este ensaio tem por objecto o gesto etnográfico - movimento tanto físico quanto intelectual que leva o cientista a descontextualizar-se socialmente para poder re-contextualizar-se no "terreno." Esse movimento requer engenho, na medida em que cria uma ambiguidade processual entre identificação e diferenciação; exige, pois, uma criatividade na postulação do mundo estudado como um mundo humano possível face a outros. O etnógrafo defronta-se necessariamente com a questão da relevância dos detalhes de interacção que observa para a compreensão da condição humana como um todo: um problema de escalas que exigem mediação. O artigo termina com a proposta de um novo olhar universalista para a antropologia.<hr/>This essay deals with the ethnographic gesture - that movement, both physical and intellectual, in the course of which the social scientist is socially decontextualized in order to re-contextualize himself in the "field". This movement demands both creativity and dynamism (engenho) on his part. The processual ambiguity between identification and differentiation is essential, so that the lived world that is studied may be postulated as a possible human world before a number of other possible worlds. The ethnographer is necessarily confronted with questions concerning the relevance of the small scale interactions he studies for the understanding of the human condition as a whole: a problem of scales which require mediation. At the end, the article argues for a new universalist outlook for anthropology. <![CDATA[<B>Itinerário de aprendizagens sobre a construção teórica do objecto <I>saber</B></I>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612007000100011&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt A construção de objectos teóricos de investigação supõe a explicitação e a racionalização dos trajectos autobiográficos que se inscrevem na cultura profissional da investigação em ciências sociais. Estes trajectos mostram que as relações entre teoria e dados não são lineares, sendo atravessadas por conflitos cognitivos. Há, assim, uma cultura de problemas no quotidiano da prática científica que não deve ser confundida com as regras e conflitos de legitimação da produção científica. O trajecto autobiográfico descrito toma como objecto teórico central os conceitos de saber e de cultura profissional. Para o efeito, desenvolve-se uma problemática teórica que começa e acaba na questão das desigualdades socioescolares e que se detém demoradamente na articulação entre as modalidades do sentido contextual do saber prático e recontextualização profissional do conhecimento.<hr/>The construction of theoretical research objects assumes the explicitation and rationalisation of the autobiographical trajectories that are inscribed in the professional culture of research in Social Sciences. These trajectories show that the relations between theory and data are not linear, as they are interspersed with cognitive conflicts. So there is a culture of problems in routine scientific practice that should not be confused with the rules and conflicts of legitimating the scientific output in a given social field. The autobiographical trajectory described takes the concepts of knowledge and professional culture as a core theoretical object. For this, a theoretical problem is developed that begins and ends in the question of socio-educational inequalities, and which has protractedly been contained in the interaction between the modalities of the contextual meaning of practical-contextual knowledge and in the professional recontextualisation of knowledge. <![CDATA[<B>Este e Oeste</B>: <B>Orientalismo, guerra e a contemporaneidade colonial</B>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612007000100012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt For at least two hundred years, Western countries have exercized a "benevolent" violence through colonization. Advocated in the name of the "civilizing mission" of the West and inspired by eschatology, this calling held the promise of redemption, both for the colonizer and for the colonized. The "war declared on terrorism" after the massacre of 9/11 in New York, with the subsequent military operations in Afghanistan and in Iraq, revives this tradition of ameliorative interventionism by carrying on the old orientalist-related topoi. Far from effacing the Great Divide between the West and the Rest, the wars of a putatively new type reinforce and polarize the division between "civilized" and "barbaric" in the era of "globalization". The unfolding ideology of the American, according to which there would no longer be "outside" or "inside", because no country would now be exempt from terrorism, obscures at little cost, but not ineffectually, the "colonial present". What now prevails is a sombre vision of globalization, that of a fight to the death between two worlds, extending over all continents, between the "Empire of the Good", incarnated by America, and the "Empire of Evil", incarnated by Islamic terrorism. But this novelty goes back to schemas that are as old as the United States itself, insofar as this self-proclaimed "exceptional", "unilateral" and "providential" "imperial republic" has an idealistic or utopian component qualified as "indispensable". Welcome the the "Wilsonism in boots"!<hr/>Ao longo de pelo menos duzentos anos, os países ocidentais exercitaram uma violência "benevolente" através do colonialismo. Advogado, à época, em nome de uma "missão civilizadora" do Ocidente e inspirado na escatologia, este chamamento invocava a promessa da redenção, tanto para o colonizador como para o colonizado. A declaração de "guerra ao terrorismo" depois do massacre de 11 de Setembro em Nova Iorque, e as subsequentes operações militares no Afeganistão e no Iraque, revive esta tradição de "intervencionismo melhorador" ao transportar os velhos topoi orientalistas. Longe de erradicar a Grande Divisão entre o West e o Rest, as novas guerras reforçam e polarizam a divisão entre "civilizados" e "bárbaros" numa era de "globalização". A crescente ideologia dos norte-americanos, segundo a qual não haveria mais lugar para o "fora" e o "dentro" porque nenhum país está a salvo do terrorismo, ofusca superficialmente (mas também com eficácia) a "contemporaneidade colonial". Prevalece hoje uma visão sombria da globalização, a visão de uma guerra mortífera entre dois mundos, estendendo-se por todos os continentes e encarnada pelos Estados Unidos da América e pelo "Império do Mal", encarnado pelo terrorismo islâmico. No entanto, esta nova ordem não faz senão recuperar velhos esquemas, tão antigos como os próprios Estados Unidos da América, na medida em que esta autoproclamada "república imperial", "providencial", "excepcional" e "unilateral" incorpora uma componente idealística e utópica encarada como "indispensável". Bem-vindos ao "wilsonismo com botas"! <![CDATA[<B>Memória Social em Campo Maior </B>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612007000100013&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt For at least two hundred years, Western countries have exercized a "benevolent" violence through colonization. Advocated in the name of the "civilizing mission" of the West and inspired by eschatology, this calling held the promise of redemption, both for the colonizer and for the colonized. The "war declared on terrorism" after the massacre of 9/11 in New York, with the subsequent military operations in Afghanistan and in Iraq, revives this tradition of ameliorative interventionism by carrying on the old orientalist-related topoi. Far from effacing the Great Divide between the West and the Rest, the wars of a putatively new type reinforce and polarize the division between "civilized" and "barbaric" in the era of "globalization". The unfolding ideology of the American, according to which there would no longer be "outside" or "inside", because no country would now be exempt from terrorism, obscures at little cost, but not ineffectually, the "colonial present". What now prevails is a sombre vision of globalization, that of a fight to the death between two worlds, extending over all continents, between the "Empire of the Good", incarnated by America, and the "Empire of Evil", incarnated by Islamic terrorism. But this novelty goes back to schemas that are as old as the United States itself, insofar as this self-proclaimed "exceptional", "unilateral" and "providential" "imperial republic" has an idealistic or utopian component qualified as "indispensable". Welcome the the "Wilsonism in boots"!<hr/>Ao longo de pelo menos duzentos anos, os países ocidentais exercitaram uma violência "benevolente" através do colonialismo. Advogado, à época, em nome de uma "missão civilizadora" do Ocidente e inspirado na escatologia, este chamamento invocava a promessa da redenção, tanto para o colonizador como para o colonizado. A declaração de "guerra ao terrorismo" depois do massacre de 11 de Setembro em Nova Iorque, e as subsequentes operações militares no Afeganistão e no Iraque, revive esta tradição de "intervencionismo melhorador" ao transportar os velhos topoi orientalistas. Longe de erradicar a Grande Divisão entre o West e o Rest, as novas guerras reforçam e polarizam a divisão entre "civilizados" e "bárbaros" numa era de "globalização". A crescente ideologia dos norte-americanos, segundo a qual não haveria mais lugar para o "fora" e o "dentro" porque nenhum país está a salvo do terrorismo, ofusca superficialmente (mas também com eficácia) a "contemporaneidade colonial". Prevalece hoje uma visão sombria da globalização, a visão de uma guerra mortífera entre dois mundos, estendendo-se por todos os continentes e encarnada pelos Estados Unidos da América e pelo "Império do Mal", encarnado pelo terrorismo islâmico. No entanto, esta nova ordem não faz senão recuperar velhos esquemas, tão antigos como os próprios Estados Unidos da América, na medida em que esta autoproclamada "república imperial", "providencial", "excepcional" e "unilateral" incorpora uma componente idealística e utópica encarada como "indispensável". Bem-vindos ao "wilsonismo com botas"! <![CDATA[<B>A Revolução no alentejo memória e traumas da reforma agrária em avis</B>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612007000100014&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt For at least two hundred years, Western countries have exercized a "benevolent" violence through colonization. Advocated in the name of the "civilizing mission" of the West and inspired by eschatology, this calling held the promise of redemption, both for the colonizer and for the colonized. The "war declared on terrorism" after the massacre of 9/11 in New York, with the subsequent military operations in Afghanistan and in Iraq, revives this tradition of ameliorative interventionism by carrying on the old orientalist-related topoi. Far from effacing the Great Divide between the West and the Rest, the wars of a putatively new type reinforce and polarize the division between "civilized" and "barbaric" in the era of "globalization". The unfolding ideology of the American, according to which there would no longer be "outside" or "inside", because no country would now be exempt from terrorism, obscures at little cost, but not ineffectually, the "colonial present". What now prevails is a sombre vision of globalization, that of a fight to the death between two worlds, extending over all continents, between the "Empire of the Good", incarnated by America, and the "Empire of Evil", incarnated by Islamic terrorism. But this novelty goes back to schemas that are as old as the United States itself, insofar as this self-proclaimed "exceptional", "unilateral" and "providential" "imperial republic" has an idealistic or utopian component qualified as "indispensable". Welcome the the "Wilsonism in boots"!<hr/>Ao longo de pelo menos duzentos anos, os países ocidentais exercitaram uma violência "benevolente" através do colonialismo. Advogado, à época, em nome de uma "missão civilizadora" do Ocidente e inspirado na escatologia, este chamamento invocava a promessa da redenção, tanto para o colonizador como para o colonizado. A declaração de "guerra ao terrorismo" depois do massacre de 11 de Setembro em Nova Iorque, e as subsequentes operações militares no Afeganistão e no Iraque, revive esta tradição de "intervencionismo melhorador" ao transportar os velhos topoi orientalistas. Longe de erradicar a Grande Divisão entre o West e o Rest, as novas guerras reforçam e polarizam a divisão entre "civilizados" e "bárbaros" numa era de "globalização". A crescente ideologia dos norte-americanos, segundo a qual não haveria mais lugar para o "fora" e o "dentro" porque nenhum país está a salvo do terrorismo, ofusca superficialmente (mas também com eficácia) a "contemporaneidade colonial". Prevalece hoje uma visão sombria da globalização, a visão de uma guerra mortífera entre dois mundos, estendendo-se por todos os continentes e encarnada pelos Estados Unidos da América e pelo "Império do Mal", encarnado pelo terrorismo islâmico. No entanto, esta nova ordem não faz senão recuperar velhos esquemas, tão antigos como os próprios Estados Unidos da América, na medida em que esta autoproclamada "república imperial", "providencial", "excepcional" e "unilateral" incorpora uma componente idealística e utópica encarada como "indispensável". Bem-vindos ao "wilsonismo com botas"! <![CDATA[<B>Dinâmicas do mundo rural</B>: <B>etnografias da mudança</B>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612007000100015&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt For at least two hundred years, Western countries have exercized a "benevolent" violence through colonization. Advocated in the name of the "civilizing mission" of the West and inspired by eschatology, this calling held the promise of redemption, both for the colonizer and for the colonized. The "war declared on terrorism" after the massacre of 9/11 in New York, with the subsequent military operations in Afghanistan and in Iraq, revives this tradition of ameliorative interventionism by carrying on the old orientalist-related topoi. Far from effacing the Great Divide between the West and the Rest, the wars of a putatively new type reinforce and polarize the division between "civilized" and "barbaric" in the era of "globalization". The unfolding ideology of the American, according to which there would no longer be "outside" or "inside", because no country would now be exempt from terrorism, obscures at little cost, but not ineffectually, the "colonial present". What now prevails is a sombre vision of globalization, that of a fight to the death between two worlds, extending over all continents, between the "Empire of the Good", incarnated by America, and the "Empire of Evil", incarnated by Islamic terrorism. But this novelty goes back to schemas that are as old as the United States itself, insofar as this self-proclaimed "exceptional", "unilateral" and "providential" "imperial republic" has an idealistic or utopian component qualified as "indispensable". Welcome the the "Wilsonism in boots"!<hr/>Ao longo de pelo menos duzentos anos, os países ocidentais exercitaram uma violência "benevolente" através do colonialismo. Advogado, à época, em nome de uma "missão civilizadora" do Ocidente e inspirado na escatologia, este chamamento invocava a promessa da redenção, tanto para o colonizador como para o colonizado. A declaração de "guerra ao terrorismo" depois do massacre de 11 de Setembro em Nova Iorque, e as subsequentes operações militares no Afeganistão e no Iraque, revive esta tradição de "intervencionismo melhorador" ao transportar os velhos topoi orientalistas. Longe de erradicar a Grande Divisão entre o West e o Rest, as novas guerras reforçam e polarizam a divisão entre "civilizados" e "bárbaros" numa era de "globalização". A crescente ideologia dos norte-americanos, segundo a qual não haveria mais lugar para o "fora" e o "dentro" porque nenhum país está a salvo do terrorismo, ofusca superficialmente (mas também com eficácia) a "contemporaneidade colonial". Prevalece hoje uma visão sombria da globalização, a visão de uma guerra mortífera entre dois mundos, estendendo-se por todos os continentes e encarnada pelos Estados Unidos da América e pelo "Império do Mal", encarnado pelo terrorismo islâmico. No entanto, esta nova ordem não faz senão recuperar velhos esquemas, tão antigos como os próprios Estados Unidos da América, na medida em que esta autoproclamada "república imperial", "providencial", "excepcional" e "unilateral" incorpora uma componente idealística e utópica encarada como "indispensável". Bem-vindos ao "wilsonismo com botas"!