Scielo RSS <![CDATA[Revista Portuguesa de Saúde Pública]]> http://scielo.pt/rss.php?pid=0870-902520090002&lang=pt vol. 27 num. 2 lang. pt <![CDATA[SciELO Logo]]> http://scielo.pt/img/en/fbpelogp.gif http://scielo.pt <![CDATA[<b>A Saúde Pública e as respostas sociais (e inteligentes) às crises</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-90252009000200001&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt <![CDATA[<b>Análise da variação concelhia da mortalidade anual média por neoplasias malignas dos órgãos do aparelho respiratório e intra-torácicos em Portugal Continental</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-90252009000200002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt De entre as neoplasias malignas, as do aparelho respiratório e órgãos intra-torácicos correspondem ao 3.º tipo de neoplasia mais comum em Portugal. Estudos anteriores evidenciaram variações geográficas relevantes ao nível do distrito, na distribuição da mortalidade por este grupo de neoplasias. O presente trabalho procurou alargar o conhecimento sobre a variação concelhia da mortalidade por neoplasias malignas do aparelho respiratório e órgãos intra-torácicos, verificada em Portugal Continental. Neste sentido procedeu-se à análise da dependência espacial evidenciada pela mortalidade associada a este conjunto de neoplasias, para identificação de grupos de concelhos (clusters) do Continente com elevado e com reduzido risco relativo de morte pelas causas estudadas. A mortalidade por neoplasias malignas dos órgãos intratorácicos e do aparelho respiratório foi analisada por concelho, com base nos óbitos devidos a este grupo de causas ocorridos entre 2000 e 2004 em Portugal Continental. A partir da população residente por concelho em 2001 determinaram-se taxas de mortalidade padronizadas pela idade (TMP) através do método de padronização directo, sendo as medidas do risco relativo de morte por este con-junto de causas fornecidas pelo índice comparativo de mortalidade (ICM). A avaliação da auto-correlação espacial foi realizada sobre os valores de ICM concelhios, através dos índices global (estatística I de Moran) e local de Moran (LISA). A análise da distribuição espacial dos mais elevados ICM permitiu evidenciar concentrações geográficas nos distritos de Beja, Lisboa e Porto para os indivíduos do sexo masculino. No caso dos indivíduos do sexo feminino, a localização dos concelhos com ICM de elevado valor não indiciou a existência de um padrão geográfico a destacar. A variação concelhia da mortalidade masculina por neoplasias do aparelho respiratório e órgãos intra-torácicos evidenciou padrões de distribuição espacial não aleatórios, que legitimam a investigação de variáveis que possibilitem explicar a variabilidade espacial da causa de morte em apreciação.<hr/>Malignant neoplasm of respiratory and intrathoracic organs is the third most common neoplasm in Portugal. Previous studies applied to mainland Portugal administrative regions confirmed that age standardized mortality rates associated to this neoplasm show differences between regions. The present study aims to analyse such variations by municipalities (NUT IV level) and to identify spatial clusters with high and low mortality risk by this cause of death. Considering the 2000-2004 period, the mortality data associated to malignant neoplasm of respiratory and intrathoracic organs was aggregated by municipalities of mainland Portugal. For each municipality, average annual age standardized mortality rates and comparative mortality figures were calculated by gender. The identification of spatial clusters (groups of contiguous municipalities) with high and low values was achieved through spatial autocorrelation+- analysis of comparative mortality figures per gender. This analysis involved the evaluation of local and global Moran statistics. For men, the spatial distribution of comparative mortality figures revealed relevant geographic variation, with high risk areas in several municipalities of Alentejo region (NUT II) and in municipalities of the two main metropolitan areas (Lisbon and Oporto). The distribution of comparative mortality figures associated to women did not reveal any relevant spatial pattern. The results obtained for men point out that the risk of death by this neoplasm is not independent from spatial locations. This finding advises further research on the identification of several factors (socioeconomic or environmental) that may help to explain the observed geographical variation. <![CDATA[<b>Factores de vulnerabilidade e protecção na aquisição de hábitos tabágicos dos adolescentes portugueses em meio escolar e familiar</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-90252009000200003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Objective: Evaluate smoking prevalence among teenagers and identify associated social-behavioural factors. Methods: A cross sectional-study was carried out in May (2004) in a high school population (7th-12th grades) in the north of Portugal (n = 1005). The self-administered questionnaire contained items on smoking, sociodemographics, academic achievement, relatives and partner smoking habits. Results: The overall smoking prevalence rate was 19.7% (boys = 26.1%; girls = 14.6%) (OR = 2.06; 95% CI 1.502.83; p < 0.001). The prevalence of smoking was also associated with having smokers among their relatives, school failure and school grade. In secondary grade, students belonging to a science course were less likely to smoke. Having a girlfriend/boyfriend who smokes was associated with smoking. The prevalence of smoking among students with smokers among their relatives increased when they smoke near them (OR = 4.32; 95% CI 2.41-7.74; p < 0.001). Results indicated that at least 61% of the students are exposed to tobacco smoke by their relatives. Conclusion: Students with low academic performance and peer tobacco use seem to be more susceptible. Information about health and deleterious tobacco effects seem to protect adolescents from smoking. Parents’ behaviours and habits have an important impact in their children’s smoking behaviour. The majority of the students are second hand smokers. Further prevention programmes should include families and consider students’ social environment.<hr/>Objectivo: Avaliar a prevalência de hábitos tabágicos entre adolescentes e identificar factores sociais associados. Metodologia: Estudo transversal no ano de 2004 numa Escola com Terceiro Ciclo do Ensino Básico e Secundário (7.º ao 12.º anos, no ano lectivo 2003/2004) no norte de Portugal (n = 1005). O questionário auto aplicado contém itens relativos ao hábito tabágico, dados sociodemográficos, sucesso académico, hábitos tabágicos de familiares e amigos. Resultados: A prevalência de fumadores foi de 19,7% (rapazes, 26,1%; raparigas, 14,6%) (OR = 2,06; IC 95%: 1,50-2,83; p < 0,001). O hábito tabágico actual associou-se de forma significativa com o facto de o aluno possuir familiares fumadores, insucesso escolar e com o ano de escolaridade. Nos alunos do Ensino Secundário, pertencer ao agrupamento Científico-Natural diminuía o risco de eles fumarem. Ter um namorado fumador está associado ao facto de o adolescente fumar. No grupo de alunos com familiares fumadores o facto do familiar fumar junto do aluno aumenta o risco de ele fumar (OR = 4,32; IC 95%: 2,41-7,74; p < 0,001). Os resultados indicam que pelo menos 61% dos alunos estão expostos ao fumo do tabaco pelos seus familiares. Conclusão: Estudantes com baixo sucesso escolar e amigos fumadores apresentam maior susceptibilidade. A informação sobre saúde e efeitos nefastos do tabaco parece proteger o adolescente do hábito tabágico. Os hábitos e comportamentos dos familiares têm um forte impacto no comportamento face ao tabaco por parte do adolescente. A maioria dos estudantes é fumadora passiva. Programas e medidas de prevenção deveriam incluir a família do adolescente e a sua envolvência social. <![CDATA[<b>Preditores da intenção de adoptar comportamentos preventivos face ao HIV/SIDA em adolescentes portugueses</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-90252009000200004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Objectivo: Este estudo tem como objectivo investigar em que medida a teoria da acção planeada e o modelo crenças sobre a saúde podem predizer a intenção de adoptar comportamentos preventivos para o HIV/SIDA, em raparigas e rapazes adolescentes saudáveis. Método: Trata-se de um estudo transversal, em que participaram 546 adolescentes saudáveis (50% mulheres), que completaram um questionário que avaliou as crenças sobre o HIV/SIDA, e as características sócio-demográficas. Foram utilizadas análises de regressão linear. Resultados: Em geral os adolescentes apresentam uma baixa percepção de vulnerabilidade e risco de contrair o HIV/SIDA. Apresentam uma atitude positiva face a adopção de comportamentos preventivos, uma forte crença em relação à intenção de vir a adoptar comportamentos preventivos, percepção de controlo do comportamento, benefícios e pistas para a acção. Existem diferenças de sexo significativas nos preditores da intenção de vir a adoptar comportamentos preventivos. Conclusão: Apesar do seu carácter exploratório, as diferenças de sexo encontradas nos preditores da adopção de comportamentos preventivos têm efeito no processamento cognitivo da informação face ao SIDA e poderão ter implicações na adopção de comportamentos preventivos.<hr/>Aim: This study aims to investigate the extent to which the dimensions of the health belief model and the theory of planned behaviour are predictive of the adoption of preventive behaviours for AIDS in healthy teenagers. Method: Cross-sectional study in which 546 Portuguese healthy teenagers, (50% female), completed a questionnaire measuring individual beliefs about HIV/AIDS, and sociodemographic variables. Statistical analyses were performed using linear regression analysis. Results: In general, the perceived vulnerability and perceived risk to HIV/AIDS were low. There was a positive attitude towards the adoption of preventive behaviours, and strong beliefs concerning the intention of adopting preventive behaviours, perceived control over behaviour, benefits, and clues for action. There were significant gender differences in the predictors of intention to adopt preventive behaviours. Conclusion: Gender seems to have an effect in the way teenagers cognitively process information concerning AIDS, which may have implications for the adoption of preventive behaviours. <![CDATA[<b>Teste de dependência à nicotina</b>: <b>validação linguística e psicométrica do teste de Fagerström</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-90252009000200005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt O Teste de Fagerström para a Dependência da Nicotina tem uma utilização generalizada como medida da dependência tabágica. No entanto, a sua versão portuguesa nunca tinha sido sujeita a um processo de equivalência linguística e semântica nem a testes psicométricos de qualidade. Esse foi o objectivo do presente estudo. A adaptação cultural e linguística incluiu a utilização da técnica de tradução-retroversão, precedida de uma definição conceptual e seguida de testes piloto e de uma revisão final. Para validar a versão portuguesa obtida na fase anterior, foram recolhidas amostras compostas pelos fumadores que acorreram a consultas de Medicina no Trabalho e a consultas de Pneumologia e de Desabituação Tabágica, num total de 264 fumadores. A fiabilidade teste-reteste foi garantida por valores de correlação da escala original de 0,990 e das perguntas individuais de 0,975 a 1,000. O valor de alfa de Cronbach de coerência interna foi 0,660, valor baixo em relação aos valores padrão tradicionais, mas superior ao valor encontrado pelos autores e semelhante aos encontrados em outros estudos. O teste de validade de critério obteve bons resultados ao compararem-se os valores obtidos pela escala com algumas variáveis relacionadas com o hábito tabágico e com a própria auto-avaliação da dependência tabágica. A validade de construção através de análise factorial explicou 59% da variância e detectou dois factores referentes ao consumo de cigarros e ao fumo matinal. Em conclusão, algumas dúvidas persistem em relação à continuação da utilização do Teste de Fagerström para a Dependência Tabágica. Consideramos que os profissionais e os investigadores não devem confiar apenas nos resultados desta escala e devem incluir outras perguntas sobre a adição, não pertencentes à versão original.<hr/>The Fagerström Test for Nicotine Dependence has been widely used as a measure of tobacco dependence. However, its Portuguese version has never before been subjected to a validation process. This was the objective of the current study. The cultural and linguistic adaptation included the use of the forward-backward translation, after a conceptual definition followed by pilot tests and a final revision. To validate the Portuguese version obtained in the previous stage, samples were recruited among smokers who attended occupational medicine, pneumology and tobacco dependence consultations, in a total of 264 smokers. Test-retest reliability was guaranteed by correlation scores of 0.990 for the original scale and 0.975 to 1.000 for individual questions. Internal consistency Cronbach» alpha was 0.660, a low value regarding the traditional standards, but higher than the values found by the authors and similar to the ones found in other studies. Criterion validity test obtained good results when scores from the scale were compared with some variables related to tobacco habit and to the self assessment of the tobacco dependence. Construct validity through factorial analysis explained 59% of the variance and detected two factors corresponding to the cigarettes consumption and morning smoke. In conclusion, some doubts remain regarding the utilization of the Fagerström Test for Nicotine Dependence. We consider that professionals as well as researchers should not rely only on the outputs produced by this scale and should also include questions about addiction which are not included in the original version. <![CDATA[<b>Comportamento da população do concelho de Vizela no consumo de antibióticos</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-90252009000200006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Este estudo tem como objectivos determinar o nível de conhecimento no uso de antibióticos e identificar a influência de características, designadamente, pessoais, sociais, geográficas, económicas e contextuais na frequência de consumo destes medicamentos. Para atingir os objectivos foi levado a cabo um estudo descritivo e transversal que teve como base a construção de um questionário, que foi posteriormente aplicado a 282 indivíduos da população do Concelho de Vizela durante os meses de Janeiro e Fevereiro do ano de 2008. Através de uma análise descritiva dos dados fez-se a caracterização da amostra. Posteriormente, recorrendo à análise bivariada identificaram-se variáveis de natureza, pessoal, social, económica e contextual, que apresentam associações, estatisticamente significativas, com as variáveis «conhecimento do uso de antibióticos» e «frequência de consumo de antibióticos». Participaram neste estudo 282 indivíduos, dos quais 50,7% são do sexo masculino e 49,3% são do sexo feminino. Os inquiridos apresentam idade igual ou superior a 15 anos. A maioria dos respondentes é activo (76,6%), possui até ao 3.º ciclo de escolaridade (61,6%), e reside na cidade (73%). O tratamento de amigdalites é a principal razão para o consumo de antibióticos (37%). De acordo com os resultados não existe associação entre as variáveis de natureza, pessoal, geográfica, social e económica e o conhecimento do uso dos antibióticos. No entanto, o procedimento que o inquirido tem após ter sentido efeitos secundários reflecte-se no conhecimento que o mesmo tem na administração de antibióticos. O género masculino, o inactivo e os inquiridos com menor grau de escolaridade são aqueles que tomam antibióticos com mais frequência. A situação de doença, gripe ou constipação, também, tem influência no número de vezes que o inquirido toma antibióticos ao longo do ano.<hr/>To determine the level of antibiotics knowledge use and to identify the influence of characteristics, namely, personal, social, geographical, economics and contextual in the consumption frequency of these drugs are the objectives of this study. A cross-sectional survey was carried out in a probabilistic sample including 282 individuals of the Vizela’s region population during January and February 2008. A characterization of the sample through data descriptive analysis was carried out. Later, through a two variables analysis, the nature, personal, social, economic and contextual factors that presented statistic associations with the variables “antibiotics knowledge use” and “antibiotics consumption frequency” were identified. 282 individuals participated in this study, being 50,7% male and 49,3% female. Respondents are 15 years old or more. Most of those inquired are working (76,6%), have until the 3rd school degree (61,6%), and live in the city (73%). Tonsillitis’s treatment is the main reason for antibiotics consumption (37%). In agreement with the results there is no statistic association among the personal, social, geographical, economical and contextual characteristics, and the knowledge of antibiotics’ use. However, the procedure that the inquired adopts when he senses secondary effects reflects itself in the knowledge that he has about antibiotic administration. The masculine gender, the inactive and the respondents with less education are those that take antibiotics more frequently. A disease, flu or constipation has also an influence on the number of times that the inquired take antibiotics along the year. <![CDATA[<b>Alterações climáticas na Europa</b>: <b>efeito nas doenças parasitárias humanas</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-90252009000200007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt O clima da Terra não é constante e a sua variação natural obedece a ciclos relativamente bem definidos. O aumento anormal da temperatura que tem sido observado recentemente tem excedido largamente as variações climáticas naturais dos últimos 1000 anos. Segundo os estudos mais recentes, a origem do aquecimento global tem estado associada ao aumento da emissão de gases com efeito de estufa resultantes da actividade antropogénica. Para a Europa, estima-se que os principais impactes das alterações no sistema climático global sejam a continuação do aumento da temperatura, o aumento do nível do mar e o aumento da intensidade e frequência de fenómenos meteorológicos extremos, tais como tempestades, ondas de calor, cheias e secas. A compreensão dos principais impactes das alterações climáticas nos diversos sectores da sociedade, a médio e longo prazo, é fundamental para o desenvolvimento de medidas de adaptação que permitam ao Homem precaver-se e minimizar esses impactes. Dada a importância do tema para o sector da saúde humana, o presente trabalho teve como principal objectivo fazer uma revisão da literatura científica, com vista a determinar quais os impactes da mudança global do clima nas doenças parasitárias humanas na Europa. Ao nível da saúde, estima-se que os principais impactes resultem do aumento da ocorrência de fenómenos extremos com consequências na taxa da mortalidade, do aumento da poluição atmosférica e consequente aumento de doenças cardio-respiratórias e do aumento da incidência de doenças infecciosas, principalmente de doenças transmitidas pela água e por vectores. O presente trabalho concentrou-se nestas duas últimas, analisando em particular as doenças parasitárias que se estima que venham a sofrer um impacte climático mais significativo: Criptosporidiose, Malária e Leishmaniose. Na sequência de episódios de pluviosidade intensa e de cheias prevê-se que o risco de doenças transmitidas pela água aumente, principalmente por surtos de Criptosporidiose. Na Europa, no entanto, as boas condições de saneamento básico e de abastecimento público actuais indicam que este risco se mantenha reduzido. Estima-se, igualmente, que o risco de doenças transmitidas por vectores venha a aumentar na sequência quer da alteração da distribuição geográfica dos vectores, quer da extensão do período de época de transmissão. As maiores preocupações para a Europa estão focadas na potencial reintrodução de Malária na Europa de Leste, na introdução do vector do Dengue no Sul da Europa, nomeadamente em Portugal, no aumento do risco de infecções por Leishmania e no aumento do risco de infecções transmitidas por carraças, como a Encefalite e Doença de Lyme. A Malária, pela sua história de endemismo recente na Europa e pela sua reintrodução em alguns países da Europa de Leste, tem sido motivo de preocupação. Com as alterações climáticas, estima-se que aumente o risco de transmissão de Malária na Europa de Leste e os casos de Malária de «aeroporto» na Europa Ocidental. A Leishmaniose Visceral, por ser endémica em alguns países da bacia mediterrânica, e face ao aumento da temperatura global, corre o risco de vir a estender os limites actuais da distribuição do vector e da doença para o Norte da Europa. Para além destes factores, a situação pode ser agravada pelo facto da Leishmaniose ser uma infecção oportunista importante em doentes infectados pelo VIH. Relativamente ao impacte das alterações climáticas nas doenças parasitárias em Portugal, a literatura existente aponta para que, nos casos em que as doenças são endémicas, o principal factor de risco seja a temperatura e, para aquelas que não o são, seja a introdução de vectores infectados. O risco actual de ocorrer transmissão de Malária em Portugal é muito baixo, estimando-se que no futuro, a não ser que haja introdução focal de vectores infectados, o risco se mantenha baixo. No caso da Leishmaniose, o risco actual de ocorrer transmissão em Portugal é médio, prevendo-se, no futuro, que se torne elevado devido ao aumento do número de dias com condições favoráveis à sobrevivência dos seus vectores e à possível expansão da distribuição geográfica dos mesmos no país. Apesar dos avanços conseguidos com o protocolo de Quioto, em termos de redução das emissões de gases com efeito de estufa este será pouco eficaz em evitar o aumento da temperatura nos próximos 50 anos, e como tal, torna-se crucial que as populações procurem adaptar-se a fim de minimizar os efeitos negativos que daí possam advir para a saúde e sociedade.<hr/>The Earth’s climate is not constant and its natural changes obey to relatively well defined cycles. The abnormal increase that has recently been observed in temperature largely exceeds the natural climate changes from the last 1000 years. The most recent studies state that the causes of global warming are associated with the increase of anthropogenic emissions of greenhouse gases to the atmosphere. Future climate change scenarios indicate that the major impacts on Europe will be the increase of temperature, sea-level rise and higher frequency and intensity of extreme events, such as storms, heat waves, floods and droughts. In order to develop adaptation policies that allow an adequate prevention and minimize major climate change impacts it is fundamental to understand their impact on different sectors of society. Having in mind the importance to the human health sector, the aim of the present work was to review scientific literature in order to assess the impacts of climate change on human parasitic diseases in Europe. The main climate change impacts expected on health are associated with the occurrence of meteorological extreme events probably causing an increase of mortality, the intensification of air pollution with consequences on cardiorespiratory diseases, and the increase of infection diseases, especially water and vector-borne diseases. On the present work we focused on parasitic diseases that are estimated to suffer a more significant climate impact: Cryptosporidiosis, Malaria and Leishmaniasis. Following intense rainfall events and floods the risk of waterborne disease is estimated to increase mainly by Cryptosporidiosis outbreaks. Nevertheless, the good current sewage and public water supply conditions in Europe are expected to remain waterborne diseases at low risk. The risk of vectorborne diseases is also expected to increase due to vector geographic distribution changes and longer transmission seasons. The major concerns in Europe are focused on the potential re-introduction of Malaria on Eastern Europe, the introduction of Dengue vector on South of Europe, namely on Portugal, the increase of infection by Leishmania and on the increase of tick-borne diseases, like European Encephalite and Lyme disease. Due to a history of endemism and recent re-introduction in some Eastern Europe countries, Malaria is becoming a concern in Europe. It is expected that the Malaria risk of transmission increases on Eastern Europe and that «airport» Malaria cases increase on Western Europe. Due to current endemism situation of Visceral Leishmaniasis in the Mediterranean Region and global warming, the current limits of vector distribution and of the disease are expected to extend to North of Europe. Furthermore, this might be aggravated by the fact that Leishmaniasis is an opportunist infection among HIV patients. In Portugal it is estimated that air temperature will be the major determinant of endemic parasitic diseases whereas of non-endemic ones it will be the introduction of infected vectors. The current risk of Malaria transmission in Portugal is very low, and it is not expected to change in the near future, unless there would be a focal introduction of infected vectors. Leishmaniasis current risk of transmission in Portugal is medium. As both significant increase in days with favorable temperatures to vector survival and possible expansion of vector distribution in Portugal are expected, the risk of contracting Leishmaniasis may become higher in the country. Although the advances on reducing greenhouse gases emission achieved with Kyoto Protocol, this protocol will have low efficiency in avoiding the temperature increase of the next 50 years. Thus the development of adaptation policies to attenuate the negative impacts of climate change on human health is a major demand. <![CDATA[<b>Internamentos hospitalares associados à onda de calor de Agosto de 2003</b>: <b>evidências de associação entre morbilidade e ocorrência de calo</b>r]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-90252009000200008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Entre 28 de Julho e 15 de Agosto do ano de 2003, ocorreu em Portugal uma onda de calor muito intensa que afectou todos os distritos do Continente. O período com temperaturas muito elevadas durou dezanove (19) dias. O sistema de vigilância ÍCARO identificou a possibilidade da ocorrência de excesso de mortalidade associada ao calor, tendo a existência de efeitos relevantes sobre a mortalidade sido reconhecida posteriormente. Dadas as consequências adversas para a saúde resultantes das ondas de calor, afigurou-se como fundamental, determinar os seus efeitos face à morbilidade. Este estudo destinou-se a contribuir para uma melhor caracterização dos efeitos das ondas de calor na saúde humana, que se traduzem em internamentos hospitalares. O excesso de internamentos hospitalares durante o período de 28 de Julho a 15 de Agosto de 2003 foi obtido com base na análise das bases de dados dos GDH (Grupos de Diagnósticos Homogéneos) de 2001 a 2003. A estimativa global de excesso de internamentos hospitalares no período da onda de calor (POC) de 2003 situou-se nos 5%, o que representa uma estimativa de 2576 internamentos hospitalares a mais do que o esperado. Para os indivíduos com 75 ou mais anos, os internamentos hospitalares ocorridos em 2003 durante o período da ocorrência da onda de calor foram mais elevados, 28% e 25%, relativamente a 2001 e 2002. A estimativa de excesso situa-se nos 14%, o que representa um excesso de 1213 internamentos hospitalares a mais do que o esperado. Quando comparados o internamento hospitalar de 2003 com o de 2001/2002, o grupo de causas de internamento hospitalar que registou um maior aumento percentual durante a onda de calor foi o das Doenças do Aparelho Respiratório, seguido do grupo das Doenças das Glândulas Endócrinas, Nutrição e Metabolismo e do grupo das Doenças do Aparelho Genitourinário. Os resultados apresentados mostram evidência de que existe de facto um impacto da ocorrência de ondas de calor nos padrões de morbilidade, nomeadamente no número de internamentos hospitalares na população de Portugal continental em geral e na população mais idosa em particular (75 e mais anos). A onda de calor de Agosto de 2003 ocorreu no período em que o número de internamentos hospitalares está em regra no seu ponto mais baixo. O número estimado de internamentos adicionais associados ao calor distribuído por todos os hospitais não terá tido particular expressão em cada um deles. O excesso de internamentos estimado no grupo etário dos 75 ou mais anos representa pelo menos 45% de todo o excesso de internamentos (para toda população), num grupo etário que é apenas usualmente responsável por cerca de 15% dos internamentos.<hr/>Between 28 July and 15 August of 2003, occurred in Portugal a heat wave so intense that affected all districts of its mainland. The period with high temperatures lasted for nineteen (19) days. The Portuguese Heat Health Warning System (the ÍCARO surveillance system) identified the possibility of the occurrence of excess heat deaths, and the existence of significant effects on mortality was later recognized. Given the adverse health effects of heat waves, it seemed to be crucial to determine its effects also on morbidity. This study aimed to contribute to a better characterization of the effects of heat waves on human health, which result in hospital admissions. Excess hospital admissions during the period 28 July to 15 August 2003 was obtained based on the analysis of GDH groups databases (the Portuguese DRG database) from 2001 to 2003. The global estimated excess of hospital admissions during the heat wave in 2003 was 5%, representing an estimated 2576 hospital admission above the expected. For individuals aged 75 or more years, the hospital admissions that occurred in 2003 during the occurrence of heat wave were higher 28% and 25% relatively to 2001 and 2002, respectively. The estimated global surplus for this elder age group was 14%, which represents 1213 hospital admissions more than expected. When comparing the hospital admissions of 2003 with the 2001/2002 ones, the group of causes of hospital admissions that had a greater percentage increase during the heat wave was that of the diseases of the respiratory system, followed by the group of the endocrine, nutritional and metabolic diseases and immunity disorders and the group of the diseases of the genitourinary system. These results show evidence that there is indeed an impact heat occurrence in the patterns of morbidity, particularly in the number of hospital admissions in the population of Portugal Mainland in general and in the elder population in particular (75 years old and over). The 2003 heat wave occurred in the period (August) in which the number of hospital admissions is usually at its lowest values. Distributed by all hospitals, the estimated excess number of hospitalizations associated with the excessive heat has not had a particular expression in each hospital. The excess of hospital admissions estimated in the age group aged 75 years or more was at least 45% of all excess admissions (for all age’s population). In normal conditions, this age group is usually responsible for only about 15% of all hospital admissions. <![CDATA[<b><i>Estratégia Nacional para a Qualidade na Saúde</i></b>: <b>notas em torno do Despacho n.<sup>o</sup> 14 223/2009,  de 24 de Junho de 2009 da Ministra da Saúde</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-90252009000200009&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Entre 28 de Julho e 15 de Agosto do ano de 2003, ocorreu em Portugal uma onda de calor muito intensa que afectou todos os distritos do Continente. O período com temperaturas muito elevadas durou dezanove (19) dias. O sistema de vigilância ÍCARO identificou a possibilidade da ocorrência de excesso de mortalidade associada ao calor, tendo a existência de efeitos relevantes sobre a mortalidade sido reconhecida posteriormente. Dadas as consequências adversas para a saúde resultantes das ondas de calor, afigurou-se como fundamental, determinar os seus efeitos face à morbilidade. Este estudo destinou-se a contribuir para uma melhor caracterização dos efeitos das ondas de calor na saúde humana, que se traduzem em internamentos hospitalares. O excesso de internamentos hospitalares durante o período de 28 de Julho a 15 de Agosto de 2003 foi obtido com base na análise das bases de dados dos GDH (Grupos de Diagnósticos Homogéneos) de 2001 a 2003. A estimativa global de excesso de internamentos hospitalares no período da onda de calor (POC) de 2003 situou-se nos 5%, o que representa uma estimativa de 2576 internamentos hospitalares a mais do que o esperado. Para os indivíduos com 75 ou mais anos, os internamentos hospitalares ocorridos em 2003 durante o período da ocorrência da onda de calor foram mais elevados, 28% e 25%, relativamente a 2001 e 2002. A estimativa de excesso situa-se nos 14%, o que representa um excesso de 1213 internamentos hospitalares a mais do que o esperado. Quando comparados o internamento hospitalar de 2003 com o de 2001/2002, o grupo de causas de internamento hospitalar que registou um maior aumento percentual durante a onda de calor foi o das Doenças do Aparelho Respiratório, seguido do grupo das Doenças das Glândulas Endócrinas, Nutrição e Metabolismo e do grupo das Doenças do Aparelho Genitourinário. Os resultados apresentados mostram evidência de que existe de facto um impacto da ocorrência de ondas de calor nos padrões de morbilidade, nomeadamente no número de internamentos hospitalares na população de Portugal continental em geral e na população mais idosa em particular (75 e mais anos). A onda de calor de Agosto de 2003 ocorreu no período em que o número de internamentos hospitalares está em regra no seu ponto mais baixo. O número estimado de internamentos adicionais associados ao calor distribuído por todos os hospitais não terá tido particular expressão em cada um deles. O excesso de internamentos estimado no grupo etário dos 75 ou mais anos representa pelo menos 45% de todo o excesso de internamentos (para toda população), num grupo etário que é apenas usualmente responsável por cerca de 15% dos internamentos.<hr/>Between 28 July and 15 August of 2003, occurred in Portugal a heat wave so intense that affected all districts of its mainland. The period with high temperatures lasted for nineteen (19) days. The Portuguese Heat Health Warning System (the ÍCARO surveillance system) identified the possibility of the occurrence of excess heat deaths, and the existence of significant effects on mortality was later recognized. Given the adverse health effects of heat waves, it seemed to be crucial to determine its effects also on morbidity. This study aimed to contribute to a better characterization of the effects of heat waves on human health, which result in hospital admissions. Excess hospital admissions during the period 28 July to 15 August 2003 was obtained based on the analysis of GDH groups databases (the Portuguese DRG database) from 2001 to 2003. The global estimated excess of hospital admissions during the heat wave in 2003 was 5%, representing an estimated 2576 hospital admission above the expected. For individuals aged 75 or more years, the hospital admissions that occurred in 2003 during the occurrence of heat wave were higher 28% and 25% relatively to 2001 and 2002, respectively. The estimated global surplus for this elder age group was 14%, which represents 1213 hospital admissions more than expected. When comparing the hospital admissions of 2003 with the 2001/2002 ones, the group of causes of hospital admissions that had a greater percentage increase during the heat wave was that of the diseases of the respiratory system, followed by the group of the endocrine, nutritional and metabolic diseases and immunity disorders and the group of the diseases of the genitourinary system. These results show evidence that there is indeed an impact heat occurrence in the patterns of morbidity, particularly in the number of hospital admissions in the population of Portugal Mainland in general and in the elder population in particular (75 years old and over). The 2003 heat wave occurred in the period (August) in which the number of hospital admissions is usually at its lowest values. Distributed by all hospitals, the estimated excess number of hospitalizations associated with the excessive heat has not had a particular expression in each hospital. The excess of hospital admissions estimated in the age group aged 75 years or more was at least 45% of all excess admissions (for all age’s population). In normal conditions, this age group is usually responsible for only about 15% of all hospital admissions.